A nova classe média

Como naquela antiga canção de Chico Buarque, o amor de Alexsander de Souza Carvalho, 28 anos, e Fernanda, 24 anos, é muito bom, mas o horário é que nunca combina. Ele é funcionário, chefe da equipe de frentistas de um posto de gasolina, às voltas com inesperados plantões, e ela – que não é bailarina – trabalha como recepcionista num hospital. O casal tem um filho, Gustavo, de 1 ano. Alexsander também é pai de Gabriela, de 6 anos, de outro relacionamento.
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e percebi que comprar em São Paulo é bem mais fácil. Há concorrência entre as lojas e o preço abaixa. Lá era uma loja só e o preço, bem mais caro.” A família mora numa rua simples, em Barueri, município da Grande São Paulo. A casa, alugada, tem um quarto e uma cozinha espaçosa. Tudo muito arrumado. Na sala, sem sofá ou qualquer lugar para sentar, uma TV de 29 polegadas e um DVD. É lá que vai ficar o berço do caçula. Falta um fogão. E um microondas. “Mas não tínhamos nada quando casamos há cinco anos.” Ele não votou em Lula, mas até se arrepende. “Com qualquer político vai ter escândalo”, conforma-se. Ele também é evangélico e freqüenta a igreja. Trabalha praticamente todos os finais de semana, sai quase sempre com a mulher, mas não se importa se ela sair com as amigas. “Não sou de pegar no pé ou de ficar especulando.” Diz que é feliz, mas tem um grande desejo: estudar Medicina.

André de Jesus Ribeiro, 26 anos, dá aula de História numa escola estadual de ensino fundamental no Embu, na Grande São Paulo. Como a maioria dos professores de ensino público, encaixa-se na nova escala social. Ganha R$ 1.000 e mora com os irmãos, Adriano, de 22 anos, auxiliar de produção numa indústria, salário de R$ 500, e Ricardo, de 18 anos, que conclui o colegial e procura emprego. Eles perderam os pais. André corrige provas enquanto os mais novos assistem à TV. Ele acaba de pagar as parcelas de uma TV de 29 polegadas, do celular que comprou para o irmão, da geladeira e de um teclado. A aspiração é igual à da maioria: uma casa. André, talvez por sua condição de professor, investe em cultura. Reserva, quando consegue, até R$ 100 para livros, DVDs, teatro e cinema. Quando terminar a faculdade de História, quer continuar estudando, até o mestrado. Já foi músico. Tocava teclado em bandas de pagode e forró e talvez por isso esteja enjoado das baladas. A nova classe média se firma com os dois pés fincados no chão. Quem chegou lá quer ir mais longe. Bom para o País, bom para o comércio, bom para a indústria. A geração C talvez comprove, de uma vez por todas, que o Brasil é mesmo o País do futuro.


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