Estive outro dia em Salvador para fazer uma palestra sobre “Mídia e Eleições” no Tribunal Regional Eleitoral da Bahia. Um detalhe me chamou a atenção nos dois dias que passei lá.
Ao contrário de outras cidades brasileiras, a começar por São Paulo, ali pela primeira vez encontrei sinais visuais e sonoros de que estamos em plena campanha, a menos de dois meses das eleições municipais.
No caminho do aeroporto até o hotel no Jardim de Alá, e nos vários outros lugares por onde andei nesta belíssima, mas mal cuidada cidade, me deu a impressão de que, apesar da disputa bastante acirrada, Salvador tem um candidato único: ACM Neto.
Quase todos os muros da cidade estão pichados com o nome dele e dos seus candidatos a vereador, o que pode ser uma das explicações para sua liderança nas pesquisas.
Além da grife e do prestígio do avô, que por quatro décadas foi o donatário da capitania baiana, ACM Neto tornou-se também o único herdeiro dos muros de Salvador.
No rádio do carro, quando estava indo para a sede do TRE, ouvi o dono de um dos programas mais populares da cidade, o radialista e ex-prefeito Mário Kertesz, meter bronca:
“Como é que a Justiça Eleitoral pode permitir que os candidatos emporcalhem os muros da cidade, ao mesmo tempo em que restringe o uso limpo e silencioso da internet na campanha?”.
Definido pelo consultor político Ney Figueiredo, um especialista em processo eleitoral, como “o maior comício interativo permanente da história da humanidade”, esse foi também o tema mais polêmico do debate que se seguiu à minha palestra.
Jornalistas e funcionários da Justiça Eleitoral queriam discutir o uso cada vez mais intensivo da internet nas campanhas eleitorais e, de outro lado, as absurdas regras impostas pelo TSE, que só permite a utilização dos sites oficiais dos candidatos para a propaganda eleitoral.
Como escreveu Figueiredo em seu artigo de hoje na “Folha”, “é tecnicamente impossível amordaçar a internet”.
Claro que, além dos muros, sobrevivem outros tradicionais instrumentos de campanhas eleitorais, como os carros de som.
Ainda mais numa cidade como Salvador, o berço dos trios elétricos, o volume do som desses carros – sempre o mais alto possível -, vale mais do que qualquer argumento ou projeto de governo de candidato.
Alguém precisa avisar esse pessoal que os eleitores não são surdos. Mas podem ficar…
Danem-se a poluição visual e a poluição sonora que assolam Salvador nestes dias de campanha eleitoral. Para muita gente, em matéria de eleições, antigamente como agora, só é feio perder.
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