O cenário não poderia ser mais assustador: agosto, o mês do desgosto, de tão tristes lembranças na vida nacional, vai começar com a CPI da Petrobras instalada e o Senado literalmente prostrado no chão pelo conjunto da obra de desmandos que levou à destruição da sua imagem e credibilidade.
É uma contradição evidente. Os leitores poderão me perguntar que moral têm estes 81 senadores para investigar o que quer que seja, depois que quase nenhum deles ficou de fora do circo de horrores revelado em diárias denúncias da imprensa.
Mas esta é a realidade que nos espera. A esperança de suas excelências é que o barulho em torno da CPI da Petrobras abafe os escândalos internos e tire o Senado das manchetes mais policiais do que políticas, jogando o desgaste que sofrem para as costas da maior empresa do país e do governo que a controla.
Passada a régua neste primeiro semestre, que já foi de assombrar fantasmas, a prevista crise econômica, em fase de superação, foi largamente superada pela crise política, que começou com a eleição das Mesas do Congresso Nacional.
Ao romper o acordo estabelecido na eleição anterior, que previa a presidência da Câmara para o PMDB, com Michel Temer, e a do Senado para o PT, com Tião Viana, a base aliada do governo deu início a uma guerra sem fim que abriu espaço para a oposição criar a CPI da Petrobras – e o resto é consequência.
A esta altura do jogo, mais arrependidos do que José Sarney ao impor seu nome para presidir o Senado pela terceira vez, devem estar os articuladores políticos do governo no Congresso, a começar pelo próprio presidente Lula.
Preocupado em demasia no seu objetivo de jogar todas as suas fichas para fazer o sucessor (ou melhor, sucessora) em 2010, sacrificando Tião Viana e o PT para garantir o apoio do PMDB, o presidente pode ter colocado em risco a biografia e o seu patrimônio de popularidade neste ano e meio que lhe resta de governo.
Ao fazer de tudo para salvar Sarney e manter unida a base aliada para sustentar a candidatura Dilma, Lula acabou associando seu nome e sua imagem às oligarquias e práticas que condenava no passado, obrigando-se a posar em palanques ao lado de Collor e Renan, seus algozes na campanha presidencial de 1989.
O que os 80% de eleitores que hoje apóiam Lula pensarão sobre as fotografias de Alagoas publicadas pelos jornais de hoje só saberemos quando saírem as próximas pesquisas.
Só uma coisa é certa: não foi este certamente o quadro imaginado por Lula no começo de 2009, antes das eleições para as direções da Câmara e do Senado, quando a economia começou a dar os primeiros sinais de recuperação e ele voava em céu de almirante, feliz da vida com o próprio governo.
“Só não podemos errar na política”, repetiu várias vezes o presidente Lula para ministros e assessores no início do seu primeiro governo, quando a oposição e setores da mídia assustavam a população prevendo o cáos econômico instalado no país.
As dificuldades iniciais foram superadas, o país voltou a crescer, milhões de novos empregos foram criados, a renda dos trabalhadores aumentou, as empresas lucraram como nunca, mas na área política vimos uma sucessão de crises nas relações com o Congresso Nacional.
Mais uma vez, foi o que aconteceu este ano: os indicadores sociais e econômicos continuam garantindo a altíssima aprovação do presidente, já na reta final do seu governo, quando normalmente acontece o contrário e a popularidade dos presidentes declina.
De outra parte, desde a eleição para a presidência do Senado, a articulação política revelou-se um desastre, o que deixa graves sequelas para o segundo semestre. O calendário informa: queiramos ou não, agosto vem aí.
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