Almoço com Zezé e Luciano: de voz boa e disco novo, pé na estrada

Demorei um pouco para abrir os trabalhos aqui hoje, mas foi por um motivo justo: fui almoçar com os 2 Filhos de Francisco, também conhecidos por Zezé Di Camargo e Luciano, que há tempos eu não via, desde a estréia do filme do mesmo nome, já faz três anos.

Trago boas notícias: depois de dois anos sem gravar, eles estão de CD novo na praça e, no final desta semana, começam pelo Nordeste os shows de lançamento que irão levá-los a dar mais uma volta pelo Brasil. No domingo à tarde, fazem uma escala no Faustão, e depois seguem viagem novamente.

Melhor ainda: Zezé de Camargo recuperou 100% da sua voz, “depois de passar um ano de terror”, como nos contou durante o almoço no Buddha-bar do Lounge Daslu.

De bom humor, os irmãos Mirosmar e Welson enfrentaram a maratona de entrevistas exclusivas programadas para Zezé e Luciano durante todo o dia pela onipresente assessora de imprensa Aleyde Caldi, há 17 anos tomando conta da dupla.

No final da tarde, ainda os aguardava uma coletiva para jornalistas da internet. Já sem medo de perder a voz, Zezé não reclamou de ter que responder sempre às mesmas perguntas sobre os motivos que o levaram a ser operado das cordas vocais, em maio último, pelo dr. Luiz Cantone, um discípulo de Paulo Pontes, o papa dos cirurgiões nesta área.

Zezé di Camargo conta a seguir o que aconteceu com ele e porque ficou dois anos sem gravar um novo disco com Luciano.

“Não perdi a voz, como alguns andaram dizendo, tanto que este ano já fiz 120 shows até agora, e vou continuar fazendo, até a véspera do Natal. Acontece que eu fui perdendo a qualidade da voz, já estava só com 70% do potencial que tinha antes”.

Perfeccionista com tudo que se refere ao seu trabalho, ele simplesmente não se sentia á vontade para gravar um disco novo.

“Descobri que eu tinha um cisto congênito, que foi ficando cada vez mais renitente, não deixando encostar uma corda vocal na outra. Quando dava um agudo mais forte, eu não conseguia mais segurar a afinação. Sabe como é? Você não consegue mais fazer a voz do jeito que quer, parece que fica uma fenda no meio”.

Para ser mais explícito, Zezé pede licença às moças que estão à sua volta e busca uma explicação mais pedagógica na anatomia feminina.

“Sabe a xoxotinha? Pois, então, é a mesma coisa: se tem um obstáculo, que é o cisto, não se consegue juntar os dois lados”

Agora Zezé até acha graça do que passou, mas antes de se decidir pela cirurgia passou por cinco médicos e ficou muito inseguro, com medo de não poder mais cantar.

Paulo Pontes lhe explicou que não poderia dar garantia nenhuma porque não é Deus. O cantor optou então por Cantone, que lhe deu mais confiança, ao dizer que, se não o deixasse com a mesma voz de antes, fecharia o consultório e largaria a profissão.

A voz ficou tão boa e o deixou tão seguro que Zezé agora não se importa de passar o dia todo contando histórias de viagens e lembrando as piadas que ouve por aí que não pode repetir em casas de família.

A que ele nos contou do Pantanal é verdadeira. No ano passado, junto com um amigo mineiro e o guia-piloteiro partiu para uma pescaria passando por tantos labirintos pantaneiros que eles acabaram se perdendo perto de uma pequena aldeia indígena.

De longe, Zezé viu um índio velho arrumando sua canoa, uma família grande em volta e dois meninos de uns sete, oito anos, que chegaram até a beira do rio, onde ele estava.

Perguntou o nome do menino mais falante e, quando o indiozinho lhe perguntou o seu, respondeu com o nome de batismo, Mirosmar, pelo qual ninguém o chama ou conhece. Seguiu-se o diálogo:

“O senhor que é o cantor, o Zezé de Camargo?”

“Sou eu mesmo, mas como é que você sabe que meu nome é Mirosmar”.

“Passaram para nós lá na escola o filme em que o senhor aparece de pequeno”

Dali a pouco, outros índios se aproximaram e, da cabana, o compositor pode ouvir o som de músicas do seu segundo disco tocadas em fita cassete. “Fiquei até encabulado, não esperava ser reconhecido ali”, conta Zezé, que se divertiu tirando fotos dos índios e posando para eles.

“Zezé di Camargo & Luciano 2008″ é o 20º álbum desta dupla, que já vendeu 26 milhões de cópias em 17 anos de carreira _ ou seja, 3 discos/CDs por minuto.

Conheci os dois quando cantaram nos comícios de Lula durante a campanha presidencial de 2002 e os reencontrei anos depois, junto com minha filha Carolina, que foi uma das roteiristas, no lançamento de “2 Filhos de Francisco”, o filme que foi visto por mais de 5 milhões de espectadores, um dos campeões de bilheteria do cinema brasileiro.

Depois de passar duas vezes na Rede Globo, ficar um mês em cartaz no canal Telecine e vender 670 mil cópias em DVD, sem falar nas cópias piratas e nos filmes alugados, Zezé acredita que “2 Filhos” já tenha sido visto por mais de 80 milhões de brasileiros.

Mas ele conta isso com a mesma simplicidade e sem-cerimonia de quem lembra de mais uma piada de gaúcho com mineiro. Até me esqueci que estava almoçando na Daslu

Nem deu para falar mais com o Luciano, o irmão mais novo, que estava conversando com outros jornalistas, e já tinha mais um monte esperando na fila. Fica pra outra vez, Luciano. Valeu, Zezé.


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