Alarmismo inflacionado

Na última sexta-feira, 12 de abril, a Seminários Brasileiros, realizou o terceiro evento da série Rumos da Economia, desta vez, debatendo o tema Nosso Modelo de Crescimento. O ponto alto do encontro foi a participação do ministro da Fazenda Guido Mantega, que expôs uma apresentação otimista, intitulada Perspectivas da Economia Brasileira. O evento teve a participação de mais 400 pessoas e, após o encerramento, jornalistas de diversos veículos abordaram Mantega com o tema da semana “a volta da inflação” simbolizada por setores da imprensa pela estratosférica alta do preço do tomate.

Para aqueles que acompanharam o discurso do ministro no seminário e também em transmissão ao vivo, via internet (confira a íntegra na TV!Brasileiros), o simples gesto de ir à banca de jornal no dia seguinte suscitou a conclusão de que Mantega vive em outro País, visto que duas das maiores revistas semanais do Brasil chegaram às bancas com capas e manchetes quase idênticas, sugerindo a milhões de leitores que um novo dragão da inflação há de surgir a partir da “pisada no tomate” da presidenta Dilma Rousseff.

Em medida emergencial para acalmar os ânimos, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central  elevou ontem a taxa Selic em 0,25%. Entrevistamos o jornalista Luís Nassif para repercutir esta e outras questões.

Brasileiros – Na última sexta-feira, realizamos um seminário com participação do ministro Mantega e ele esbanjou otimismo. No fim de semana, o alerta da nova escalada da inflação foi disparado em duas das principais revistas semanais do País. O que há por trás dessa divergência?

Luis Nassif – O que está acontecendo em relação a essa suposta ameaça de volta da inflação é terrorismo barato… Aliás, barato não, bem caro para o País. E este é um jogo com dois tipos de interesse: o daqueles que ganham com as taxas de juros, o pessoal que joga no mercado especulativo, e o interesse dos que querem usar a inflação por propósitos políticos. Aproveitaram esse momento específico, de ápice do nervosismo, porque ultrapassamos em 0,09% o teto da meta do último ano. Mas sabe-se que nos próximos meses a inflação vai cair, como aconteceu no último trimestre.

Brasileiros – Foi correta a decisão de elevar a Selic?

Luis Nassif – O Banco Central acabou dando este aumento de 0,25%, porque foi grande o alarido da inflação e inflação é algo que aumenta até mesmo com a expectativa de que ela virá. Fazem tanto carnaval sobre ela que o sujeito conclui “eu não tenho razão para aumentar os preços, o mercado não está aquecido, não tive aumentos de custo, mas, se todo mundo aumentar e eu não, vou ficar para trás”. Então, existe um grande risco de contaminação, pois este terrorismo na opinião pública pode transformar o ato em fato.

Brasileiros – E o aumento anunciado ontem vai trazer, de fato, algum impacto ao mercado?

Luis Nassif – Duvido e defendo que o aumento foi efetivamente para silenciar os alarmistas. O mercado, inclusive, esperava que o Banco Central não mexesse no juro básico agora e somente em maio, mas mudou de opinião na última semana quando a presidente Dilma disse que poderia aumentar os juros, para conter uma eventual ameaça da inflação. O Banco Central deu o que o mercado esperava 0,25% de aumento. O que não é nada. Não impacta o mercado e nem mesmo a inflação, mas cala a boca dos alarmistas. Na próxima reunião do COPOM, como a inflação já cedeu no último trimestre e deve continuar cedendo, não veremos essa polêmica. A medida de ontem serviu exclusivamente para apagar o incêndio e baixar o terrorismo dos últimos dias.

Brasileiros – Portanto, tamanha repercussão negativa em setores da imprensa serve a outros interesses como, por exemplo, a corrida eleitoral de 2014?

L.N. – A grande mídia não tem o menor interesse em manter a estabilidade do País. É o poder pelo poder. Não importa se vai avariar a economia ou se vai paralisar o mercado. O interesse deste setor da imprensa não é o mercado publicitário e nem os assinantes é o poder.

Brasileiros – Uma dessas publicações semanais chegou a falar em “corrosão da credibilidade da política econômica brasileira”, no cenário internacional…

L.N. – Lógico, nossa política econômica necessita de um monte de ajustes e, às vezes, até acho o Mantega um ministro fraco, mas não tem nada de corrosão. O que eles querem mesmo é demolir a imagem da presidente Dilma com vista nas eleições de 2014. Algo muito ruim para o País, pois tem um conjunto de críticas que até poderiam ser feitas, mas que não são levantadas em nome desta desmoralização por pura manipulação de interesses.


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