Após a tragédia, mil explicações para um ato alucinado

Em tempo, às 10h45 de 9/4:

O grande repórter e excepcional ser humano Elpídio Reali Júnior, meu velho amigo, morreu às 8 horas da manhã deste sábado, em sua casa, em São Paulo. Por mais de 30 anos ele foi correspondente da Jovem Pan e do Estadão em Paris.

Ao meio dia, na Catedral da Sé, será celebrada missa missa em homenagem a outro amigo, o ex-vice-presidente José Alencar, falecido na semana passada.

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Os repórteres ainda estavam apurando as primeiras informações sobre a tragédia da escola em Realengo, zona oeste do Rio, quando apareceram os primeiros ólogos e ólogas para “explicar” o que aconteceu.

Ao longo de várias horas, ficaram diante de câmeras e microfones declamando as “razões” – do islamismo ao “bullying”, do computador às drogas – que poderiam ter levado o celerado Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, a matar 12 crianças antes de se matar numa escola onde havia estudado, e ensinando que deveria ser feito pelos poderes públicos para evitar que esta barbaridade se repita.

Pode ser um incêndio ou uma enchente, uma queda de avião ou um acidente num parque de diversões, lá vêm os engenheiros de obras feitas oferecendo soluções que já deveriam ter sido adotadas há muito tempo. Se dependesse deles, todos nós só morreríamos de velhice.

Por mais sábias e estudadas que estas pessoas possam ser, que explicação pode se dar a tamanha monstruosidade? O que isto ajuda as pessoas abaladas com as imagens de crianças assassinadas, mães e pais em busca de seus filhos, policiais e médicos perplexos sofrendo também e tentando diminuir o sofrimento dos outros?

Chegaram a falar até na instalação de detectores de metais na entrada das escolas, como se isso fosse possível, e a educação pública brasileira tivesse recursos sobrando para investir em sofisticados sistemas de segurança, que não existem nem nos países ricos porque inviáveis.

Pode alguém imaginar policiais armados ao lado de aparelhos de raio-X revistando quem entra nas escolas? Quem pode prever quando, como e onde um doido drogado vai sair atirando, a tempo de evitar uma tragédia como a de quinta-feira, a primeira destas proporções registrada numa escola brasileira?

Toda esta histeria em busca de explicações para aquilo que não tem explicação serve apenas para aumentar o medo das crianças de sair à rua e ir à escola.

Em meio à cacofonia de horrores, desesperos e pânico generalizado diante do inexplicável, louve-se a lucidez de duas pessoas: do educador Mário Sergio Cortela, em São Paulo, e da secretária municipal de Educação do Rio, Cláudia Costin.

No telejornal “Hoje”, da TV Globo, Cortela orientou os pais a garantir aos filhos que poderiam ir para a escola tranquilamente porque a possibilidade de um caso destes se repetir tão cedo e tão perto era quase nenhuma.

Na mesma linha, Costin resumiu o que eu penso a respeito: “Não há proteção contra um psicótico em qualquer lugar público”.

Também sou a favor de qualquer campanha de desarmamento sempre, não só após as tragédias – por mim, seria proibida a fabricação de armas – e concordo que o nível de violência nas nossas escolas, vitimando cada vez mais professores e alunos, está atingindo níveis alarmantes.

Sim, estamos todos de acordo, mas o que fazer? Certamente, não é colocando mais policiais nas ruas e nas escolas que vamos minorar o problema.

Se não podemos ajudar, se não temos nenhuma informação nova a acrescentar, melhor é não contribuir para aumentar o sentimento de insegurança e de perplexidade. Toda vez que acontece um fato que foge à minha compreensão resisto a escrever qualquer coisa, mas também não consigo ficar calado.

Nestas horas, pensando bem, melhor é se recolher a um canto, reconhecer a nossa insignificância e chorar as crianças que morreram. É nada, eu sei, mas é tudo o que podemos fazer sem cair no ridículo ou na pieguice.

Que Deus as tenha. Vida que segue.


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