Esqueça a ideia de um grupo de dança formado por delicadas bailarinas que usam tutus prato, meias-calças rosa e sapatilha de ponta. Quando a música começa a tocar na sala de ensaio, o local é dominado por oito fortes bailarinos, que dançam apenas com uma calça preta e os pés descalços. Isso mesmo, apenas bailarinos. Essa é a Cia. Sociedade Masculina, de São Paulo.

O grupo foi concebido em 2003, pela empresária e bailarina Vera Lafer e o bailarino Jorge Fernandes. “A vontade de trabalhar apenas com homens surgiu no Studio 3, um dos únicos espaços de dança de São Paulo direcionados para bailarinos profissionais, que estão trabalhando ou à procura de trabalho. Ao ver todo esse elenco circulando na escola, a ideia de uma companhia só de homens foi crescendo”, diz Anselmo Zolla, diretor artístico da Cia. Na época, Vera Lafer também aproveitou o fato de não existir um grupo formado só por homens no universo da dança contemporânea. “Todo o produto existente dentro do mundo da dança normalmente é baseado em companhias mistas. Uma formação só com homens era algo inédito”, afirma.
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O sucesso do novo grupo veio rápido. Em 2005, dois anos depois de sua concepção, o grupo, que na época era formado por apenas quatro bailarinos, fez sua estreia internacional, no Espaço Pierre Cardin, na França. Desde então, os meninos da Cia. Sociedade Masculina têm feito diversas turnês, no Brasil e no mundo. “O público fica muito curioso com a ideia de só ver homens no palco, existe grande expectativa para saber do que se trata”, diz o diretor artístico. “Sempre fomos muito bem recebidos, principalmente no exterior. Além dos nossos bailarinos possuírem técnica, eles têm um ponto a mais – o suingue. Em nenhum lugar é possível ver isso, não adianta, é só nosso, está no sangue”, acrescenta Zolla.

A escolha do elenco para a montagem da Cia. Sociedade Masculina deu a cara para o grupo. Sem fazer nenhum tipo de audição, os bailarinos foram chamados por se enquadrarem no perfil da companhia, que sempre procurou preservar a individualidade e as diferenças de estilo de cada dançarino. E o que marca essa individualidade é a formação de cada um deles. A trajetória do homem no mundo da dança é muito diferente da escolhida pela mulher, que na maioria das vezes tem uma formação clássica. “O homem acaba descobrindo a dança através da capoeira ou a dança de rua, por exemplo. E toda essa carga que eles trazem e vão adquirindo com o tempo reflete no universo da dança contemporânea, que acabamos explorando aqui dentro”, explica Zolla.

Cada um dos oito bailarinos da companhia veio de escolas diferentes, como da dança popular brasileira, da clássica, da dança de rua e do circo. “Para mim, o que mais diferencia a nossa companhia das outras é a diversidade da formação de cada bailarino, que dá uma cara diferente para a coreografia. Cada um coloca um pouco do seu cotidiano nas coreografias”, diz o bailarino Gustavo Lopes. “E mesmo dançando juntos há mais de sete anos, nenhum dos bailarinos tem uma linguagem semelhante a do outro”, enfatiza.

Sem limites
Em um primeiro momento, a ideia de uma companhia de dança só com homens pode parecer limitada. Mas, esse preconceito cai por terra assim que movimentos leves e cheios de sentimentos começam a ser desenhados pelos bailarinos. “Mesmo só tendo homens na Cia. Sociedade Masculina, não quer dizer que as coreografias são mais fortes, mais pesadas. O trabalho é frágil também, pode ser até delicado. Apesar de não ter mulher, não quer dizer que a gente não faça pegadas ou coisas do tipo”, diz o bailarino Sérgio Galdino.

A procura do ser amado e o sentimento entre dois amantes são muito bem interpretados pela companhia, porque, com a dança, qualquer um é capaz de mostrar a mais sensível das emoções. “As pessoas assimilam o movimento masculino como algo viril, forte, másculo, mas ser másculo não está evidenciado na força e sim no sentimento que se coloca. O homem pode ser tão sensível quanto uma folha de papel de seda, depende de como ele atua em cima disso. A partir da dança, o corpo abre outra dimensão de como as emoções podem ser sentidas”, comenta Zolla.

A diversidade dos coreógrafos que montaram peças para a Cia. Sociedade Masculina – como os brasileiros Henrique Rodovalho, Deborah Colker e Ivonice Satie; e os internacionais, como o grego Andonis Foniadakis e a norte-americana Carolyn Carlson – é outra evidência que a criação de um grupo de dança só para homens não mostra limitações. Segundo Zolla, os coreógrafos de modo geral gostam de criar uma dança só para homens porque “é um desafio para qualquer profissional, afinal é preciso usar outros argumentos coreográficos que não sejam os tradicionais para poder mostrar sentimentos que com um homem e uma mulher juntos é mais evidente. Por isso, acredito que não há limitações pelo fato de só termos homens na nossa companhia, o que acho que pode existir é falta de imaginação para criar”, diz.

Próximos passos
Em setembro, a Cia. Sociedade Masculina começa a apresentar seu espetáculo Para Todo o Sempre em São Paulo, na nova casa de shows do Bourboun Shopping São Paulo. Sua concepção saiu do livro Love Letters of Great Men, que reúne cartas de amor escritas por grandes homens aos seus amados. “O espetáculo é direcionado aos encontros e aos desencontros do amor. A criação transmite impressões de amor em suas variadas formas”, explica Zolla.


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