A sede da subprefeitura da Lapa é um ex-abatedouro de bovinos. Atrás da porta com a placa “Sonia Francine, subprefeita” há uma sala com três mesas, o seu modesto gabinete. É onde me recebe. Ela já foi, até há pouco tempo, um modelo de política. Acima de qualquer crítica. Uma Suplicy de saias. Mas, depois de trocar o PT pelo PPS e agora trabalhar no governo Kassab, começaram a chover canivetes. Mostro a ela cópias das críticas mais recentes publicadas no seu blog cujo logotipo é a foto de uma menina.

Brasileiros – É você pequenininha ali né?
Sonia Francine – É. Sou eu no pré. Tinha quatro anos.

Brasileiros – Quatro anos?
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S.F. – É, sou eu sem dente.

Brasileiros – Primeira aluna da classe?
S.F. – Eu era. Não em comportamento.

Brasileiros – Em quê, em matérias?
S.F. – Em notas.

Brasileiros – Português, matemática…?
S.F. – Todas, todas. Era uma complicação para as freiras porque eu era a maior maloqueira e ia mó bem. Ainda fiquei grávida no terceiro colegial.

Brasileiros – Nas freiras ainda?
S.F. – É. E como eu fazia todas as tarefas direitinho, as freiras me tratavam bem. Eu tive alguns conflitos com as freiras, mas não era por indisciplina minha nada, era por agitação política mesmo. Eram umas freiras supercabeça, abertas em várias coisas.

Brasileiros – Qual era o colégio?
S.F. – Colégio Santana lá na zona norte. E elas eram muito libertárias. Bom, elas eram da Teologia da Libertação, aquela que o Ratzinger (Joseph Ratzinger, Papa Bento XVI) mandou excomungar do mundo depois. Elas eram super de esquerda. Isso foi em 1980, 1979, a gente estudava reforma agrária em plena ditadura. Elas eram muito liberais. Claro, era o que elas aprovavam, o que a Igreja aprovava, mas davam aula de método anticoncepcional pra gente. E até hoje o Papa não admite que o sexo seja para fins de prazer. Eu estudei no colégio e as freiras ensinavam a contar os dias férteis, identificar os dias férteis.

Brasileiros – E como é que elas reagiram quando você contou da gravidez?
S.F. – Puta, foi a maior decepção, porque elas deram tanta informação… e eu era uma boa aluna, sabe? Ficou aquilo: “O que mais a gente faz com uma menina pra ela não engravidar? Temos essa criatura, super boa aluna, super bem-informada, liderança, aí ela vai e engravida…”. E eu era atleta das seleções do colégio. Seleção de basquete eu estava, seleção de vôlei, esporte sempre é um fator de magnetismo. Então eu era ídolo no colégio porque eu jogava superbem, me matava e tal, então no último ano… Eu engravidei no terceiro colegial e naquele ano ia haver pela primeira vez a olimpíada do Colégio Santana e eu era a atleta escalada pra fazer o juramento do atleta na primeira olimpíada. Juro competir com lealdade e não sei o quê… A professora de educação física manteve, eu já estava de três meses, já estava quadrada assim e ela manteve, ela não me desconvidou. Quando eu subi em cima da caixa d’água pra fazer o juramento do atleta, eu só vi uma freira com a mão na cabeça assim saindo correndo lá de trás… “O que você está fazendo? Esse é um exemplo?…”. Foram alguns conflitos assim, mas elas não me mandaram sair do colégio. Em outros casos em que meninas tinham engravidado, as meninas saíram porque a família tirou e escondeu. Mandaram para o interior e depois disseram que era adotado, sabe? Mas que jamais elas expulsariam uma aluna por causa disso. Então eu terminei o colegial em um colégio de freiras grávida de sete meses. Isso foi em 1993.

Brasileiros – E o menino não era do colégio porque lá era de freiras…
S.F. – Não, lá era só mulher, só mulher. Naquele tempo era só mulher, agora ficou misto.

Brasileiros – Ah! Hoje o mesmo colégio de freiras tem os dois?
S.F. – Ah! Hoje já mudou muito, já descaracterizou muito do que era. Antes o que ele era assim de engajado, hoje virou orientado para vestibular, desempenho desse tipo assim, era muito mais do que isso. E o pai da Rachel, que é minha primeira filha, era bem mais velho que eu, hoje é ridículo, mas quando eu tinha 14, ele tinha 21.

Brasileiros – Praticamente um ancião…
S.F. – Era muuuuuito mais velho, ele já tinha ido pro Exército e voltado. Ele serviu em Brasília, imagina. Foi um trauma na vida dele, um puta músico, cabeludo, roqueiro, pegou um ano de cavalaria, teve de cortar o cabelo, os caras eram sádicos. E aí quando ele voltou, dali um tempo a gente se conheceu, começamos a namorar e depois de um ano e meio de namoro eu engravidei – eu já tinha 15 e ele 22.

Brasileiros – Você parece irmã da sua filha.
S.F. – Acho que sim, é o que todo mundo diz. Mas foi isso assim. Nem sei como eu fui parar nisso… Você estava perguntando se eu era boa aluna, né? Eu era. No ponto de rendimento, aproveitamento, eu era ótima, mas eu era…, então, lembrei porque eu comecei a contar isso tudo, porque as freiras eram superlibertárias, de ensinar métodos contraceptivos e discutir reforma agrária. Mas elas, por exemplo, mandavam a aluna de volta pra casa se estivesse com o tênis da cor errada! Eram super-rigorosas com uniforme, e o uniforme incluía o tênis que só podia ser inteiro azul-marinho. Se fosse azul-marinho e branco, as freiras mandavam a aluna de volta pra casa e eu ficava possessa, por mais que as pessoas sejam críticas, esclarecidas…, as freiras nunca usaram hábito, eram freiras que se vestiam à paisana… Como elas podiam achar que era mais importante a listra do tênis do que um dia inteiro de aula? A mesma coisa 30 segundos de atraso, não havia nenhuma tolerância para atraso. Era assim sadismo. A mulher ficava na porta e se você viesse correndo dali, terminou de bater o sinal, ela batia a porta na sua cara. Então eu ficava tão doida com essas intolerâncias, a gente organizava uns movimentos, eu era do centro cívico e tal, então nesse ponto que eu dava mais trabalho para as freiras assim e era maloqueira mesmo, meus cadernos eram todos bagunçados.

Brasileiros – Ah é? Você não tinha cadernos bonitinhos?
S.F. – Não. Eu conseguia conversar e prestar atenção ao mesmo tempo, então era comum assim a professora me testar… “Sonia, o que eu acabei de falar agora?” Que o binômio… Eu sabia direitinho… era uma merda (risos). As professoras mais espertas já não tentavam me pegar desprevenida.

Brasileiros – E vem cá, esse tempo de colégio te influenciou?
S.F. – Muito, muito, muito. As freiras e minha mãe, que estudou no mesmo colégio, aliás. Minha mãe assim é um bom lembrete pra mim de como a gente é quando enquadra as pessoas num perfil. Porque se você olha pra minha mãe, você diz que ela era uma alienada, porque ela nunca foi em uma passeata sabe, ela nunca pegou um cartaz ou…, nada disso. Ela dava aula de inglês na Cultura Inglesa, o pai era dono de uma padaria em Santana, vida totalmente classe média… um financiamento da Caixa Econômica, dona de casa, professora de classe média e tal… Mas ela era superengajada, em casa, na nossa educação. Minha mãe me ensinou a vida inteira que era tudo mentira aquilo que os militares estavam falando, era tudo mentira. Eu me lembro dela furiosa em casa vendo televisão, lendo jornal e falando: “Que absurdo, estão falando que o Herzog se matou, filhas da puta! Que absurdo, que mentira, desgraçados, eles torturaram”. E eu: “Mãe, o que é torturaram?”. Ela quebrava altos paus com meus avós, meus tios, mais conservadores: “Que absurdo, como vocês acreditam nessas mentiras?” – porque eles compravam todas as versões oficiais.

Brasileiros – Ela te teve nova também?
S.F. – Sim. Quando ela tinha 20… Ela insistia muito em criação igual para os meninos e para as meninas, ela perdia tempo discutindo com minha avó na mesa do jantar… sabe aquelas coisas? Família portuguesa… não sei a troco de quê, ela vinha dizer que os dois filhos dela, eu e meu irmão mais novo, teríamos o mesmo direito à vida sexual.

Brasileiros – Ela falava isso na mesa?
S.F. – Falava, falava. Ela dizia que a menina casa virgem e o menino levam na zona. “Não, meu filho vai transar com as namoradas”. Porque era alguma piadinha besta que o meu avô criou… “Está bonito, hein? Já está virando homem. Qualquer dia vamos passear lá no morro não sei das quantas”. E aí minha mãe falava, putz eu lembro da cena: “Não senhor, meu filho não vai pra zona, meu filho vai transar…”, sei lá qual era a palavra, “com a namorada”. Aí meu tio: “Falta você combinar com a família da namorada, né? E se fosse sua filha, você ia gostar se transasse com o namorado?”. “E por que não? E por que o menino pode?” Aí saía meu avô passando mal da mesa, aquelas coisas.

Brasileiros – Você ficou marcada por andar de moto, de Vespa, bicicleta. Você se dá bem com os colegas motoqueiros?
S.F. – Às vezes eles irritam, por exemplo, quando eu quero ir prudentemente no corredor e eles querem me empurrar, passar por cima… Tem lugar que eu aprendi a evitar, como a Rebouças, não desça a Rebouças.

Brasileiros – Por que a Rebouças…?
S.F. – Porque a Rebouças é superapertada, supercongestionada sempre, e os motoqueiros são insanos. Em outros lugares, vamos dizer, no Minhocão, por exemplo, o espaço entre as duas pistas é mais tranquilo pra você ir um pouco mais rápido se for o caso e dá pra sair e dar passagem para o motoqueiro. Na 23 de Maio já não é tanto, na Rebouças não tem como você sair e dar passagem porque é tudo muito apertado. Então é um stress o cara atrás de você acelerando, te pressionando e te fazendo ir mais rápido, não fazendo, mas te instigando a ir mais rápido do que você sabe que tem que ir, entendeu? Então eu não desço a Rebouças, eu não…, putz, na Câmara, eu trabalhei na boca da 23 (Avenida 23 de Maio), às vezes eu tinha compromisso, sei lá, no Ibirapuera ou em Congonhas e era uma tentação. Toda vez que eu ia eu falava: “Puta, que idiota. Nunca mais eu venho por aqui”. Porque não vale a pena, o nervoso que você passa.

Brasileiros – Quem atrapalha mais você, as outras motos ou os carros?
S.F. – Olha, é assim, por exemplo, mulher à frente e homem atrás. Mulher é porque é distraída, avoada, homem porque é agressivo. Estou generalizando textualmente assim. Mas você identifica, você começa a reparar, sabe? Homem não dá seta porque acha que foda-se, não tem que dar seta, o cara de trás que veja pra onde eu estou indo. Mulher não dá seta porque nem lhe ocorreu, sabe assim? Está olhando, era ali mesmo o número que eu ia? Para…, ah era ali que eu queria parar, sabe? Kombi é um inferno porque tapa a visibilidade pra caramba, vidro fumê é uma merda porque você não enxerga nem os olhos do motorista, quer dizer, você não sabe se ele está te vendo e nem os carros à frente, o que é uma coisa superimportante pra você. Então vidro fumê você não vê, dois carros pro lado você não vê, dois carros pra frente você não vê. Taxista é muito agressivo, joga o carro em cima, fica com muito ódio. Ônibus é superagressivo, pedestre é superavoado e os motoqueiros quando vêm atrás de você são problema. Carro é uma ameaça sempre. Carro estacionado é uma ameaça porque o cara vai sair da vaga sem olhar, sem dar seta. O carro lá na pista da direita é uma ameaça. Motoqueiro só dá problema no corredor atrás de você, de resto, muito pelo contrário, é aquela megassolidariedade.

Brasileiros – Você conta, praticamente, o seu dia a dia no seu blog. Legal isso. Aqui você contou de um passeio ao Conjunto Nacional, e te deu vontade de comprar camiseta…
S.F. – Eu não preciso de mais camiseta, mas se eu não estivesse tão dura, eu teria comprado.

Brasileiros – Você, dura? Pensei que era só eu?!
S.F. – Olha, eu estou dura em parte porque eu gasto muito dinheiro, é incrível. Apesar de eu não ter um padrão de vida muito folgado, eu gasto muito dinheiro porque eu pago aluguel… eu tenho umas despesas fixas consideráveis. Eu pago aluguel, eu pago seguro do carro, da moto, a empregada, eu tenho milhões de contribuições voluntárias, mas fixas, com entidades, famílias e etc. Então eu tenho uma despesa fixa mensal… Eu pago Net, preciso de TV a cabo, eu preciso de banda larga em casa, eu preciso, aí tem a Julia na escola particular. Eu tenho um gasto fixo mensal considerável e a minha renda diminuiu bastante do ano passado pra cá. Sabe por quê? Subprefeito ganha menos que vereador, ganha cinco paus a menos. Não, nem tanto, deixa eu pensar… Meu último salário aqui, o líquido, foi quatro e…

Brasileiros – Você está brincando.
S.F. – Não, não estou.

Brasileiros – Mas como assim? Mas você continua na ESPN, não?
S.F. – Continuo, senão não dava. Se eu fosse só subprefeita, a Julia ia estudar em outra escola e eu não tenho nenhum problema de colocar… A Raquel e a Sarah estudaram no Frontini Guimarães que é um estadual lá de Santana. Eu não tenho nenhum problema com escola pública, mas ela está em uma escola muito boa, que ela adora, tem um milhão de amigos, então é foda, né, tirar assim de onde tem um milhão de amigos, é muito foda. Tipo, eu não tiraria ela pra botar em uma outra escola particular boa porque ela já tem o milhão de amigos dela lá, né, mas é isso, se eu só trabalhasse na subprefeitura, aluguel eu não posso não pagar, condomínio não posso não pagar, seguro do carro? Sem empregada… Eu fiquei muito tempo sem empregada, eu tenho empregada faz uns dois anos só.

Brasileiros – O que os seus eleitores acharam da tua mudança…, enfim, do PT para o PPS, e agora você está com Serra e Kassab. Eu vi aqui no seu blog uns e-mails de algumas pessoas que se queixam de você.
S.F. – Tem, tá cheio!

Brasileiros – Ouça um dos textos de um eleitor teu: “Ah! eu jamais podia concordar com a sua saída do PT e aí você optou pelo DEM, está na subprefeitura no mandato do Kassab. Agora eu vejo você na propaganda do PPS dizendo que o Lula está fazendo uma campanha antecipada pra Dilma com o nosso dinheiro, que o Serra está governando de verdade e que você estará do outro lado. Por favor, diga aí o que eu faço”.
S.F. – É assim, uma parte dos meus eleitores antes de eu sair dizia: “Se você não sair do PT eu nunca mais voto em você”. Tanto é que a minha votação de 2004 para 2006 caiu pela metade, pela metade. Eu fui candidata do PT em 2006 e eu fui tão xingada… Dentro do partido tinha muita gente que odiava essa posição, sabe. Não, para com isso, vocês estão se rendendo a essa mídia golpista que quer…, não, desculpa, uma coisa é a mídia golpista, outra coisa são as nossas cagadas. Então eu apanhava dentro do PT, porque no PT a gente era do grupo que mais criticava aquela estrutura, aquela direção, aquele esquema todo, e aí fora do PT criticavam porque eu era do PT. Era um inferno e tinha eleitores que diziam: “Olha, eu sempre odiei o PT, eu sempre soube que é uma merda, mas eu votei em você porque em você eu confiava, agora se você não sai do PT, é porque você é igual a todo mundo”. Horas discutindo, horas e horas e e-mails quilométricos. Quando a propaganda do PPS foi ao ar, quanta porrada.

Brasileiros – Outro e-mail, Soninha, diz: “Ninguém mais acredita em você, agora que você é subprefeita do Kassab”.
S.F. – Engraçado né, não de São Paulo, do Kassab…

Brasileiros – E outro eleitor diz aqui no blog: “Que história é essa de lançar o Serra presidente?”.
S.F. – Olha, em primeiro lugar eu não falei que era o Serra. Serra não é o candidato do PSDB ainda. Primeiro, o PSDB precisa se definir, mas sim, eu estou na oposição ao governo Lula, sim, sim… Eu gosto muito da Dilma, mas eu estou em oposição, não é o que a gente sempre defendeu assim, não é só a pessoa. Eu não fiquei feliz com o governo do PT porque tinham coisas fundamentais assim na bendita política econômica. Porra, o PT se gaba de ter feito a política do Fernando Henrique só que muito melhor? O PT agora precisaria descer um cacete no governo federal, porque se não fosse o Lula o presidente, o PT estaria descendo um cacete no governo federal por causa da política econômica, por causa do crescimento ridículo, porque o capital financeiro tem muito mais facilidade do que o capital produtivo, do que… Porque a diferença entre ricos e pobres continua, porque a miséria ainda é maioria, sabe? Então o PT sempre foi uma oposição muito ardida e agora tem uma intolerância à oposição, incrível, o governo está certo porque o governo é nosso. Algumas, muitas pessoas não me perdoam, porque eu não só saí do PT, mas eu fui para um partido da oposição ao PT e esse partido vai apoiar o candidato mais forte que tiver na oposição ao PT porque a gente não tem a menor condição de ter candidatura própria à Presidência da República, também não vamos ter um candidato só pra fazer número, só pra levantar a bola do outro porque essa é uma estratégia de partidos menores, de aluguel, falo mal do outro e com isso eu ajudo o outro. Não. A gente vai apoiar o candidato mais forte da oposição ao Lula. Essa é a posição inequívoca do PPS. Quem será o candidato mais forte de oposição ao governo Lula? O candidato do PSDB. Qual será o candidato do PSDB? A menos que caia um meteoro na Terra, ou é o Serra ou é o Aécio. Tenho muito mais críticas ao governo do Aécio do que ao governo do Serra. Tenho muitas críticas ao governo do Serra, mas eu gosto de como ele…, eu gosto até do que as pessoas chamam de defeito que é uma coisa que eu sinto muita falta agora na prefeitura que é aquela coisa de acusarem ele de ser centralizador. Ele fica puto com isso. E eu entendo por que ele fica puto, porque na verdade ele gosta de delegar, mas não sossega simplesmente por ter delegado se as coisas não estiverem funcionando. Então é um cara que cobra muito do primeiro escalão, do segundo e do terceiro, e eu não acho isso nenhum defeito, sinceramente. Se as coisas andam, ele deixa, se não andam, ele exige, nem sempre com delicadeza, aliás mais frequentemente sem delicadeza. Mas é isso, é um cara que quando era prefeito, se ele ficasse sabendo de uma lixeira quebrada na esquina, era capaz de ligar pro Andrea Matarazzo na hora que fosse e dizer assim: “Andrea, não saiu a licitação das lixeiras? Então por que não botaram a lixeira?”. Uai, se quebra a lixeira, então tem que repor lixeira, sabe? Cada um tem a sua idiossincrasia, a sua forma de agir. O Jânio era com bilhetinho, o Serra são os lendários e-mails e telefonemas de madrugada, mas todas elas têm seu fundo de verdade. E o mais engraçado é que o Serra tem uma coisa que ele critica em mim, por exemplo, que… Puta, você não pode ser tão detalhista, você não pode sofrer com cada pedaço de guia…, sabe? Com cada galho de árvore, só que ele fala com conhecimento de causa porque é o sofrimento dele também. E ao mesmo tempo, eu acredito, pelo que eu conheço, pelo o que eu vejo ele falando e fazendo, ele tem um conhecimento, uma noção de interdependência das coisas, da economia, com a igualdade social, tem uma autoridade e uma indignação combinada assim que eu acho… Eu admiro muito.

Brasileiros – Como é que você se entendeu com o Serra? Você foi eleita vereadora pelo PT, ele prefeito pelo PSDB…
S.F. – Pelo futebol, naturalmente. Foi o que…

Brasileiros – Vocês conversam, quer dizer, vocês já comentaram o que vocês têm em comum?
S.F. – É, a gente começou a se encontrar em estádios e eu já era bastante amiga do Portela (José Luis Portela, atual Secretário dos Transportes Metropolitanos do governo Serra) que era amigo dele de muito tempo atrás… Não era tão amiga, mas já conhecia, já tinha uma convivência assim…, convivência não, mas já encontrava o Belluzzo com alguma frequência por causa do futebol, mas aí não era nem… Engraçado que a aproximação com o Portela não era nem por ser palmeirense, porque foi a mesma aproximação que eu tive com o Juca Kfouri, que é corintiano; foi por causa da militância no futebol. O Portela foi o artífice do estatuto do torcedor quando foi secretário executivo. Eu até naquela época achava muito engraçado e falava: “Ai meu Deus, agora eu estou cheia de amigo tucano”. E aí, o Portela já conhecia o Serra do governo Montoro, de muitos anos atrás, aí, por causa do Palmeiras, a gente várias vezes se encontrou pra ver jogo juntos, na casa do Juca, sempre por causa de futebol e acabou fazendo amizade assim. Foi muito legal porque no fim… por causa do futebol mesmo eu acabei sabendo, descobrindo o que ele pensa do mundo, eu não estou nem falando de características pessoais, porque eu também não conhecia, conhecia a figura pública na televisão e no estádio. Eu tinha toda essa imagem de um cara muito bruto, muito… E não é à toa porque frequentemente ainda aparece assim mesmo, mas eu descobri o outro lado, aí falando do lado pessoal, o lado humano que eu não conhecia, mas também… e, principalmente, o lado político, porque várias coisas que eu pensava que ele pensava não podiam estar mais longe da verdade, conceitos de economia mesmo. Ele defende o Estado e, realmente, ele não arredou o pé de ser esquerda. Ele detesta o neoliberalismo, detesta. Eu tinha alguma noção que ele não se dava na época do governo do Fernando Henrique com o grupo dos economistas da PUC, aquela coisa toda, mas eu achava que não eram divergências de conceito original, que eram divergências de condução entendeu? De execução. Não, é uma divergência conceitual, ele odeia teorias neoliberais e isso é até mais importante pra mim, mais significativo, quando eu brinco né… O João Gordo perguntou outro dia: “E aí, quem você acha que vai ser presidente?”. Eu falei: “Eu acho que meu amigo daria um bom presidente”. Mas não é pelo que eu descobri do lado pessoal, é porque tem pessoas que eu amo e eu jamais votaria nelas. Não. É por ser amiga e estar mais próxima, eu descobri o ser político, o que ele pensa do mundo, o que ele pensa do meio ambiente, o que ele pensa de economia.

Brasileiros – Você faz parte do grupo dele, digamos assim, você é do grupo do Serra?
S.F. – Eu acho que não, sabia? Eu não sei se o grupo político do Serra olha pra mim e concorda comigo e com o que eu digo, com o que eu defendo.

Brasileiros – Sim, mas você faz parte do círculo político do Serra de alguma forma ou não?
S.F. – Não. Eu acho que não, eu não me identifico. É curioso isso também, do ponto de vista da condução eleitoral assim, eu não faço parte disso, mas eu me identifico…

DO BLOG DA SONINHA
De manhã, descasquei e piquei caqui, banana e maçã para fazer uma salada de frutas, toda orgulhosa de mim mesma pelo café da manhã saudável (geralmente é café-com-leite-pão-com-margarina, uma delícia e uma vergonha do ponto de vista nutricional).

Daí o que fiz? Joguei as frutas picadas no lixo em vez das cascas. Cabeça de m*&¨%.

A moto, que passou o fim de semana na rua por conta da briga com um vizinho (normalmente ela fica na garagem do prédio), não queria pegar de jeito nenhum. Empurrei, pegou no tranco, morreu… Levou uns dez minutos para querer começar a trabalhar.

Cheguei à Sub e não achei a chave da minha sala. Ainda bem que dava para entrar por outra.

Já na entrada, um funcionário veio se queixar da má vontade e sabotagem de outro funcionário.

Na sequência, outro relato no mesmo estilo. Os dois, aparentemente, bem fundamentados (tem muito conflito movido a desavenças acumuladas, com reclamações exageradas ou injustas).

Feitiço contra o feiticeiro: rodei uns sete quarteirões até achar lugar para parar o carro. Bem feito (eu acho que carro não tem nada que ficar ocupando espaço de circulação parado nas ruas). Ninguém mandou não ir de metrô.

Almocei no América, extravagância eventual (é bom, mas é caro. É caro, mas é bom). Encontrei um amigo de um tempão atrás, o Flavio Cariri, diretor de cinema. Foi com ele que eu conheci Marmelópolis, perto do pico dos Marins. Meu namorado era o diretor de fotografia; eu era assistente geral. Na hora de fazer uma tomada do alto de uma montanha, virei assistente de câmera – o assistente oficial estava enjoado demais para puxar o zoom (cinema ainda tem muita coisa manual…).
Ele estava com a filha mais

nova – Sophia ou Sofia, incansável como as minhas filhas. Sempre fico pasmada quando vejo um bebê quieto em um carrinho, olhando a paisagem… E o mais velho, um belo moço, que eu conheci careca e sem dente, menor ainda que a Sofia…Caminhando pela Paulista, finalmente, parei no espaço Caixa Cultural no Conjunto Nacional. Em cartaz, exposição de fotos do fotógrafo norueguês Dag Alveng. São três séries, uma na Noruega e outras duas, chamadas “I Love This Time of The Year” e “This is MOST Important”, em Nova Iorque. São imagens com dupla ou até quádrupla exposição, fantásticas. Veja algumas no www.alveng.com/ilttoy.php”.

A Julia, que reclamou que não ia ter nada pra ver, não deu muito valor.

Consumismo, essa praga: uma loja no Conjunto Nacional vende camisetas lisas, de cores interessantes, por dez reais. E polos por quinze. Se tem uma coisa que eu não preciso é de mais camisetas, mas se não estivesse tão dura, teria comprado. Porque são bonitas e estão baratas.

No “Casarão” da Paulista, visitei o Centro de Adoção de Cães e Gatos. Dá vontade de levar todos. Fêmeas adultas docinhas, machos tímidos, todos com olhar carinhoso. Algumas histórias com final feliz são contadas em um parágrafo em um mural. São vários os casos de gatos e cães adotados, como os meus, que agora vivem juntos.

Se não dá pra adotar, dá para ajudar de várias maneiras – sendo voluntário, doando rações, medicamentos, produtos de limpeza, coleiras, roupinhas, jornais, coletores…

Também no Casarão, a exposição mostraemobras.blogspot.com. Ingresso a cinco reais. “Pode tirar foto”, informou o porteiro. Pena que eu já não tinha mais bateria em um telefone e memória no outro…

Brasileiros – Você pra ele é o quê? Você é uma política nova que ele acha que tem um futuro que ele pode ajudar, que ele quer orientar, que ele quer conversar, é isso?
S.F. – Eu acho que sim.

Brasileiros – A Soninha é talentosa e tal, não sei o quê, é esse o lance?
S.F. – Aliás, isso ele já sabia até porque me contaram, isso ele já pensava antes, porque ele me conhecia de ler na Folha de São Paulo e de assistir no futebol e na TV Cultura, ele acompanhava assim, então ele já me achava uma figura interessante politicamente por causa da história da TV Cultura mesmo… da maconha… (em 2001, Soninha foi um dos rostos da capa “Eu fumo maconha” da revista Época),da briga que eu comprei e não sei o quê, ele me achava essa figura interessante quando eu não o achava, porque eu o identificava com os neoliberais tucanos, entendeu? Então, sem dúvida, ele acha que eu fui até uma vereadora combativa, bacana e tal.

Brasileiros – Por exemplo, você ser nomeada aqui como subprefeita, foi indicação do Serra?
S.F. – Não. Foi uma decisão do Kassab. Foi uma ideia do Kassab de me oferecer uma subprefeitura. Não foi nem do partido, nem do Serra, foi um convite dele e nem o partido e, até onde eu sei, nem o Serra achavam que eu iria querer, porque ser subprefeito é um puta de um rojão. Então, vamos dizer, aí falando…, aí não é o governador… o meu amigo Serra não acharia que é uma escolha muito inteligente do ponto de vista da estratégia eu assumir uma subprefeitura… da estratégia a médio prazo, porque ser subprefeito é uma bucha…

Brasileiros – Ele não achou que era a melhor coisa pra você? Ele era contra?
S.F. – Não, não contra, mas será? Será que vai aceitar, você vai querer? Já pensou bem, você tem noção do que é isso? Mas isso aconteceu também quando eu falei que ia ser candidata a prefeita. Ele falou: “Será que você aguenta o ritmo de uma campanha?”. Teve até uma frase que saiu em algum lugar e tiraram sarro, e ele falou mesmo – porque às vezes saem aspas por aí que nego inventou não sei onde -, mas essa é verdade que ele falou assim: “Você acha que vai fazer campanha de bicicleta?”. Porque eu estava superenvolvida com a história da bicicleta. “Você enlouqueceu? Campanha de prefeito é um massacre. Pense na sua filha pequena, na sua filha grande… pensa se você aguenta porque é uma exposição, é o cansaço, agora, você que sabe. Você sabe que a sua chance de ganhar é pequena, mas em uma eleição você pode perder bonito ou perder feio, então pondera isso, vamos partir…, é difícil ganhar, difícil ganhar. Dá pra perder bonito?” É uma conversa meio de doido quando você ainda está pensando, quando você sai como candidato e já está pensando como você vai perder. Mas é esse o tom, era esse o teor. Aí quando o Kassab pensou “Ah! acho que a Soninha daria uma boa subprefeita”, acho que também foi assim, será que ela quer? Será que ela topa? E o partido a mesma coisa, o Kassab teve uma ideia aí, uma proposta e tal, e aí? Eu falei: “Vambora, vamos. Quero sim”. Adorei a ideia, nunca tinha pensando, nunca tinha me ocorrido, não tinha isso na cabeça.

AS CRÍTICAS, TAMBÉM NO BLOG
Olá, Soninha. Sempre gostei das suas opiniões, mesmo antes de você ser política. Aliás, acredito que antes de você sequer pensar em entrar na política. Até hoje, minhas opiniões sobre legalização da maconha, por exemplo, tiveram você como primeira referência. Lembro que você ia do programa do Ratinho ao do Clodovil, e conseguia falar sobre um tema megaespinhoso com naturalidade, sensibilidade e esclarecimento. Achava aquilo o máximo. Depois você foi eleita vereadora pelo PT. Pensei: que ótimo! A melhor novidade na política dos últimos tempos. Depois você se candidatou a deputada federal. Pedi pra todos os meus amigos de SP votarem em você (não sei se obtive sucesso, mas juro que tentei!). Você não foi eleita e pensei: que pena! Espero que consiga na próxima. Daí você saiu do PT, e tentou a prefeitura de SP pelo PPS. Segundo você, uma coisa não teve nada a ver com a outra. Pensei: não tenho por que duvidar dela. Agora temos posicionamentos partidários diferentes (eu continuo preferindo o PT, PSB e cia.), mas tudo bem. Você não adotou um discurso raivoso com o PT, nem com o Lula. Parecia moderada nas suas colocações, sem maniqueísmos. Aliás, falou que só aceitou conversar com o PPS porque tinha Socialista no nome! Acho que nem estávamos tão distantes assim. Depois você optou pelo Kassab no segundo turno de SP. Apesar de não ter se empenhado tanto quanto o PPS na campanha, adotou uma postura “anti-Marta”, segundo os jornais. Pensei: é, agora realmente estamos bem distantes. Jamais eu poderia optar pelo DEM, a despeito de TODOS os problemas da administração da Marta. Depois, você aceitou uma subprefeitura no mandato do Kassab. Pensei: isso confirma que estamos distantes, o DEM não tem nada de Socialista, mas de repente ela tá aproveitando uma oportunidade pra colocar suas ideias em prática. Deu pra levar… Agora, eu vejo você na propaganda do PPS, dizendo que o Lula tá fazendo campanha antecipada pra Dilma com o nosso dinheiro, que o Serra é quem tá governando de verdade, e que você estará “do outro lado” em 2010. Por favor, diga aí, o que eu penso?Soninha ninguém acredita em mais vc… Subprefeita do kassab kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk ridículo… Foi pra isso que saiu do antigo partido? E este pps é uma piada kkkkkkkkk até o presidente é um aspone tb do kassab kkkkkkkkkkk e que história é essa de lançar o Serra presidente? E quem disse que aquele zumbi está governando? Se tem propaganda da Sabesp até na Paraíba e do Rodoanel em Salvador? Isto é governar em São Paulo? Kkkkkkkkk tome vergonha na cara kkkkkkkkkk e lava sua boca quando for falar da Marta…. Ela nunca seria sub sub sub do kassab…. Vc se presta a isso? Ridiculo…
Maria do Carmo

Parabéns a você e ao PPS pela campanha na TV. É isso aí! Alguém tinha que mostrar a outra face da moeda. A Vaca Sagrada (a Nação brasileira) está quase sem leite depois desses 8 anos do Sr. Marolinha e Cia.


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