O 18º título paulista conquistado pelo Santos neste domingo, com arte, garra e emoção, contra o valente Santo André do técnico Sergio Soares, não é apenas mais um troféu na galeria da Vila Belmiro. O time campeão passa para a história por ter trazido de volta aos nossos campos o melhor do futebol brasileiro – a alegria de jogar bola, a beleza do drible, o toque de calcanhar, a irreverência, o improviso, a festa.
Um time que joga bonito e diverte a torcida pode ser campeão, sim, como nos provaram os meninos de Dorival Júnior, o técnico certo, na hora certa, no lugar certo para inaugurar uma nova era no clube e dar um alento a todas as outras torcidas.
Mesmo perdendo o último jogo por 3 a 2, para um adversário que se superou em campo, tendo três jogadores expulsos, o Santos do artilheiro Neymar viu se agigantar em campo a figura de Paulo Henrique Ganso, um jovem craque de apenas 20 anos, que mostrou a experiência e a grandeza de um Gérson ou um Didi no auge das suas carreiras.
Para mim, o momento decisivo da emocionante partida no Pacaembu foi quando, já quase no final, após a expulsão de Roberto Brum, Dorival Júnior resolveu substituir Ganso pelo zagueiro Bruno Aguiar para reforçar a defesa. O maestro do time, preocupado apenas em segurar a bola para não tomar mais gols do Santo André e morrer na praia, simplesmente se recusou a sair de campo.
O que poderia parecer um gesto de indisciplina para os burocratas que comandam a maioria dos nossos times, foi um ato de superação emblemático de um atleta que consegue aliar o talento ao caráter.
Poucos minutos depois, com a bola que o Santo André ainda chutou na trave, ficou provado mais uma vez que, para ser campeão, um time também tem que ter sorte, por melhor que seja sua campanha ao longo de todo o campeonato. Se aquela bola entra, derrubando o time que marcou cem gols este ano, teríamos que aguentar novamente os dungueiros do futebol de resultados a proclamar a superioridade dos times cheios de volantes que maltratam a bola.
Para quem teve a alegria de ver jogar o Santos de Pelé e Coutinho, quase meio século atrás, e dá mais valor à beleza da arte do que à força física, este time de Neymar e Paulo Henrique Ganso, que o Paulistão revelou ao mundo, renova nossas esperanças no futuro do futebol brasileiro, eternamente o melhor do mundo.
Se os dois não forem convocados por Dunga para a Copa do Mundo que começa daqui a 40 dias na África do Sul, o técnico teimoso terá cometido a maior injustiça contra o nosso futebol. É pior do que tirar bala da boca de criança – as crianças, no caso, somos todos nós, que não vemos o futebol como uma guerra, mas como uma grande diversão.
Deixe um comentário