Em jantar na casa de amigos, no sábado à noite, o assunto dominante, mais uma vez, foi o cigarro, maldito vício que adquiri com 12 anos e, depois de muitas tentativas frustradas de parar, ainda tenho.
Somos os fumantes cada vez mais minoritários, incômodos e segregados, em qualquer ambiente. Confinados a varandas ou áreas de serviço, até nas nossas próprias casas, sabemos que estamos errados.
Onde quer que vá, as pessoas me falam que tenho de parar de fumar. Filhas e netas fazem uma campanha implacável. Todo dia acordo pensando nisso, até acender o primeiro cigarro.
Já li milhares de textos sobre os males e os inconvenientes do cigarro, sei de tudo isso. Mas, hoje de manhã, fiquei particularmente tocado ao ler o belíssimo artigo mensal de Antonio Ermírio de Moraes publicado na página 2 da “Folha” com o título “Fumo: até quando?”.
Dr. Antônio, como o chamamos os repórteres mais antigos, tem dedicado boa parte do seu tempo e da sua vida profissional a trabalhar como voluntário na área de saúde. É um velho batalhador, conhece bem o assunto.
O gancho para o artigo deste domingo é o projeto de lei enviado pelo governador José Serra à Assembléia Legislativa, proibindo de vez o fumo em lugares fechados, públicos ou privados, e prevendo até a prisão de quem insistir em acender um cigarro.
“Acho que ele está certo. Afinal, as pessoas têm todo o dieito de fumar, mas não têm o direito de fazer adoecer quem não fuma e, ainda por cima, fazer a sociedade financiar o seu vício”, escreveu o empresário.
Também acho que o governador está certo, mas já escrevi aqui no iG que, como se trata de um sério problema de saúde pública, talvez fosse melhor contratar mais médicos e oferecer tratamentos gratuitos para as pessoas pararem de fumar, em vez de chamar a polícia.
Na mesma edição do jornal, que dedica quase um caderno inteiro ao assunto, uma pesquisa Datafolha informa que 81% dos brasileiros apóiam o projeto de Serra e 77% condenam o presidente Lula por ter defendido, em recente entrevista no Palácio do Planalto, que seja permitido fumar em qualquer lugar.
O presidente Lula, também ele fumante, sabe que pisou na bola ao tratar desta maneira do flagelo do fumo, mas eu me pergunto se o caminho escolhido para combatê-lo é o correto.
Em lugar de punir e segregar os fumantes, entendo que é preciso dar aos mais velhos oportunidades reais de largar o vício com ajuda médica, o que sei ser difícil, e investir pesado em campanhas educativas nas escolas e nos meios de comunicação para evitar que mais jovens comecem a se viciar.
Se preferirem uma solução mais radical, por que não se fecham de uma vez todas as fábricas de cigarros? Não tendo cigarro para comprar, até eu vou ter que, finalmente, parar de fumar.
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