Em uma galáxia muito distante, onde tudo, absolutamente tudo é possível e seres “estranhos” estão no poder, o ser humano tenta entender onde se encaixa na nova realidade cultural, política, econômica e, principalmente, social. [nggallery id=14067] Não, isso não é a introdução para alguma nova ficção científica de George Lucas ou a chamada para Avatar 2. Esse é o mundo em que eu e você vivemos, o mundo que está sendo transformado de maneira assustadoramente rápida, no qual o que é moderno hoje, pode ser ultrapassado amanhã e o senso do que é “legal” é mutável na mesma velocidade.Essa nova realidade acabou, naturalmente, produzindo “seres evoluídos”, “os estranhos”, no bom sentido, é claro, citados no início do texto. As tarefas de casa são feitas com o som ligado, assim como a televisão e o computador, ou melhor, hoje em dia, tudo isso já está em um só lugar, o próprio computador. E se engana quem pensa que, com tantas distrações, nada consegue ser absorvido.Mas como entender e, acima de tudo, participar desse turbilhão de transformações? Fácil: navegando por esse novo mundo! Não foi dessa maneira que o Cabo das Tormentas se transformou em Cabo da Boa Esperança?Para ajudar a entender e participar do novo mundo, o Brasil organiza, pelo quarto ano consecutivo, sua versão do maior evento de inovação, ciência, criatividade e entretenimento digital de todo o mundo, a Campus Party. Criada na Espanha em 1997, a feira surgiu mais no conceito de Lan Party, na qual os pouco mais de 200 participantes se juntavam em uma rede local para jogar games on line. Mas a brincadeira foi crescendo cada vez mais e, em 2008, chegou ao Brasil, já como uma feira vanguardista, que expunha novas tendências.”O modelo da Campus Party é muito interessante porque reúne todas as forças vivas da internet, ou seja, agentes grandes do mercado, grandes corporações, pequenas e médias empresas, ativistas sociais e políticos que atuam na rede, e defensores da liberdade de expressão e conhecimento”, analisou Marcelo Branco, um dos grandes visionários virtuais do País e que esteve no comando da “festa” durante as três primeiras edições nacionais.Branco, que acompanhou de perto o projeto desde os primeiros passos, comemorou o fato da mudança que o brasileiro teve na maneira de se relacionar com a internet, o que nos colocou entre os países com mais voz ativa na rede. “Somos naturalmente generosos com o compartilhamento de conhecimento. Essa qualidade histórica casou perfeitamente na forma de usarmos a internet”, comentou, enfatizando que nossa atual relevância no mundo virtual não se deve apenas aos mais de 70 milhões de internautas que temos, mas também pela qualidade de nossa intervenção na rede.Ao final da conversa, Branco analisou o futuro da internet e alertou sobre a pré-histórica legislação imposta na rede que, de maneira nenhuma, pode ser nos mesmos moldes que a de bens materiais. “Uma nova legislação de direitos autorais que descriminalize as práticas de compartilhamento do conhecimento, sejam músicas, vídeos ou qualquer outra coisa, precisa ser votada no parlamento brasileiro ainda esse ano”, alertou.Após a “aula”, fomos desbravar a Campus Party. A velocidade de entendimento e processamento é admirável. Diversas palestras acontecem simultaneamente, no centro fica um oceano de computadores, alguns até “tunados”. A exemplo do fanático por automóveis, os geeks, como eles mesmo gostam de ser chamados, transformam e turbinam o desempenho e o visual de suas máquinas.Apesar de alguns ainda terem o perfil clássico do nerd, isso também mudou. Hoje em dia, qualquer um pode ser um nerd, independentemente do uso de óculos fundo de garrafa. E isso não é mais vergonhoso. Pelo contrário, é cool! Afinal, quem não entender o mundo em que vivemos, inevitavelmente, não participará ativamente da transformação que acontece pela rede.Muitos geeks, acampados no interior da Campus Party durante os sete dias de evento, passam o dia jogando games como Counter Strike, Call of Duty e Pro Evolution Soccer 2011. Em um canto curioso do imenso salão do Expo Imigrantes, alguns “campuseiros” assistem a uma apresentação de música eletrônica, uma mistura techno psicodélica, para eles até nostálgica, já que remete a trilhas de alguns jogos antigos, quando os bits ainda não eram abundantes nos videogames. O interessante é que, para eles, aquilo é um concerto, analisado em um silêncio absoluto na plateia.André Mariano, que acabara seu solo de guitarra no clássico Guitar Hero, comentou sobre a importância do evento. “Pra mim, isso é demais! Jogar e encontrar seus amigos, aqueles que você nunca conheceu, mas são seus amigos na rede”, revela.Patrick Dias, que veio de Campinas e dormirá no camping durante os seis dias, de 17 a 22 de janeiro, disse que essa não é sua primeira vez na Campus Party e não será a última. “De férias na escola, o que eu faria seria isso (ficar online) de qualquer maneira, mas em casa.”Mais um em meio aos milhares de computadores, Edney Souza estava ali com outro objetivo. Considerado um dos grandes pensadores virtuais no Brasil e no mundo, o “Interney”, como é conhecido na rede, é responsável pela área Social Media, da Campus Party 2011. Segundo ele, seu trabalho começou em julho do ano passado, justamente nas redes sociais. “A área de Social Media é feita de forma colaborativa. Pedimos sugestões para todo mundo, trocamos ideia no meu blog, divulgo no meu Twitter, e a galera manda sugestões, possíveis palestrantes, temas interessantes. A partir daí, começamos a construir uma programação. Este ano, no caso, ficou pronta em outubro”, contou ele.Sobre a promoção do internauta brasileiro ao primeiro time do mundo virtual, Souza teve uma opinião semelhante a de Marcelo Branco. “Quanto à gadgets, ainda estamos atrasados. O brasileiro tem vantagem no sentido de querer estar em contato com pessoas, de querer compartilhar sua vida e suas experiências com pessoas e saber o que está se passando no mundo.”Interney comemorou também o fato de que, de pouco tempo para cá, o brasileiro entendeu que, além de estar conectado a outras pessoas, a rede possibilita a oportunidade de construção de conteúdo relevante, como textos, vídeos, fotos, podcasts. “Expressar-se em diferentes meios e ter uma presença mais participativa e construtiva”, resumiu ele.Em sua previsão para o futuro, Edney Souza disse acreditar que a maioria ainda está assimilando as mudanças e que, em um futuro próximo, vamos parar de discutir a internet e passar a simplesmente vivê-la, pois será muito mais natural em nossas vidas. “Não é um vício ou uma necessidade de estar conectado, é simplesmente natural”, terminou.Como todo bom explorador, o site da Brasileiros estará trabalhando direto da Campus Party nesta quinta-feira e sexta-feira, trazendo tudo o que de melhor acontece nesse admirável mundo novo. Fique ligado!
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