Alzira Soriano estava com apenas 22 anos quando o marido, Thomaz Soriano de Souza, morreu de gripe espanhola. Tinha duas filhas, estava grávida da terceira e, da noite para o dia, coube a ela administrar uma fazenda, a Primavera, no sertão do Rio Grande do Norte. Entre as novas tarefas, Alzira passou a coordenar a lida de vaqueiros.
“Embora fosse muito nova, ela tocou a fazenda, com tudo o que isso podia significar na década de 1920, no sertão nordestino”, conta o jornalista Rudolfo Lago, bisneto de Alzira. “Foi a personalidade forte dela que chamou a atenção das sufragistas”, completa, referindo-se à indicação de Alzira para disputar a prefeitura da cidade de Lajes.
O ano era 1928. As brasileiras só teriam direito a voto quatro anos mais tarde, pelo Código Eleitoral de 1932, mas uma lei estadual abriu uma brecha para a candidatura feminina: “No Rio Grande do Norte poderão votar e ser votados, sem distincção de sexos, todos os cidadãos que reunirem as condições exigidas por esta lei”.
Em contato com a sufragista Bertha Lutz, cientista de renome, Alzira lançou sua candidatura à prefeitura de Lajes. Na disputa com um major da região, ela amealhou 60% dos votos. Tornou-se então a primeira prefeita do Brasil – e da América Latina. A notícia saiu até no The New York Times, na edição de 8 de setembro de 1928.
À frente de um gabinete formado apenas por homens, Alzira investiu em obras de infraestrutura, como estradas e iluminação pública, mas ficou pouco tempo no posto. Caiu depois da ascensão de Getúlio Vargas ao Palácio do Catete, voltando à vida pública junto com a redemocratização de 1945. Foi eleita vereadora por duas vezes consecutivas.
Naqueles tempos, ela nem sonhava que em 2016 mais de 30% dos candidatos a prefeito e vereador do Brasil seriam mulheres.
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