Conversar com a cantora e compositora gaúcha Laura Finocchiaro é dar um mergulho nos anos 1980 e começo dos 1990. É lembrar-se, mais especificamente, de uma época em que a noite de São Paulo pululava com dezenas de casas noturnas alternativas. É também se aproximar do mundo pop e conhecer uma figura que está nos bastidores de vários programas de TV. É o ontem, é o hoje.
Laura está de volta aos palcos, comemorando duas datas importantes: seus 50 anos de idade e 30 de carreira. Não por acaso, celebrará as duas efemérides com show no próximo dia 5 no mítico Madame (que perdeu o sobrenome Satã do passado e foi recém-inaugurado). A casa foi um dos principais bares daqueles idos, reduto de punks, góticos e artistas. Foi também lá que Laura descobriu sua voz artística. Por isso, quando encontrou a reportagem no Madame fez questão de entrar em cada um dos cômodos e, estimulada pela visita, começou a relembrar sua trajetória.
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“Quando tinha 18 anos, um amigo me disse que eu tinha de tocar no ‘Lira Paulistana’, um dos principais pontos undergrounds da época”, relembra. Foi parar lá e em todos os lugares que interessam naquele tempo. A vinda de Porto Alegre, sua cidade natal, para São Paulo, foi, assim, definitiva, especialmente porque a música Tudo é Amor foi gravada por Cazuza e depois por Ney Matogrosso. Para completar, ficou próxima de outro ícone da época, o poeta Caio Fernando Abreu. “Caio editava duas revistas muito top quando cheguei a São Paulo: a Around e a Interview. Ele se interessava muito pelo underground e acabou se aproximando de mim e me dando espaço na mídia”.
Sua irmã, que também era da cena, virou elo entre ambos. “Lori F. era uma ótima roqueira. A personagem Márcia Felácio, do livro Onde Andará Dulce Veiga, do Caio, foi inspirada nela”. Segundo Laura, a ideia de Caio já era transformar este livro em filme. Por isso, os dois compuseram a música Poltrona Verde. Em 2007, Dulce Veiga virou longa-metragem. A canção, no entanto, não entrou na trilha sonora. “Eu avisei o diretor Guilherme Almeida Prado que o Caio ia ficar bravo”, brinca.
A época do Lira Paulistana, Madame Satã, Rose Bombom e os outros templos alternativos de São Paulo chegou ao fim nos anos 1990. Por acaso, um dos momentos mais significativos da trajetória de Laura aconteceu, justamente, nessa virada. Inscrita no Rock in Rio por um fã, ela teve o privilégio de tocar no mesmo palco de gênios da música, como o americano Prince.
Apesar de a época ter passado, toda a experiência do mundo underground se fixou na personalidade e no trabalho de Laura. Ela faz questão de ressaltar que nunca deixou de ser uma artista desse mundo e, que, embora os tempos tenham mudado, ela continua a mesma provocadora. Foram essas influências que a levaram a criar uma nova linguagem para a trilha sonora de programas de TV e eventos de moda.
A primeira incursão na televisão foi no programa infantil TV Colosso, da Globo, que viraria um clássico para uma geração inteira. “Como eu tinha essa experiência do underground, eu criei uma música diferente para as crianças, que não tinha nada a ver com aquele besteirol do programa da Xuxa”.
A partir da experiência na Globo, Laura continuaria trabalhando com trilhas sonoras. Trabalhou na produção do reality show Casa dos Artistas, primeiro do gênero do País, e depois faria todas as edições de A Fazenda – onde está até hoje como produtora.
A época do Madame Satã, no entanto, parece ter sido uma das mais significativas na carreira de Laura. O retorno da casa representa para ela um retorno a este universo. Seu novo show, Avoar, tem forte influência de música eletrônica, mas ela, no entanto, faz questão de ressaltar que não deixará de lado as influências do início de sua carreira em cena. O espetáculo, ela promete, será um revival com os pés no futuro.
A Brasileiros acompanhará o novo show de Laura para a seção “Digitais”. Confira daqui algumas semanas.
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