Aos verdadeiros heróis do nosso futebol

1958, O Ano em que o Mundo Descobriu o Brasil é um trabalho amoroso, dedicado aos heróis do nosso futebol, os campeões de 1958, os primeiros brasileiros que nos deram um título mundial. Contar a história deles foi uma grande honra para mim. Aqueles craques foram lá no estrangeiro e trouxeram o caneco. Na bola. Com maestria. É um filme para que todos se orgulhem daqueles grandes jogadores, que pulverizaram com jogadas brilhantes e gols memoráveis o “complexo de vira-latas”, que, 50 anos depois, a elite que tem vergonha de ser brasileira ainda tenta nos enfiar goela abaixo.

O futebol é uma das mais poderosas manifestações culturais populares do Brasil. Espero que muitos outros cineastas olhem para esse grande tema, que nos apaixona e nos aproxima. O futebol tem superação, criatividade, humor, paixão, dramas coletivos, histórias exemplares de jogadores e, acima de tudo, heroísmo. Sim, qual o problema de colocar, cinematograficamente, nossos extraordinários craques na categoria de heróis? Nenhum, eu respondo. Pelo contrário, é muito saudável e importante. O cinema é o espaço dos heróis, das grandes conquistas, das histórias emocionantes.

Cada encontro com os craques daquele período foi uma viagem no tempo. Eles me levaram para uma época em que o futebol era disputado com dureza, mas com lealdade. Uma época em que o futebol não estava contaminado pela voracidade da mercantilização do esporte. Esses craques me levaram de volta às minhas calças curtas, ao meu time de botão, aos “rachas” no meio da Rua Alberto de Campos, onde passava um carro muito de vez em quando, a uma Ipanema bucólica. Lugar em que eu me sentia importante porque conhecia a todos – afinal, comprava cigarros para meus pais no bar do seu Antônio, hoje o famoso Bofetada, e ia buscar ovos, legumes e frutas nas quitandinhas em volta dos quarteirões próximos.

Asbeg e o Cartaz do Filme:
Emoção e choro durante as entrevistas com seus ídolos

A paixão do futebol meu pai me deu, com seu jeito peculiar de torcer pelo Flamengo – criticava exasperadamente aquele rubro-negro que o fazia sofrer tanto e, após as vitórias, se derramava em juras de amor. Mas foi aquele esquadrão de ouro da seleção quem me deu a paixão pela vitória. Eu não tinha a menor idéia do que era auto-estima, inconsciente coletivo, nacionalismo, brasilidade. Mas via todo mundo feliz à minha volta, numa alegria que primeiro foi uma explosão e depois se transformou numa felicidade que parecia que não acabaria jamais. Como era bom ser menino e viver cercado daquela felicidade. Jogar peladas sendo sempre Brasil e fazer dos adversários os joões driblados por Garrincha. Depois, cantar triunfante: “A taça do mundo é nossa, com o brasileiro não há quem possa…”.

Nas entrevistas com os brasileiros não sabia se pedia para ficar um dia inteiro olhando para eles ou se fazia o que tinha de fazer: entrevistá-los. Estava diante dos meus ídolos de 1958. Os primeiros. Como era difícil terminar cada encontro. Como tentava prolongar aqueles momentos. Como queria que eles soubessem que eu estava explodindo de alegria e admiração por dentro. Desejo que 1958, O Ano em que o Mundo Descobriu o Brasil seja parte do esforço dos cineastas brasileiros que trabalham a vida inteira para que o mercado cultural brasileiro seja de fato nosso. Que nossos cinemas contem nossas histórias, porque, quando nos vemos, quando reverenciamos nosso passado, quando escutamos nossa língua, quando homenageamos grandes brasileiros, aí, sim, estamos criando uma identidade cultural nacional.

Parafraseando o genial Noel Rosa, o filme não quer abafar ninguém, só quer mostrar que é da bossa e não da boçalidade. Torço para que seja um filme bom para guardar no coração, para nos orgulharmos daqueles grandes jogadores, meus ídolos, os verdadeiros heróis do nosso futebol. Viva os maiores jogadores do futebol brasileiro!


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