O músico Tom Zé, capa da edição 26 da Brasileiros, é o patrono do Projeto Aldeinha, do artista tunisiano radicado na França Jean Paul Ganem. O trabalho de Land Art em solo brasileiro realizado pelo tunisiano é tema de matéria publicada no especial Arte!Brasileiros deste mês. Tom Zé se aproximou da construção desse jardim efêmero na beira da Marginal do Tietê, por sua paixão pela jardinagem e pelo aspecto social do projeto de Jean Paul. Abaixo, os dois artistas, em uma brincadeira proposta pela Brasileiros, trocam perguntas entre si.
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Ganem – Tenho uma pergunta sobre a sua relação com as plantas. Eu descobri isso assistindo ao documentário Fabricando Tom Zé. Num determinado momento, você fala que é o jardineiro do seu prédio… Depois, quando nos encontramos, me falou muito desse assunto, de suas várias experiências com a natureza… Cuidar bem do seu jardim não é uma maneira de cuidar bem da sua vizinhança, da sua cabeça e do seu relacionamento com a Terra?
Tom Zé – Quanto à vizinhança, caro Ganem, foi uma percepção aguda sua. Sou de um mundo onde todos se cumprimentam, se saúdam. O jardim realmente quebrou a timidez de algumas pessoas. Me vendo ali, com a mão suja de terra, passaram a me considerar um ser humano como qualquer outro. O restante de sua pergunta, assino embaixo. Faço de suas interrogações, minhas afirmações.
Tom Zé – Alô, Ganem! Na França deve haver milhares de “Jean Pauls”, mas o Brasil tem sorte e nos mandaram justamente o que tem “Ganem”. Que tal se eu pedisse aos gramáticos da língua portuguesa que considerassem uma nova maneira de conjugar o verbo ganir, perifericamente ligado a onomatopeias expressivas da dor de outra espécie zoológica-irmã, com o seguinte presente do indicativo: eu gano, tu gana(s), ele gana, nós ganamos, vós ganais, eles Ganem? Você tem movimentado tanto as periferias, que pode até inventar uma solução para movimentar e dar mais charme a este verbo. Que tal?
Ganem – Querido Tom Zé, muito boa a questão!
Nunca me disseram nada parecido sobre meu nome. Recentemente, um amigo paulistano me contou que Ganem quer dizer “Jardim do Povo”, em hebreu. E agora eu tenho duas belas significações de meu nome!! Então, eu te proponho um composto: “Eles ganem um Ganem!”. Pois é. Conceber um projeto para um lugar destruído dentro da cidade, me leva a pensar nos habitantes, vizinhos ao espaço da obra… Eles são o coração do projeto, eles são o público do projeto! Por isso, para que eles tenham motivos para estar no espaço da obra, a estética proposta tem de falar com eles. Estou atento aos ganidos para propor um espaço onde eles se identifiquem de alguma maneira. Afinal, eles “ganem”… Grande abraço.
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