A Torre de Babel do Vale do Silício


Nas garagens do Vale do Silício surgiram gigantes como HP, Apple e Yahoo. Na garagem da Tennessee Lane, número 334, em Palo Alto, está o quarto de Carlos De La Lama-Noriega, o “embaixador” da Startup Embassy, uma espécie de albergue, mas que abriga exclusivamente empreendedores.         

Carlos tem 38 anos, nasceu na Espanha e é também um empreendedor. Em Madri, onde viveu sua vida inteira, desenvolveu o Yabo, um aplicativo para smartphone que pretendia localizar pessoas em um raio próximo e, através de uma analise nas redes sociais, descobrir interesses em comum entre os pares para que esses pudessem, talvez, iniciar uma conversa.

No Vale do Silício e prestes a lançar a startup, ele acabou se desentendendo com seus sócios, que reivindicavam uma participação maior na “pré-empresa” e decidiu não lançar o produto, isso dois dias antes da data marcada. “Não conseguiria trabalhar com pessoas que não confiava mais”, contou. 

Sem empresa, sem sócios, sem dinheiro e com um aluguel de US$ 7 mil para pagar. O que fazer? Simples, se arriscar, mais uma vez. A casa de cinco quartos que era usada por ele, seus sócios e alguns outros empreendedores que alugavam quartos, virou, a partir do segundo semestre de 2012, de fato, um albergue do empreendedorismo, agora em tempo integral. “No dia 1 de outubro do ano passado eu estava com a casa vazia e tinha menos de 30 dias para levantar os US$ 7 mil e, surpreendentemente, já naquele mês tive lucro! Pequeno, mas consegui cumprir com o aluguel e sobrou um pouco”, lembrou ele.

Em pouco tempo a casa se encheu e hoje, após um ano de vida como Startup Embassy, já serviu de lar para aproximadamente 400 pessoas de 42 países diferentes. “Acabou de chegar um cara da Islândia! Onde é a Islândia!?”, brincou Carlos.

O segredo do negócio para seu criador não é nem o preço, mais acessível do que o de um hotel, por exemplo, mas a experiência e interação que um lugar com essepropósito pode oferecer para um empreendedor recém chegado ao Vale do Silício. “Quando cada um vem pra essa casa, sei que estão se sentindo exatamente como eu me sentia quando vim para os EUA, com medo, sem conhecer ninguém… Aqui todos estão assim e com o propósito de crescer, de fazer acontecer, a interação e a troca que ocorre diariamente é fenomenal, criamos um ambiente único”, revelou.

Nos finais de semana a casa nunca está vazia, seu anfitrião costuma organizar eventos, às vezes um churrasco, às vezes sua já consagrada paella espanhola, para convidados, gente do meio também, para que haja uma interação com os empreendedores da casa.

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Para que esse formato seja mantido, Carlos contou que é obrigado a, muitas vezes, rejeitar pedidos de estadia. “Você mesmo (fiquei 1 mês na Startup Embassy) foi motivo de muito debate por aqui, não sabíamos se um jornalista se adaptaria. Só permitimos sua vinda por que realmente acreditamos que você estava totalmente comprometido em mergulhar no mundo das startups e do vale do Silício”.

Carlos gosta de falar que está tanto tempo fora de sua zona de conforto que isso já virou a sua zona de conforto. O risco traz às vezes o sacrifício e para ele significa ter que viver afastado de sua mulher grávida e de um filho ainda criança, que moram em Madri. “A primeira vez que ele me chamou de papai foi via skype”, contou.

Apesar da saudade, Carlos não pensa em voltar tão cedo para sua terra. Seus planos para a Startup Embassy são ambiciosos. “Penso em um primeiro momento em pegar mais uma casa, deixar uma para aqueles que estão de passagem e outra para quem vai ficar por aqui por muito tempo. Mais para frente, o plano era criar algo realmente grande, algo como um hotel, 50 camas, com ambiente de coworking e outros serviços’, terminou o empreendedor.


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