Alegria, Alegria

Nesta página, Caetano Veloso fotografado no Rio, em 1977, durante o lançamento de seu livro Alegria. Foto: Helio Campos Mello.
Nesta página, Caetano Veloso fotografado no Rio, em 1977, durante o lançamento de seu livro Alegria, Alegria. Foto: Helio Campos Mello.

Caetano Veloso assume aqui – com humor exemplar – a pecha de miolo mole. O mimo não é novo e lhe foi regalado, tempos atrás, por José Guilherme Merchior.

Polemista, assim como Caetano, Merchior morreu jovem, aos 49 anos de idade, em 1991.

Segundo a direita, ele foi um pensador liberal. Já para alguns setores da esquerda, ele era “o intelectual da ditadura”. Apesar disso, sua vasta bagagem cultural o fazia respeitado por outros setores da esquerda que o consideravam um interlocutor de qualidade.

José Guilherme Merchior, que morreu antes que o neoliberalismo desse as caras por aqui, foi um marxista que virou liberal, que migrou da esquerda para a direita e trabalhou como assessor de Leitão de Abreu, chefe da Casa Civil, de Figueiredo, o último dos generais da ditadura que ocupou o Palácio da Planalto. Pouco antes de morrer ele também flertou com Collor.

Sobre nosso personagem de capa, Merchior disse que não compartilhava com uma “visão pateta do Brasil de que os grandes astros da música popular são intelectuais” e considerava Caetano Veloso “um pseudointelectual de miolo mole”.

Certo ou não, importante é que, na entrevista que deu à Brasileiros, Caetano enverga com didática tranquilidade a já empoeirada comenda.

A atitude do artista contrasta com a desenfreada intolerância com o contraditório e com as diferenças que hoje vivemos.

São tristes tempos em que a incompreensão e o preconceito se traduzem em burrice motivada e sustentada. Tristes porque exigem dispêndio de preciosa energia para gerenciar o desalento que aflora ao navegar pelas redes sociais, cada vez mais antissociais.

As diferenças, políticas, religiosas, de orientação sexual, sejam elas quais forem, geram frutos carregados de ódio e veneno, e detonam reações cada vez mais destemperadas.

E nesse panorama bélico, nesse teatro de operações em que vivemos, é interessante ver a atitude de Caetano e suas respostas aos nossos entrevistadores. Mesmo que possamos não concordar com o que ele diz.

E nem com o que pensava Merchior.

Nesta página, Caetano Veloso fotografado no Rio, em 1977, durante o lançamento de seu livro Alegria, Alegria, escrito em parceria com Waly Salomão. A obra foi publicada pela Editora Pedra que Ronca, de Waly e sua mulher Marta.


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