Se você é mulher, brasileira, a partir dos 30 anos e tem amigas generosas, provavelmente já ganhou ou vai ganhar um creme, um sabonete, um xampu, algum presentinho da L’Occitane. É o mimo que toda mulher adora dar e receber. E, certamente, se hoje você, sua amiga e milhares de brasileiras conhecem e têm acesso à marca de cosméticos francesa, isso se deve a uma mulher: Anna Chaia. presidente da empresa desde 2009, ela é a responsável pela expansão da marca no Brasil e pelo crescimento do faturamento. Atualmente, são 80 lojas em 24 estados, 150 pontos de venda e dois spas – um deles, o de São Paulo, foi o primeiro da história da L’Occitane, que nasceu em 1976 na Provença (sul da França).
Não é a primeira vez que Anna está no comando de uma empresa. Poucos anos atrás, quando tinha só 38, presidiu a Swarovski, marca de cristais austríaca, no Brasil, onde aumentou em 40% sua receita. Precoce desde a adolescência – concluiu o Ensino Médio aos 16 anos –, Anna orgulha-se de ter chegado onde está por méritos próprios. “Nunca tive costas quentes, quem me indicou”, afirma. “Tive a oportunidade de contribuir para as empresas pelas quais passei. Meu trabalho é muito voltado para resultados. E uma boa gestão é feita de resultados duradouros.”
Filha de uma dona de casa e um militar, Anna nasceu em Santos, Litoral paulista, e começou a trabalhar cedo, aos 14 anos, como vendedora de loja. Mudou-se para São Paulo para fazer faculdade – Marketing, na concorrida ESPM –, e logo conseguiu um estágio, em sua área, na American Express. Ao se formar, mesmo já com experiência, inscreveu-se no programa de trainee da Unilever. “Às vezes, é preciso dar um passo para trás para dar dois à frente”, acredita. Lá, sua carreira deslanchou. Em seguida, trabalhou na Natura e depois na Whirlpool, onde foi vice-presidente de marketing. “Na hora de mudar de trabalho, tomo decisões extremamente racionais, faço até tabela”, diz.
Ao longo dessa trajetória, houve um momento que Anna decidiu parar. Era 2006 e ela estava com um filho de 3 anos. “Tirei um sabático de um ano para ficar mais perto dele.” Isso não significou ficar improdutiva. Com Lucas, inaugurou um novo projeto: criar um roteiro de como se divertir em Paris com uma criança. “Saí daqui com tudo agendado, contatei todos os museus e lá já era recebida por uma relações públicas. Eu e o Lucas nos divertíamos e, de alguma forma, eu estava trabalhando.” A experiência rendeu o livro Paris com as Crianças (Publifolha) e a inspirou a fazer mais um, Descobrindo Nova York com as Crianças (Editora Matrix).
Com outro do mesmo estilo ainda na gaveta, sobre Madri e Barcelona, Anna revela em suas obras formas lúdicas e originais de explorar lugares incomuns ao lado de crianças. Por exemplo, o Metropolitan Museum de Nova York. “Não adianta levar a criança para a área do Delacroix, mas você pode criar um quiz em que mostra a menor e a maior peça preciosa do museu. Outras áreas de interesse podem ser a das armaduras, a das múmias.”
Hoje, Lucas está com 9 anos e pegou gosto por viajar. Já conhece 32 países, entre eles Japão, África do Sul e Egito – a mãe já passou por mais de 50. Desde que voltou do sabático, ela divide as férias em dois períodos de 15 dias ou três de 10 e, em cada um deles, escolhe um destino diferente para desbravar, com toda a família – ela é casada com o presidente da Nextel, Sergio Chaia. “Acho que herdei isso dos meus pais. Viajava muito de carro pelo Brasil com eles, aquelas viagens longas. São minhas melhores memórias de infância. E cheguei a morar em diferentes lugares do País, como Rio, Ribeirão Preto e São Borja, por causa da carreira do meu pai.”
Também com o pai, que teve aulas com João Gilberto, aprendeu a tocar violão, hoje, um de seus passatempos favoritos. “Gosto de tocar bossa nova e MPB.” Música, inclusive, é o que ela costuma consumir em suas jornadas. “Trago CDs dos locais que visito. Trouxe canções maravilhosas do Japão, lembram nossa bossa nova.” Ainda na seara artística, é fã de cinema – de Godard às produções hollywoodianas – e de literatura. Embora recentemente tenha mergulhado no universo da matemática e da mitologia nórdica para poder estudar com o filho. “Ele está aprendendo isso na escola…”
Mesmo em casa, Anna nunca se desliga da vida profissional. “O que é ser workaholic? Estou na L’Occitane de corpo e alma. Se, no fim de semana, eu leio uma revista e vejo algo que tem a ver com a empresa, recorto. Acho que é preciso integrar a vida pessoal e a profissional. E, para seu discurso ser verdadeiro, tem de acreditar no que faz.”
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