Apocalípticos e integrados

O que para alguns pode ser visto como nostalgia, para tantos outros é encarado com preocupação. E para este grupo há um consenso: a internet estaria minando nossa capacidade de concentração. E o pior, há quem diga que ela, inclusive, estaria nos deixando mais burros (!). Há discordâncias, claro.

Nicholas Carr é um dos maiores pensadores da era digital e autor de “A Geração Superficial: o que a Internet está fazendo com os nossos cérebros”. Já no título de seu livro, ele indica que provavelmente não é o tipo de cara que compartilha muitas coisas no Facebook e tampouco posta fotos de suas refeições no Instagram.

Fato é que o autor lançou seu livro em 2010 e até agora não voltou atrás. Nele, Carr defende a tese de que a Internet seria um campo minado por distrações. São tantas abas, hiperlinkse-mailstweets e atualizações que nossa habilidade de focar ficaria fragilizada, o que a longo prazo prejudicaria, por exemplo, a imersão necessária para se ler um livro e refletir. Assista a animação que explica a teoria do autor. 

 

Nostalgia de gerações

Carr não é o primeiro a se sentir desconfiado diante as consequências de uma nova tecnologia. A Sócrates, por exemplo, não lhe agradava a ideia de reunir conhecimento na escrita. Os livros causariam um “esquecimento” na alma, uma espécie de vazio, já que ao invés de lembrar, os novos leitores estariam confiando cegamente nas escritas externas, que poderiam, inclusive, estar repleta de erros.

Além do filósofo, houve ainda um preocupado estudioso que não se simpatizava com o livro. Era o século XVII e o inglês Robert Burton, autor de “A Anatomia da Melancolia”, se sentia pressionado com a quantidade de livros impressos naquela época. Para ele, os livros fariam nossos olhos e dedos doerem. Da mesma forma, sociólogos e filósofos, no século passado, defendiam que o cinema não podia ser encarado como uma expressão artística, já que ele teria a capacidade de alienar os seus expectadores da realidade. Seria, então, Nicholas Carr mais um nostálgico de sua época? 

Distração e criação

Várias telas e muita informação reunida, produzida e compartilhada. Tudo acontecendo ao mesmo tempo e a uma velocidade de um piscar de olhos ou, melhor, de um clique. Isso pode parecer caótico e deve fazer parte do seu dia a dia. Porém, há aqueles que defendam que a Internet estaria criando uma geração mais inteligente que as anteriores, como mostra um estudo divulgado pela Universidade da Califórnia, em 2009.

Nele, neurocientistas detectaram que nossas buscas constantes feitas no Google aumentam nossa atividade no córtex pré-frontal dorsolateral quando comparadas com uma leitura típica de um texto de um livro. Essas buscas ativam áreas do nosso querido cérebro, responsáveis por deliberar atenção seletiva e análise. Ou seja, ao invés de nos tornar mais burros, o Google poderia nos deixar mais espertos.

William Powers, escritor, historiador norte-americano, escreve sobre como lidar de forma mais saudável com a tecnologia em seu livro Hamlet’s Blackberry, sem edição ainda em português. Ele, por exemplo, se abstém da internet nos finais de semana, já que para ele é bom definir horas ou dias em que nosso cérebro descanse dos efeitos de uma vida intensamente digital. Seria, então, uma questão de filtrar a informação e manter uma disciplina, o que, ironicamente, demandaria foco. 

Um mundo sem distrações on e offline é quase impossível. Uma saída poética está em uma cena extra que a atriz, diretora e escritora, Miranda July, criou para seu filme The Future. Nela, July sequestra todas suas distrações, desde um notebook a uma pinça, para se ver livre.

Resista ao multitask 

A Internet nos leva a avaliar pequenos pedaços de informação de uma forma muito rápida e ainda com a interrupção de várias outras distrações, isso segundo nosso polêmico Nicholas Carr. Para ele, nosso cérebro não teria a capacidade de se dedicar a tantas tarefas ao mesmo tempo, logo sua capacidade multitask seria limitada. 

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Não perca a próxima reportagem em que explicaremos o Multitasking e, porque ainda depois de tudo isso, você ainda poderá encontrar motivos para continuar acreditando na internet <3


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