Em Ibirataia, o fim de semana começou bem diferente. Geralmente embalada pelo arroxé (gênero que mistura outros dois ritmos, arocha e axé), a cidade acordou ao som de sanfoneiros e repentistas da 10ª edição do Mercado Cultural, que segue em caravana pelo interior baiano.
[nggallery id=14112]
Ainda pela manhã, a população de Algodão, pequeno distrito de Ibirataia, conferiu uma versão indígena de um mito grego sobre a descoberta do fogo. Inspirado no conto da escritora baiana Myriam Fraga, a peça Pássaro do Sol conta a história de um jovem guerreiro transformado em pássaro para ir ao céu roubar as chamas do palácio do sol.
Sem teatro na cidade, ibirataienses viveram momentos de fartura. Embaixo de um sol de quase 40 °C, duas atrações animaram a tarde de sábado. O grupo Via Magia apresentou Estórias de Bichos e depois foi a vez dos dançarinos do Balé do Teatro Castro Alves.
À noite, mesmo sem o sol, a temperatura subiu. No palco, quem abriu a folia foram os grupos de reizado – dança popular que celebra o Dia de Reis – Terno dos Ferreiras, da cidade Boa Nova, e Boi de Dona Laurinha, do município Dário Meira.
Quem achou que a noite já estava boa, se embalou ainda no samba envolvente de Juliana Ribeiro. Além dos palcos, a artista baiana é uma pesquisadora do ritmo.
Graduada em história, a cantora investiga ritmos que precederam o samba no mestrado de Cultura e Sociedade, na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Mas não gosta quando definem sua música como samba de raiz. “São muitas as matrizes: lundus, macumbas, maxixes, sambas angolanos, vissungos e sambas-de-umbigada jongo”, explica.
O grupo espanhol de World Music, Coetus, encerrou a noite com um mix de sonoridades originais de diversas partes da Espanha, como Maiorca, Galícia, Cantábria, Sevilha, entre outras. Chamou a atenção os instrumentos típicos utilizados, como o pandeiro quadrado Peñaparda, e outros dois tipos, das Astúrias e do País Basco.
Pouco antes do fim do show, ao lado do palco, por acaso, pesco o comentário de um morador que assistia atento ao espetáculo. Com uma interrogação no rosto, diz para sua companheira: “Esse negócio é estranho, mas acho que é cultura.”
|
Deixe um comentário