A nova empreitada dos Batista

Desenvolvimento – cerca de 2,5 mil funcionários vão trabalhar na fábrica, que chegou a empregar 12 mil pessoas durante as obras

Antes conhecida como capital do gado, a cidade de Três Lagoas, localizada na divisa do Mato Grosso do Sul com São Paulo, substituiu o epíteto no último dia 12 de dezembro. Passou a se autointitular rainha da celulose, com a inauguração da maior fábrica da commodity extraída do eucalipto do mundo, a Eldorado Brasil Celulose, com capacidade para produzir 1,5 milhão de toneladas do insumo ao ano em uma única linha. O empreendimento pertence à holding J&F, habituada a gerir negócios superlativos – é a controladora da JBS, líder global na área de proteína animal.

O investimento total atingiu R$ 6,2 bilhões, dos quais R$ 800 milhões vão ser empregados na construção da infraestrutura logística necessária para transportar a produção até o Porto de Santos. Serão utilizadas estradas, hidrovias e ferrovias. Outros R$ 900 milhões foram gastos na criação de uma gigantesca floresta de eucaliptos, necessária para garantir a principal matéria-prima da fábrica. Entre terras próprias, arrendadas e de terceiros no Mato Grosso do Sul, em São Paulo e em Minas Gerais, são 110 mil hectares de árvores, uma área que deverá ser ampliada para 160 mil hectares até 2014.

O projeto contou com financiamento de R$ 2,5 bilhões do BNDES e terá como acionistas a PREVI e a FUNCEF, os fundos de pensão dos funcionários do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, respectivamente.

Para processar o incrível volume de 6,8 mil toneladas de madeira a cada dia, a empresa precisou investir em equipamentos, como a maior caldeira do gênero em operação no mundo, com mais de 80 m de altura e uma fornalha de 293 m2. A produção em 2012 – a fábrica entrou em operação na segunda metade de novembro – foi de apenas 170 mil toneladas de celulose, vendidas no mercado nacional. A partir de 2013, porém, quase toda a celulose será exportada e o faturamento da empresa deverá superar R$ 1 bilhão.

Construída em dois anos – prazo recorde para um empreendimento desse porte – e com uma economia de 10% sobre o orçamento original, a fábrica faz parte de um ambicioso projeto que inclui outras duas plantas de mesmo tamanho, o que poderá deixar a Eldorado na segunda posição entre as maiores produtoras mundiais de celulose branqueada de eucalipto, atrás apenas da também brasileira Fibria. A segunda fábrica deverá ser inaugurada até 2017 e a terceira está prevista para 2020. Com alguns ajustes, a capacidade de cada linha poderá ser ampliada para 1,7 milhão de toneladas por ano, o que garantiria ao grupo um potencial de produção de cinco milhões de toneladas de celulose ao ano até 2021.

O investimento necessário para a entrada em operação das outras duas linhas de produção deverá chegar a R$ 13 bilhões. A precisão no cumprimento dos prazos do projeto poderá fazer toda a diferença para o grupo no disputado mercado internacional de celulose, que cresce em um ritmo médio de um milhão de toneladas ao ano. Ao entrar em operação na frente de outros empreendimentos, a Eldorado aumenta as chances de garantir compradores, entre os grandes fabricantes mundiais de papel, para sua produção.

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Para dirigir a companhia, a J&F contratou José Carlos Grubisich, ex-presidente da petroquímica Braskem e da ETH Bioenergia, braço da Odebrecht no setor sucroalcooleiro. “Temos orgulho de ser um projeto estruturante do ponto de vista regional e nacional, que contribui para a modernização da infraestrutura de logística, de energia elétrica, mas que traz também um impacto direto na vida das pessoas por meio da melhoria da infraestrutura social”, declarou o executivo. No primeiro estágio de operações, a fábrica vai empregar 2,5 mil funcionários. No auge das obras, esse número chegou a 12 mil pessoas, entre empregados diretos e terceirizados.

Segundo Grubisich, a empresa será autossuficiente do ponto de vista energético. A queima de resíduos de madeira vai movimentar um gerador capaz de produzir 220 MW de eletricidade, energia suficiente para abastecer cidades do porte de Curitiba (PR) ou Campinas (SP). Como a fábrica só utilizará 100 MW, os 120 MW excedentes poderão ser comercializados.

“A Eldorado é mais um investimento que estamos concluindo de forma exemplar. Há três, quatro anos era difícil acreditar que seria possível uma empresa nova no setor já largar com a maior fábrica de celulose”, afirmou o presidente do Conselho de Administração da Eldorado Brasil Celulose e da J&F Investimentos, Joesley Batista. “Nosso propósito tem sido investir em setores em que a gente acredita, juntar gente como a gente, que gosta de trabalho duro e não acredita em atalhos.”

A cerimônia de inauguração da fábrica fez jus à magnitude do projeto. Uma tenda refrigerada foi erguida ao lado da planta para abrigar os cerca de mil convidados, que assistiram a um show do tenor Andrea Bocelli, acompanhado pela Orquestra Filarmônica de São Paulo. Na ocasião, participaram do ato o vice-presidente da República, Michel Temer, a ministra da Cultura, Marta Suplicy, e o governador do Mato Grosso do Sul, André Puccinelli.

O presidente da Eldorado Celulose, José Grubisich, e o fundador do grupo JBS, José Batista Sobrinho, mais conhecido como Zé Mineiro, receberam da Assembleia Legislativa do Estado o título de cidadãos sul-mato-grossenses. Criado em Brasília há 59 anos, o grupo tem hoje 140 unidades em todo o mundo e 120 mil funcionários. “O Brasil deve muito ao Zé Mineiro e à família Batista. Mais de 50 empresas no Brasil e no exterior revelam a capacidade extraordinária do nosso País e a confiança do grupo. Este será o Eldorado brasileiro”, afirmou Temer.


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