Próximo de completar 70 anos (em 12 de março de 2012), o cantor, compositor e guitarrista norte-americano Lou Reed ainda consegue causar furor nos amantes da música. Que o diga o burburinho na noite de sexta-feira (19), na Livraria Cultura da Companhia das Letras, no Conjunto Nacional, em São Paulo. Presença confirmada na última Feira Literária de Paraty (FLIP), em agosto, para lançar o livro Atravessar o Fogo, 310 Letras de Lou Reed (Companhia das Letras), Reed não pôde comparecer, deixando uma legião de fãs decepcionada. Então, havia uma expectativa muito grande com a sua vinda, o que se confirmou finalmente ontem. Os aficionados começaram a chegar à porta da Livraria Cultura às 7 horas da manhã. As senhas começaram a ser distribuídas às 9 horas e em menos de meia hora já tinham acabado (segundo a assessoria da Companhia das Letras, foram distribuídas 250 senhas). Lou Reed começou a autografar seu livro às 19 horas (estava programado para 18 horas).A reportagem do site da Brasileiros estava lá esperando, junto com os fãs, a chegada de um dos maiores ícones da música internacional. Algumas pessoas, mais jovens, ficaram surpresas quando aquele senhor de óculos, com uma camiseta preta e uma espécie de macacão, chegou caminhando lentamente para dentro da livraria. Ele se sentou na cadeira e os primeiros fãs puderam entrar para pegar o tão aguardado autógrafo e, claro, poder chegar próximo da lenda viva, que soube traduzir como poucos as inquietudes e mutações das ruas das grandes cidades, como a sua Nova York.
Muitos fãs não estavam somente com o livro para ser autografado. Traziam também discos de vinil, capinhas de CDs, camisetas, cadernos, fotos do artista e outros objetos. Valia qualquer tentativa para ter o nome impresso do artista (eu, que não sou besta, peguei o meu autógrafo também!). O artista pediu para que o nome das pessoas não fosse colocado dentro do livro, pois ele iria apenas autografar a sua assinatura. No entanto, observamos que alguns sortudos (melhor dizendo, sortudas) tiveram o privilégio de verem seus nomes escritos pelo próprio artista, além claro, da assinatura. Falamos com uma dessas moças e ela disse que Reed perguntou seu nome e disse que ela era muito bonita e simpática (não é demais falar que Lou Reed é casado, e bem casado, com a artista norte-americana Laurie Anderson)
“Vou ser teu espelho”
No prefácio de seu livro, Lou Reed diz: “Tentei permanecer fiel a todas as minhas canções”, em uma alusão a sua maneira peculiar de criar músicas e cantar o rock’n’roll e o blues, seus gêneros prediletos. Falando em predileções, o cantor é admirador do escritor Edgar Allan Poe, e inclusive fez algumas canções em homenagem ao “Corvo das Letras”. O mundo sombrio e taciturno do “Velho Poe” está presente nas letras de muitas músicas de Reed, que disse em diversas entrevistas que não tinha um entendimento profundo de suas criações. “E certas vezes, escrever significou seguir o ritmo e o som e inventar palavra sem sentido algum além da sensação que transmitiam”, revelou no prefácio do livro.
Ao que parece, essas inquietações do “Velho Reed”, colhidas nas ruas de sua Nova York e nas grandes cidades em que esteve, cooptaram não somente os seus primeiros fãs, quando ele iniciou a carreira, ao lado da banda The Velvet Underground, em 1967, mas chegaram até aos corações da nova geração do século XXI. Ele, que revelou que “Queria encenar uma canção. Queria escrever a peça com a música do meu coração”, há muito tempo conseguiu atingir esse intuito, mas conseguiu chegar aos corações de várias gerações, como a atual. Jovens que eram maioria ontem à noite, em uma celebração das diferenças e inquietações que cada um de nós carrega, seja aqui ou no bairro do Brooklin, berço desse poeta das pessoas que perambulam pelas ruas das grandes cidades. “Vou ser teu espelho, vou te refletir/Caso você não saiba quem é/Vou ser o vento, a chuva e o pôr do sol/A luz à tua porta/Pra mostrar que você está em casa”, como diz o trecho inicial da música I´ll be your mirror (“Vou ser teu espelho”), que sintetiza muito bem os sentimentos dos milhares de fãs, de ontem e de hoje, do “Velho” Lou Reed.
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