A vanguarda da mudança é feminina

Em artigos recentes, mostrei o papel da classe média e das favelas no atual processo de transformação da sociedade brasileira, especialmente no campo do consumo. Desta vez, gostaria de estabelecer outro recorte e analisar o papel da mulher em meio a essas mudanças.

As brasileiras foram particularmente impactadas pelas mudanças estruturais iniciadas no País com a implantação do Plano Real, em 1994, que avançaram, na década seguinte, por meio dos programas sociais e da expansão do mercado de trabalho formal.

Essa conjunção de fatores levou à formação de uma nova classe média, na qual as mulheres ganharam poder e relevância.
Hoje, o Brasil conta com 103 milhões de mulheres. Via de regra, elas estudam por mais tempo do que os homens, têm menos filhos do que suas mães e influenciam fortemente as decisões de consumo das famílias.

Há um dado que ajuda a compreender essas mudanças: a massa de renda das mulheres brasileiras cresceu 83% na última década. Em 2014, com renda própria, elas devem movimentar R$ 1,4 trilhão, o equivalente ao PIB da Suécia ou da Bélgica.
Em 1992, elas contribuíam com menos de um terço da massa de renda dos brasileiros. Apenas 7% faziam parte da classe alta, enquanto 33% pertenciam à classe média. Passados 20 anos, elas já eram responsáveis por quase 40% da massa de renda. No total, 21% pertenciam à classe alta, enquanto 52% estabeleciam-se na classe média.

Dados revelam uma dinâmica inclusiva. Entre 1992 e 2012, o número de mulheres cresceu 35%. No mesmo período, as mulheres que exercem atividade remunerada com carteira assinada aumentou em 157%.

Em 20 anos, de 1993 a 2013, saltou de 20% para 38% a proporção de famílias chefiadas pelas mulheres. Na classe baixa, o percentual de chefes de família do sexo feminino é ainda maior.

Atualmente, 86% dos homens casados admitem que a esposa é a principal responsável pelas decisões de compra no supermercado. Dados revelam que 58% delas definem qual será o carro da família.

As brasileiras da classe média creditam a seu esforço o poder de continuar melhorando de vida: 90% acreditam que isso é possível por meio do trabalho e procuram migrar para ocupações mais rentáveis e de maior reconhecimento social.

Com mais escolaridade, as jovens já têm ocupações que oferecem melhores perspectivas de ascensão do que aquelas da geração anterior. Vale um exemplo. Entre as mulheres na faixa de 48 a 60 anos, a principal ocupação é o serviço doméstico. Para as mais jovens, de 18 a 30 anos, o setor de vendas e atendimento já é o principal.

Sem título
Clique e aumente a imagem.

Hoje, 20% das mulheres da classe média pretendem abrir um negócio próprio em até três anos. Essa é, para muitas delas, a melhor forma de conciliar o dia a dia de trabalho e os cuidados com a casa e a família com maior autonomia nos horários.
No campo das atribuições públicas, faltam qualidade e abrangência na oferta de creches – com horários adequados à jornada de trabalho e aos deslocamentos das trabalhadoras – e serviços especializados na saúde feminina.

As organizações privadas também pouco se adaptam às demandas femininas. Além de serem responsabilizadas pelos cuidados com a casa e a família, muitas mulheres ainda ganham menos que os homens, mesmo executando funções idênticas.

*Presidente do Instituto Data Popular


Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.