Aqui em Nova York vamos novamente entrar na máquina do tempo. Voltar ao passado. Aos analógicos do século passado. Para as eleições primárias do dia 10 de setembro foram retiradas das catacumbas de Gothan as famigeradas máquinas de votação. Já falei delas aqui, nos tempos remotos de 2009, como operam e o que parecem as “urnas” da cidade. São muito semelhantes àquelas geringonças que compõem o fundo do cenário do filme “Dr. Frankenstein”, o de 1931. Peças, aliás, reaproveitadas em várias películas classe B de Hollywood pré-efeitos digitalizados.
Os 5.100 aparatos de votação consistem de caixas individuais com cerca de 400 quilos e 20 mil partes mecanizadas como as do Século XIX. Cada um desses trambolhos tem um painel onde estão grafados os nomes de candidatos. E são várias listas, já que os cargos vão da Prefeitura, passando por vereadores e deputados, até o de fiscal das finanças. Ao lado de cada concorrente está afixada uma pequenina chave preta semelhante a um interruptor de liquidificadores dos anos 1930. Ao acionar a peça o eleitor crava seu voto para cada indivíduo. Por isso é preciso levar cola com os nomes de seus preferidos. Quem dá conta de lembrar-se de nomes em meio a operações dentro de uma câmara como a de uma central telefônica dos anos 1920?
Ao término de uma dúzia de manipulações das chaves- capazes de deixar em frangalhos os dedos do infeliz- será preciso puxar para a direita, e depois para a esquerda, uma alavanca metálica- do tamanho de um taco de beisebol- postada na parte inferior da geringonça. Acima da urna, com dimenções de geladreira industrial, estão três lampadas ( não, não é figura de retórica: são lâmpadas mesmo). Uma é verde- denotando que o instrumento da democracia está pronto para receber o cidadão. Enquanto se operam as chavinhas, a luz acesa é a amarela. A manobra final ativará uma luz verde ao topo do engenho indicando que o dever cívico foi cumprido. Eleitor e maquinário estão encobertos por um pano imundo, dando a impressão de que alí está um provador de roupas de brechó do Exército da Salvação.
O arguto leitor perguntará: “Mas onde foram parar as urnas eletrônicas?”. Bem, estas não deram certo. Nas últimas eleições, em 2012, o processo democrático trouxe o caos. Teve candidato no Brooklyn que só soube que havia sido eleito após 72 dias de espera. Naquele pocesso, escâners foram instalados (ao custo de US$ 95 milhões) nas sessões eleitorais. O cidadão recebia um papel com nomes de concorrentes, marcava com caneta seus preferidos e depois escaneava a lista. Um progresso: saiu-se dos anos 1950 e foi-se aos 1980. Mas deu chabu. Recorreu-se agora à volta da máquina do tempo.
Isso, diga-se, num país onde já se podem ver pessoas com óculos Google pelas ruas, ou relógios à la Dick Tracy (procure no Google). Cada um desses acessórios devidamente conectados à Internet, rodando aplicativos que vão da agenda de endereços à previsões do tempo e qualificações de restaurantes na região. Em breve, como já profetizei aqui, será lançado um supositório que ativará a Net com um piscar do olho (seja ele qual for). Vai ser uma boa: o sujeito poderá votar via Facebook com um apertar das nádegas.
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