A repulsa de Roman Polanski


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Sobre menina e lobo
O escritor e fabulador Monteiro Lobato disse certa vez que preferia admirar seus ídolos à distância, pois tinha medo de conhecê-los pessoalmente e se decepcionar com o homem por trás do ídolo. Desde o dia 26 de setembro, quando desembarcou na Suíça para participar de um festival de cinema, o diretor Roman Polanski encontra-se preso em Zurique. Polansky foi detido por causa de um processo que a justiça dos Estados Unidos move contra ele, decorrente de uma acusação de abuso sexual contra uma jovem de 13 anos, em 1977. Noticiários à parte, o que gostaríamos de comentar é sobre o documentário Roman Polanski, de Alê Primo, um jornalista brasileiro que entrevistou o diretor em 2004, quando Polansky visitou o Brasil. A longa entrevista com o cineasta de clássicos do cinema mundial, como Repulsa ao Sexo, A Dança dos Vampiros, O Bebê de Rosemary, Chinatown, Tess e O Pianista, é intercalada com trechos de quase todos os filmes, incluindo os curtas-metragens. Há deliciosas histórias sobre Polanski, contadas por personalidades brasileiras como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Cacá Diegues e Ugo Giorgetti. No documentário, o cineasta fala sobre seus filmes, sobre algumas histórias de sua vida particular, sem se furtar em comentar sobre o episódio do assassinato brutal de sua esposa, Sharon Tate, que estava grávida e foi morta pelo serial killer Charles Manson. Venha viver uma “Lua de Fel” com o homem e o cineasta.

Roman Polanski, de de Alê Primo
Cinemateca – Sala BNDES. Dia 31, às 19h50
Consulte outros dias e horários no site oficial da Mostra, abaixo


Pessoas monolíticas
É comum dizer que os alemães demonstram uma certa frieza e que dificilmente revelam seus sentimentos. Mas há, claro, exageros nesse tipo de opinião e no mundo de hoje, em qualquer lugar dessa “aldeia global”, o isolamento e a falta de comunicação não tem mais nacionalidade e nem geografia. O filme O Bloco dos Desesperados, de Tomasz Emil Rudnik, fala da dificuldades de três estudantes estrangeiros em se adaptarem e se comunicarem com os vizinhos de um edifício (enormes blocos de apartamentos) em Munique, na Alemanha. O diretor morou em um desses apartamentos. Nesses três dramas de existência e desistência da vida, o diretor nos faz refletir sobre a falta de comunicação entre as pessoas, sejam elas locais ou estrangeiras.

O Bloco dos desesperados, de Tomasz Emil Rudzik
Cinemateca – Sala Petrobras. Dia 31, às 17h
Consulte outros dias e horários no site oficial da Mostra, abaixo


Ser mágico
O novo filme de François Ozon, Ricky, fala de vidas cotidianas que são modificadas com algum acontecimento, nesse caso, o nascimento de uma criança “especial”, o Ricky do título. Para contar pouco e não estragar a surpresa do filme, o nascimento da criança irá modificar a vida de Katie, mãe solteira de um filho, que busca uma vida com mais significado ao lado do seu segundo marido. Ozon conduz essa história com vigor e simplicidade e nos traz um filme em estado de graça.

Ricky, de François Ozon
Cinesesc. Dia 1º, às 17h40
Consulte outros dias e horários no site oficial da Mostra, abaixo


Deu no New York Times
Durante a coletiva de imprensa da Mostra deste ano, um jornalista perguntou para Leon Cakoff se ele concordava com a perda de poder dos críticos de cinema com os leitores. Uma matéria na revista francesa Cahiers du Cinema que abordava o assunto havia sido publicada pouco tempo atrás. Ele disse que sempre a crítica teria a sua importância, mas que cada vez mais ela seria relativa, dada a profusão de mídias que as pessoas têm acesso hoje. Discussões à parte, o site da Brasileiros atestou que o crítico ainda exerce poder sobre as pessoas no momento em que elas decidem ir ao cinema (no caso dos frequentadores da Mostra, isso ainda acontece). Estávamos no Shopping Frei Caneca, na fila que iria assistir ao filme Independência, de Raya Martin (havia saído uma matéria do jornalista Luiz Carlos Merten no Estadão que colocava o filme de Raya como um dos melhores da seleção da Mostra deste ano, senão o melhor). Começamos a entrevistar as pessoas que esperavam para ver o filme e das trinta e cinco que falamos, vinte e oito estavam ali porque leram a matéria de Merten e ficaram curiosas para ver Independência.


Ubiratan Brasil (Crítico de cinema e literatura e editor assistente do Caderno 2, do jornal O Estado de S. Paulo)

Brasileiros – Você frequenta a Mostra desde a 4ª edição. O que mudou daquele tempo para cá?
Ubiratan Brasil –
A Mostra cresceu, obviamente, e se tornou algoz de si mesma: criou um público interessado em outras cinematografias que não só a americana e, com isso, incentivou as distribuidoras a trazerem esses filmes pra cá. Ou seja, a Mostra deixou de ser o único canal que tínhamos, por exemplo, para ver filmes, do Irã ou da Coréia [do Sul]. Mas isso tem de ser considerado um mérito, pois elevou o nível de uma parcela do público de cinema de São Paulo.

Brasileiros – O que está achando da Mostra deste ano. Quais os pontos positivos em relação aos outros anos? Alguma coisa piorou?
Ubiratan Brasil –
Positivos têm sido os debates com diretores e realizadores que acontecem após algumas sessões. Mesmo curtos (meia hora no máximo), servem para uma estimulante troca de ideias. Negativo: a impossibilidade de quem tem permanente de trocar ingresso antecipado. Isso fere o Código do Consumidor, pois ninguém é obrigado a consumir algo que não julga adequado.

Brasileiros – Do que você assistiu até agora, o que você indicaria para o público?
Ubiratan Brasil –
A Ressurreição de Adam [filme americano do diretor Paul Schrader], o melhor filme pra mim até agora, uma alegoria da perda; Metropia [do diretor Jens Johsson], uma animação sueca bem feita e bem escrita; O Que Resta do Tempo, belíssimo e coloridíssimo retrato familiar de Elia Suleiman sobre sua família; Uma Solução Racional [filme sueco do diretor Jörgen Bergmark], que discute a traição em alto nível.

Brasileiros –Qual a melhor lembrança que você tem da Mostra?
Ubiratan Brasil – Ter contato direto com atores, produtores, diretores. Como jornalista ou como mero cinéfilo. Conheci [Quentin] Tarantino quando ainda não era famoso. Falei com Wim Wenders e Theo Angelopoulos, que acrescentaram muito sobre o que sei de cinema, participei da coletiva do russo [Aleksandr] Sokurov, que apresentou uma incrível visão da vida a partir do cinema. O contato com artistas de outros países é algo incomparável.

SITE OFICIAL DA MOSTRA
www.mostra.org
TWITTER DA MOSTRA
www.twitter.com/MOSTRASP


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