NOTA DEZ Kátia Bezerra de Sousa, 23 anos, cursa o segundo ano de pedagogia

Você vai passear, nas páginas seguintes, pela paisagem de um sonho bonito: aquele compartilhado por figuras como Edevilton Santos, de Salvador, Bahia; Kátia Bezerra e Arthur Medeiros, de São Paulo, capital; e Adão Wesley, de Londrina, Paraná, entre outros. Um sonho chamado faculdade. O que os personagens têm em comum é o piso que ocupam no estrato da sociedade. Fazem hoje parte do imenso contingente da classe média. O que tecnicamente distingue a classe C daquelas do andar inferior é que ela produz renda que vai além da cesta básica da sobrevivência imediata e deixa algum excedente. Tirando comida, transporte e saúde, a sobra pode se transformar em investimento. Mesmo que seja um investimento imaterial, impalpável e de longa maturação como uma carreira universitária.

Os personagens-símbolo que a Brasileiros selecionou encarnam um prodigioso fenômeno. De 2003 para cá, perto de 30 milhões de brasileiros subiram o elevador social e se instalaram na plataforma da chamada classe C. A estatística é do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (Rio). Em outras palavras, todo esse robusto contingente deixou para trás o fantasma cotidiano da carência e da miséria. Trata-se do maior rearranjo para cima nos estratos de uma nação na recente história da humanidade, desde o boom do crescimento japonês no pós-guerra. Sinal de que a redução da desigualdade pode ser praticada muito além das miragens dos palanques eleitorais e que, como assinala o Prêmio Nobel Paul Krugman, ao exorcizar o vodu dos neoliberais de lá e daqui, repartição de riqueza não põe em risco a estabilidade da economia.

Coincidência ou não, foi no governo Lula que a classe média passou a ser maioria no País – 94,9 milhões de brasileiros. Se você tomá-la em seu conjunto, ela detém mais riqueza que o andar de cima da sociedade. Repetindo: o volume total de riqueza é maior, embora, em termos de renda per capita, a classe A, mais reduzida, é, claro, campeã disparada. Os neoemergentes da era Lula ganharam o status de cidadãos que consomem. Consomem os eletrodomésticos das Casas Bahia, mas também consomem entretenimento, e aí estão as multidões da CVC Turismo acotovelando-se nos voos para Paris. Dão um upgrade em seus automóveis, mas também buscam conhecimento e cultura. Nesse quesito, o acesso à universidade – a pública, mas principalmente a particular – acelera com energia de furacão. Confiram aqui: em uma década, entre 1991 e 2000, o número de instituições de ensino superior no Brasil aumentou timidamente, de 893 para 1.180 (crescimento de 30%); de 2000 para cá, o número quase triplicou; acaba de chegar a três mil instituições.

O boom tem nome e sobrenome: das faculdades brasileiras, nove entre dez são particulares, e quem anda se acotovelando em suas salas de aula é a nunca assaz citada classe C. Pagar mensalidade não é das coisas mais fáceis para os pais de famílias ou para os próprios alunos. A boa notícia é que fazer universidade pode ser um bom investimento para o futuro. No Brasil, possuir diploma superior, diz pesquisa da Hoper Educacional, causa um aumento salarial de 171% na renda média do indivíduo (nos extremos, estão a China, onde um diploma triplica o salário, e os Estados Unidos, onde o salário só se valoriza em 62%). A má notícia é que nem sempre o ensino ministrado está à altura das expectativas de quem está ali, tresnoitado de lições, ralando para pagar pela sua utopia possível.

Pesando prós e contras, a balança pende para o otimismo, acredita Paulo Stephan, diretor de mídia da Talent e coordenador das pesquisas que abastecem os insights de uma das mais influentes agências de propaganda do País. Stephan se diz “um compilador”, não um pesquisador. Mas é arredondando estatísticas geradas por órgãos públicos tipo IBGE e IPEA e por companhias particulares que Stephan supre de informações clientes tipo NET e Banco Santander, ávidos por ampliar seus mercados nos andares de baixo da sociedade. Afinal, como diz Stephan: “É na classe C que o dinheiro está”. Não por acaso, o Banco Real, uma das bandeiras do Santander, oferece hoje crédito diferenciado para que os universitários possam custear seus sonhos.

Aqui, o diretor da Talent resume para Brasileiros algumas das conclusões da pesquisa “Universitário, qual é a sua Classe?”, por ele ordenada:

São Paulo
por Diogo Mesquita

Arthur Medeiros de Oliveira

“Nunca tive luxo, nem do bom e do melhor, mas não faltavam o arroz e o feijão.” Assim Arthur Medeiros de Oliveira, 20 anos, define sua infância. Mas, nem por isso, o jovem se fez de vítima. Ele correu atrás dos objetivos e, hoje, graças ao próprio esforço está no segundo ano do curso de Administração de Empresas na Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, além de fazer estágio no Banco Santander.
Oliveira foi criado pela avó e o tio em Guarapari (ES). Ela era zeladora de prédio e ele, dono de uma banca de revistas. Aos 16 anos, veio para São

Paulo morar com a mãe, copeira no Banco do Brasil, e com o padrasto, motorista particular. Em comum, as quatro pessoas que o criaram nunca tiveram oportunidade de ingressar em uma universidade, com exceção do tio, Álvaro Pinheiro de Oliveira que, hoje, aos 34 anos, cursa o último ano de Direito em uma universidade particular no Espírito Santo. Ele conta com uma bolsa de estudos concedida pelo Programa Universidade para Todos (ProUni), que foi conquistada pelo bom desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).
Vendo uma oportunidade que até então desconhecia, Arthur, na época, recém-formado no ensino médio em uma escola pública, resolveu enfiar a cara nos estudos e também se arriscou. Com o bom resultado no ENEM e, após ter sido considerado apto para receber uma bolsa de estudos por conta de sua condição socioeconômica, conseguiu isenção de 100% na mensalidade do curso universitário por meio do ProUni.
Ele diz que é um aluno aplicado, pois valoriza o que conquistou. E sabe que nunca teria uma oportunidade como essa anos atrás. “Era tudo muito estreito e limitado. Faculdade particular era coisa para as classes A e B. Mas a situação mudou. Exemplo maior disso é o meu tio, que só depois dos 30 anos teve a oportunidade de ingressar em um curso superior”, afirma.


Kátia Bezerra de Souza
Kátia Bezerra de Sousa, 23 anos, trabalha na área de bancas e distribuição na Brasileiros, e sempre soube o que queria da vida e o que fazer para conseguir. E ela aprendeu essa lição de forma muito dura. Sua adolescência não existiu. Por conta da complicada situação financeira da família, a então menina se viu obrigada a se transformar precocemente em mulher e arranjar um emprego para colaborar com a renda familiar. Isso tudo quando ela tinha apenas 10 anos.
Filha de uma diarista, seu primeiro trabalho foi como babá. Aos 16 anos, após muitos bicos, ela se inscreveu em um curso especializado em direcionar jovens ao mercado de trabalho e, pouco depois, conseguiu uma vaga na empresa multinacional de ar-condicionado Springer Carrier.
Com um emprego estável e prestes a se formar no ensino médio, tudo parecia ir bem, porém, foi nessa época que a vida lhe passou a maior das rasteiras, com a morte do pai.
Com isso, Kátia naturalmente passou a
contribuir muito mais em casa, o que a impossibilitou de ingressar em um cursinho para tentar vaga em uma universidade. Ela até prestou vestibular em instituições públicas, porém, formada em escola pública, não conseguiu média suficiente para entrar. Mas, em 2006, após um ano longe dos estudos, a história de Kátia começou a mudar. Ela foi contratada como auxiliar administrativa no escritório Trench, Rossi e Watanabe Advogados. “Foi aí que tive condições de realizar meu sonho, e o sonho que o meu pai tinha, de me ver em uma faculdade”, diz ela.
Pagando mensalidade, Kátia frequentou durante um ano o curso de Letras da Universidade de Santo Amaro (Unisa), antes de pedir transferência para a Pedagogia da Universidade Anhembi Morumbi, onde também paga mensalidade integral. “Não vou dizer que é fácil. Grande parte do meu salário vai para a faculdade, mas eu pago feliz. Entre mim e meus dois irmãos mais velhos, serei a primeira a ter um diploma universitário”, comemora.

Diploma ajuda, sim – “A diferença de oportunidades, no Brasil, é brutal entre quem tem e quem não tem diploma superior. E não se trata só do título universitário, em si. Frequentar uma faculdade tende a qualificar você a ser um cidadão mais bacana. A simples convivência com pessoas que estão mirando um futuro melhor ajuda muito. É o acesso a um outro mundo, diferente daquele da casa e do trabalho. Você passa a ser mais informado, se interessa por leitura, vai mais ao cinema e a shows de música. A universidade estimula você a ser um cidadão culturalmente excitado e intelectualmente mais maduro.”

(Dos 6,5 milhões de estudantes de graduação no Brasil, 31,4% têm renda familiar entre um e cinco salários mínimos. De acordo com pesquisa Ipsos Marplan, são: consumidores com desejos e poder de consumo, têm preparo para saber o que querem, pois têm informações disponíveis, consomem muita mídia e consomem marcas e produtos cada vez mais qualificados. Quase todos, 96%, acessam a internet, mais da metade, 52%, assina TV paga e uma enorme maioria, 94%, acredita que estará melhor no futuro.)

A qualidade do ensino – “Se há escola particular ruim? Claro que sim. Assim como há escolas boas e ótimas. De todo o modo, melhor uma faculdade ruim do que nenhuma faculdade. E existe um fenômeno que se deve levar em consideração: como o ensino público paga mal, ou simplesmente não paga, começa uma migração para instituições particulares de muitos desses professores altamente credenciados. Digo com tranquilidade que o padrão docente mudou. E a instalações, então… A UNIBAN, para dar um exemplo de vários, tem campus em São Paulo do nível de Harvard. Até geograficamente, o ensino superior se transformou. As escolas procuram se aproximar de seus novos públicos e dos mercados que seus alunos irão futuramente atender.”

(Pode parecer um despropósito que Fortaleza, no Ceará, tenha, só a capital, quatro cursos superiores de moda. Onde é que essa gente toda irá procurar emprego no futuro? O Ceará é, na verdade, um vibrante polo da indústria têxtil e da confecção de roupas. Tem uma das mais criativas semanas de moda do Brasil, a Dragão Fashion, que existe há 11 anos. Dela saíram estilistas hoje consagrados no mundinho da moda, como Samuel Cirnansck e João Pimenta. Faz todo o sentido.) Os pensadores e os pragmáticos - "A universidade pública, por tradição, sempre formou mais pensadores que profissionais voltados para o mercado. Gente criativa, que ajude a pensar o mundo, a ciência, as relações humanas, é imprescindível no processo de amadurecimento de uma nação. Mas não se deve descuidar do olhar prático para o mercado, de forma a prospectar as melhores oportunidades de trabalho. Hoje em dia, para cada pensador acadêmico é preciso ter 100 técnicos que façam a economia andar para frente. Daí a irrupção desses cursos mais rápidos, mais curtos, mais, digamos, urgentes, do ponto de vista de quem tem pressa de se empregar. Cursos para formar gente para ir ao trabalho no dia seguinte. O que antes parecia nicho, profissão quase experimental, hoje é onde o mercado de trabalho se expande. Penso em cursos como os de fisioterapia, moda, fotografia, informática, turismo, gastronomia. Meu filho está cursando gastronomia na Anhembi Morumbi. Em dois anos, estará formado. Pode ter mais facilidade de se empregar que um engenheiro."

(A Anhembi Morumbi, citada por Paulo Stephan, é um case extraordinário. Foi fundada 30 anos atrás para formar profissionais do turismo. Turismo era, à época, do ponto de vista do prestígio social, a franja da franja. Atualmente, sempre atuando em territórios menos convencionais, como gastronomia, quiropraxia, design digital, teatro, dança, estética e aviação civil, mas também já se esparramando por áreas de Saúde e de Direito, de Marketing e de Tecnologia, a Anhembi Morumbi acolhe 25 mil alunos nos cinco campus de São Paulo e, depois de se associar, em 2005, à rede do Laureate International Institute oferece intercâmbio com 35 universidades em 20 países diferentes.)
Bahia por Katherine Funke
José Bomfim Pitangueira

Filho de uma professora e de um lavrador, José Bonfim Pitangueira, 31 anos, migrou do interior da Bahia para a capital na década de 1990, depois que a vassoura-de-bruxa pegou os produtores de cacau de surpresa, destruiu plantações e trouxe o desemprego. Em Salvador, o pai se tornou taxista, mas a renda familiar não permitia luxos. Bonfa, como é conhecido, cursou os ensinos médio e fundamental em escola pública e desde pequeno teve de aprender "a se virar". Fez carreto na feira, vendeu açaí

na praia, foi promotor de vendas de sandálias, servidor da Marinha e sinalizador de pista de aeroporto. Nunca pensou em fazer faculdade. Mas, no final deste ano, o baiano vai se formar produtor audiovisual pelo Centro Universitário Jorge Amado (UNIJORGE). Chamado de graduação tecnológica, esse curso universitário tem apenas dois anos de duração. Hoje, Bonfa tem em vista trabalhos muito mais rentáveis do que todas as suas atividades anteriores. "Eu estava meio perdido, até que, seis anos atrás, comecei a trabalhar no laboratório de TV dessa faculdade por intermédio de um amigo", conta. Bonfa trabalha durante o dia nesse laboratório e estuda à noite. Tanto esforço tem valido a pena: ele recebeu um prêmio do Ministério Público do Trabalho por um vídeo feito na universidade e, por ser funcionário da UNIJORGE, obtém 70% de bolsa de estudo. Com a bolsa, paga apenas R$ 137 de mensalidade (o valor total é de R$ 457, 71). Do salário de R$ 700 que recebe no laboratório, ele reserva R$ 200 para ajudar na casa da sogra, no bairro da Federação (região central de Salvador), onde mora com a mulher e o filho recém-nascido. Sobra pouco dinheiro, mas ele já faz planos para o futuro. Quer continuar a estudar. Pretende aprender fotografia e iluminação para teatro.

Edevilton Santos e Santos
Na vida de Edevilton Santos e Santos, 22 anos, de Salvador (BA), tudo parece multiplicado por dois. Foi campeão baiano e brasileiro de caratê e, no final deste ano, vai ganhar outra graduação: a de bacharel em Direito. Detalhe, ele tem dois diplomas de ensino médio. Pela manhã, ia para o Instituto Federal da Bahia; à noite, para a Fundação Bradesco. Isso aconteceu porque ele passou nos dois testes e quando ingressou na fundação Bradesco, o Instituto Federal da Bahia - na época chamado de Cefet - estava em greve. Tudo isso incentivado pelo mestre Adilson, seu professor de caratê que cobrava disciplina e rendimento escolar. O aluno campeão, nascido no bairro de Castelo Branco, periferia de Salvador, tirou excelente nota no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e por essa razão conseguiu bolsa do Programa Universidade para Todos (ProUni), criado pelo governo federal em 2004. Passou em dois vestibulares. Poderia ter estudado na Universidade do Estado da Bahia (UNEB), pública e gratuita, mas a instituição passava por paralisação. Então, ele começou o curso na Universidade Salvador (UNIFACS), com a bolsa de estudos integral obtida pelo programa. A mensalidade do curso é R$ 895. "Não posso negar, se não fosse o ProUni eu não estaria aqui", afirma ele. Quando a UNEB voltou à ativa, Edevilton já tinha cursado um ano e meio na UNIFACS. A qualidade de ensino e a turma de colegas e de professores fizeram com que ele decidisse continuar na instituição privada. "Antigamente, eu tinha certo preconceito contra o ensino privado e ainda tenho, na verdade, grande preocupação com a mercantilização do conhecimento", diz. A família do futuro doutor Santos e Santos se orgulha dele. A mãe é professora de escola municipal e o pai, operário aposentado que já foi retirante. Atualmente, Edevilton faz estágio no Ministério Público do Trabalho e, no futuro, sonha em advogar e contribuir com projetos sociais.
O ensino particular não é caro para a classe C? "Com o extraordinário crescimento do ensino superior privado de dez anos para cá", diz Paulo Stephan. "Criou-se mais competição e o tíquete médio da mensalidade chegou a cair, em certas escolas, pela metade do preço. Tenho um amigo que dirige a UNICID. Até pouco tempo atrás, era a única da Zona Leste de São Paulo. Hoje, tem várias concorrentes na região. Competição força as escolas não só a reduzir a mensalidade, mas também a se aparelharem melhor e assegurarem um ensino de qualidade. As próprias universidades oferecem bolsas, o segundo filho de uma família paga menos, o terceiro, menos ainda. E, claro, há os programas oficiais de financiamento, como o ProUni (do governo Lula) e o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior, da Caixa Econômica Federal (Fies). O retorno esperado do universitário das classes A e B é ter mais que os meus pais me deram. O da classe C é: ter o que os meus pais não tiveram. Isso faz toda a diferença." A conclusão é que há uma fornada de "novos universitários" saindo das escolas e esse é um movimento que, como reitera Stephan, está apenas começando. Essa geração classe C será maioria e terá grande poder nas mãos. "Melhor conhecê-la direito", diz Stephan - com generosidade e sem preconceito. "A classe C está quebrando paradigmas e derrubando tabus. Em São Paulo, principalmente, a gente se acha, torce o nariz, despreza a cultura que não se parece com a nossa. Não vejo mal nenhum que a classe C goste de churrasco e forró. Cada vez mais, ela vai saber exigir um churrasco e um forró de melhor qualidade. Assim como vai viajar melhor, vai frequentar melhores escolas, vai votar melhor." É bom que a elite de nariz empinado, sempre desconfiada do populacho, aprenda. Aprender, está aí uma boa ideia. Já que o assunto é educação, quem sabe pesquisas como esta, do publicitário Paulo Stephan, não deixem na cabeça da gente uma intrigante reflexão? Toda vez que se fala em educação no Brasil, automaticamente pensa-se nos mais pobres e mais carentes. É notável injustiça. Dá para notar que, aqui, os mais ricos, especialmente eles, meros ventríloquos de "verdades" alheias, estão muito carentes de boa educação, de informação de qualidade e de maior conhecimento.
Paraná por Wilhan Santin
Leonardo Henrique Domingues da Silva

Rapaz de sorriso fácil, Leonardo Henrique Domingues da Silva, 23 anos, há seis meses vive a pensar em uma sigla de três letras: OAB. Recém-formado em Direito, ele se debruça sobre os livros nas poucas horas vagas que tem para conseguir a aprovação no exame da Ordem dos Advogados do Brasil. Mas, quando olha para trás e recorda as conquistas pessoais e de sua família nos últimos anos, fica com a certeza de que vai conseguir vencer mais uma etapa. Filho de um corretor imobiliário e de uma funcionária pública, Leonardo conta que, no ano passado, a família finalmente

conseguiu concluir a construção da casa própria. Ele, depois de passar quase a faculdade toda andando de ônibus, agora dirige um Gol 2009 e trabalha em um bom escritório de advocacia de Londrina (PR). Cursar Direito era sonho de menino. Porém, quando chegou a época da faculdade, a aprovação só aconteceu na universidade particular, com mensalidade perto dos R$ 500, justamente em uma fase em que a situação financeira da família Domingues da Silva não era das mais confortáveis. "Para pagar a mensalidade, eu precisava trabalhar, mas não foi fácil arrumar emprego. Só consegui depois de seis meses. Uma tia minha ajudou nas primeiras parcelas do curso", relembra o rapaz, que conseguiu emprego de office-boy em uma loja de calçados. No terceiro ano de faculdade, surgiu a vaga no escritório em que ele trabalha atualmente. O salário cresceu, e a vida melhorou. Quando atendeu à reportagem da Brasileiros, Leonardo estava a uma semana do temido exame da Ordem. Com um pouco de timidez, assumiu que, se fosse aprovado, começaria a pensar no casamento com a advogada Talita, 22, com quem namora há seis anos. "No começo do próximo ano, já começo a pesquisar a compra uma casa", afirma. Pelo jeito, mais uma família de classe média está prestes a começar.

Adão Wesley de Souza
Foi na educação que Adão Wesley de Souza, 22 anos, encontrou oportunidade para progredir. Nascido em um bairro pobre de Londrina (PR), ele perdeu pai e mãe ainda criança. Na avó, dona Geralda, morta há um ano, encontrou o rumo para uma vida digna. Ela o inseriu em programas sociais, dando ao menino chance de aprender mais do que o meio período de aulas nas escolas públicas podiam proporcionar. Em um desses projetos, da Escola Profissional e Social do Menor de Londrina (EPESMEL), Adão teve o primeiro contato com um computador. Encantou-se. Decidiu que trabalharia com informática para sempre, mas para isso seria preciso também estudar sempre, ponderava dona Geralda. O garoto entendeu o recado. Já cumprindo carga horária em uma indústria de embalagens como menor aprendiz, conquistou nota alta no ENEM e, com isso, o direito a uma bolsa de estudos por meio do ProUni no curso de Sistemas de Informação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Na universidade, Adão não deixou por menos, tratou de ser o melhor da turma. Como prêmio, ganhou da PUCPR mais um incentivo: uma bolsa de estudos e uma vaga no curso de mestrado da instituição. Há pouco mais de um ano, junto da mulher, Flávia Jaqueline, 24 anos, ele fez as malas e se mudou para Curitiba, onde faz o mestrado. Chegou à capital já com emprego garantido em uma empresa de desenvolvimento de software. Deseja continuar crescendo. Pretende fazer o doutorado nos Estados Unidos. "Sou muito feliz por todas as oportunidades que tive nos últimos anos. Agradeço a Deus e sigo adiante", comenta o rapaz, que não esconde que já almeja mais que a classe média.
Pai, avô, craque, cidadão


Comments

Uma resposta para “Alunos de classe”

  1. Avatar de Daniella Barretto
    Daniella Barretto

    Estou orgulhosa de ter conhecido uma pessoa como Edevilton Santos!

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