Os argentinos voltaram a protestar com panelas pela primeira vez desde 2008. Os moradores dos bairros mais nobres da cidade de Buenos Aires convocaram um panelaço nesta quinta-feira à noite desta quinta-feira, dia 31, contra a corrupção, a insegurança e as restrições à compra de dólares. Foi o primeiro protesto contra o governo, desde que a presidenta Cristina Kirchner foi reeleita, em outubro passado, com 54% dos votos.
Também na quinta-feira (31), os ruralistas da província de Buenos Aires (que concentra um terço do Produto Interno Bruto e da população do pais) decretaram uma greve entre os dias 2 e 8 de junho. O protesto é contra o aumento de impostos à propriedade rural, aprovado num ano em que os agricultores estão sofrendo os efeitos da seca, que afetou a produção de soja.
“Eu compro dólares para me proteger da inflação, que o governo diz que é de 10% ao ano, mas que todos nós sabemos que está mais próxima dos 30%”, disse a contadora Soledad Nanclares, enquanto batia panelas no balcão de seu apartamento, no bairro de Palermo. “Acho que numa democracia todos temos o direito de fazer o que queremos com o dinheiro que ganhamos trabalhando de forma legal. Se o governo quer acabar com a cultura de poupar em dólar, os funcionários [públicos] deveriam ser os primeiros a dar o exemplo”.
O governo argentino começou a controlar as operações de câmbio para evitar a fuga de divisas do pais, que, em 2011, foi US$ 11 bilhões. Uma medida, de novembro passado, obriga os argentinos que querem comprar dólares, euros, reais ou qualquer moeda estrangeira a pedir autorização prévia à Afip (Receita Federal argentina). Os argentinos tem que provar que tem suficientes pesos declarados para realizar a operação de câmbio.
Duas outras medidas restringiram ainda mais a compra de moeda estrangeira. O governo proibiu o uso de cartões de débito de contas em pesos argentinos para retirar divisas no exterior e, em maio, impôs restrições à compra de divisas para quem viajar ao exterior. Pelas novas normas, quem quiser comprar moeda estrangeira ao câmbio oficial tem que informar à Afip para onde vai, por quanto tempo e por qual motivo.
O senador Aníbal Fernandez, que foi chefe de gabinete da presidenta Cristina Kirchner, defendeu as restrições, dizendo os argentinos deveriam começar a pensar em pesos argentinos. Há pelo menos quatro décadas, os argentinos pensam em dólares: vendem e alugam imóveis e poupam em moeda norte-americana. Mas em entrevista, o senador admitiu que ele também poupa em dólares: tem US$ 24 mil guardados porque, segundo ele, não quer perder tempo investindo em prazos fixos, que precisam ser renovados.
Esta semana, os jornais argentinos publicaram as declarações de imposto de renda de membros do governo, provando que tanto a presidenta quanto muitos de seus ministros tinham poupança em dólares. “Faz sentido querer pesificar a economia argentina. Afinal, nossa moeda é o peso. Mas para convencer os argentinos a mudar seus hábitos, o governo deveria oferecer incentivos. Discursos não bastam”, disse o ex-presidente do Banco Central, Martin Redrado.
Agência Brasil
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