Em entrevista gravada para o programa Roda Viva, na tarde desta segunda-feira, o ex-governador mineiro e senador eleito Aécio Neves falou com entusiasmo de uma nova cara do PSDB para 2014, que em nada lembra o partido derrotado pela terceira vez consecutiva nas eleições presidenciais deste ano.
Este partido tem a cara dele, é claro, mas Aécio tomou todo o cuidado do mundo para não personificar a tese da “refundação” do PSDB e não antecipar as discussões sobre o nome dos tucanos para 2014, antes mesmo que a presidente eleita Dilma Rousseff, tome posse.
Depois de três semanas de férias, o ex-governador voltou bronzeado, animado e afiado no discurso para assumir o papel de principal líder da oposição assim que o Congresso Nacional reabrir suas portas no começo de fevereiro.
Diálogo com todas as forças políticas, reformas constitucionais, meritocracia no funcionalismo público, aproximação com os sindicatos, ética na política, resgate das bandeiras da social-democracia, defesa das privatizações feitas no governo FHC: Aécio voltou com o cardápio completo de futuro candidato que, por enquanto, só quer discutir o programa do partido.
Para não perder tempo, acompanhado apenas da fiel assessora de imprensa Heloísa Neves, Aécio almoçou antes do programa com o governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin, e saiu dos estúdios da TV Cultura direto para uma conversa com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o primeiro político a lhe telefonar quando saiu de férias após a campanha eleitoral.
O diálogo com a oposição começa nesta terça-feira, em Brasília, num jantar já marcado com o governador reeleito de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente nacional do PSB, um dos seus intelocutores preferidos.
Os dois vivem se elogiando mutuamente e seus nomes estão em todas as listas de presidenciáveis para 2014, apontados como as novas grandes lideranças políticas do pós-Lula. No Brasil, como sabemos, mal acaba uma campanha eleitoral, e já começa a discussão de nomes para a próxima.
Num momento em que “tem muita gente tirando senha na fila para dinamitar pontes”, como disse na entrevista, Aécio quer desde já ser ele mesmo a ponte com partidos que estiveram “do outro lado” na eleição nacional, mas o apoiaram em Minas, como é o caso do PSB e do PDT.
É o ponto de partida para romper o crescente isolamento dos tucanos que esvaziou seus palanques em 2010, na maior parte do país. “Sou um tucano, como vocês sabem”, brincou Aécio, que evitou as bolas divididas.
O senador eleito, porém, admitiu erros na última campanha presidencial, como incorporar o discurso conservador e temas religiosos no segundo turno. “Isto foi um retrocesso, não só para o partido como para o país. Não deve se repetir”.
De bem com a vida, Aécio constatou que “está faltando arte na política”, citando várias vezes seu avô Tancredo Neves para contornar perguntas sobre o fato de ser “a bola da vez” na oposição, depois de se ver passado para trás na fila tucana em 2006 e 2010. “Um ensinamento de Tancredo foi nos mostrar que, em política, as oportunidades têm que surgir naturalmente, não podem ser uma obsessão, um desejo pessoal”.
O entrevistado riu quando comentei que, às vezes, isto acontece Aécio garantiu que não quer disputar nenhum cargo no partido, e só pensa no momento em exercer seu mandato de senador. Como bom mineiro, sabe que precisa agir com cuidado porque José Serra ainda não desistiu nem de controlar o PSDB nem de uma nova candidatura presidencial.
Vale a pena assistir à entrevista, que irá ao ar hoje pela TV Cultura, a partir das 22 horas. Velhos amigos, Aécio e Marília Gabriela, a apresentadora do programa, deram uma lição de como é possível falar de política com leveza e bom humor, sem confundir cara feia com seriedade.
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