Outro dia, viajando para Petrópolis com meu amigo, vimos umas luzes grandes e brilhantes que apareciam em pontos do céu, depois sumiam e se refletiam na água e no ar. Ficamos discutindo o que seria. Olhei bem e achei que eram aviões. Já ele achou que eram helicópteros, o que os jornais confirmaram depois.
Então, fiquei pensando, com pena, que ninguém mais vê disco voador ou óvni. Nem mesmo o computador se lembra mais deles, sublinhando a palavra óvni em vermelho, para afirmar que ela não existe. Não vou discutir com o computador que, embora mais adiantado que eu, não pegou aqueles anos que cada um tinha sua própria história sobre eles.
Não me lembro de ter ido a alguma festa no final dos anos 1960, 1970 ou 1980, em que alguém não contasse sobre viagens incríveis que tinham feito nesses discos ou que estivessem depressivos ou em pânico por terem cruzado com algum. Muitos piravam. Era uma época que as drogas andavam soltas, como maconha e ácidos, que proporcionavam as maiores viagens. Era normal também alguém estar em uma festa e não falar com ninguém depois de viagens extraordinárias. Então, as pessoas se afastavam e ficavam mudas.
Pois agora é o contrário. Ninguém cogitou que aqueles helicópteros fossem alguma coisa diferente. Pertenço a um passado, é verdade. Hoje, a tecnologia cria coisas reais, e nada mais é irreal, é imoral ou engorda…
Mas, há uns três anos, chegou um amigo da minha filha em casa, pedindo para ficar lá porque tinha sido abduzido e estava supernervoso. “Abduzido?”, perguntei, pasma. “Você pode não acreditar em mim porque sou muito jovem. Tenho só 24 anos, mas se quiser liga pra amiga que estava comigo no carro, que é uma senhora de 54 e participou de tudo comigo.”
Liguei e ela me contou que estava de licença do trabalho, tentando voltar ao normal, depois que dirigiu seu carro com esse rapaz, em São Paulo, perto de um lago com cachoeira, quando, de repente, suas mãos caíram do volante e o carro foi andando sozinho até o lago, deixando os dois passageiros ao lado dele. Depois foi embora. Ela chorava de medo. Os dois tinham dor no corpo e pânico no coração. Fiquei com pena, sou de um tempo que aconteciam coisas inacreditáveis.
Deixei o rapaz ficar lá em casa uns dias, mas uma vez ele me acordou chorando e falando dessa abdução. Disse que iria para a Argentina para ver se mudava um pouco a cabeça. Fiquei aliviada, mas agora quem eu poderia chamar para dar uma força a ele? Naquele tempo tinha o Thomaz Green Morton, que resolvia qualquer problema, fazendo até o carro encher sozinho de gasolina por meio de sua saudação: “Rá”. Eu mesma, no dia em que fumei maconha para ver como era, cheguei em casa e, quando fui dormir, o teto do quarto virou galhos de uma árvore e queriam me agarrar. Já minha amiga viu carneirinhos em frente seu carro. Uma colega de trabalho da peça Trair e Coçar é Só Começar chegou atrasada porque um óvni seguiu o carro em que ela estava com o namorado.
Isso era comum. Só que pensávamos que tudo aquilo se concretizaria e se tornaria normal, em vez de embarcar em uma tecnologia real. Voltamos à caretice do pré-1960, sem nenhuma imaginação, ou o que tenha se passado, só que com a mais agressiva e triste realidade se apossando de nós, ao vivo e em cores, por meio de jornais.
*É atriz, atuou em mais de 50 filmes, 15 telenovelas e minisséries, além de peças de teatro. Também é cronista do Jornal do Brasil e autora do livro O Quebra-Cabeças (Imprensa Oficial, 2005), uma compilação de crônicas publicadas pelo jornal.
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