Artesãos do mundo

Ousadia, inquietação, gosto pelas artes e pelo povo brasileiro. Esses foram os principais ingredientes que fizeram com que o artista Antonio Carlos Bech, há 19 anos, desse início ao Oficina de Agosto, um projeto itinerante que começou em um mês de agosto, nos fundos do seu antiquário em Embu das Artes (SP), passou por Ilha Bela, litoral paulista, e Paraty (RJ) e, atualmente, permite que cerca de 200 famílias vivam exclusivamente do artesanato. A trajetória de Toti, como é conhecido, não difere muito de outros vários artistas que deixaram a cidade grande em busca de inspiração em pequenas comunidades escondidas pelo Brasil. A diferença é que há 16 anos ele transformou Bichinho, um povoado a sete quilômetros de Tiradentes, em Minas Gerais, que não possuía nem mesmo luz elétrica, em referência turística quando o assunto é artesanato mineiro. Nessa comunidade, ele entregou pincéis, tintas e materiais reciclados aos curiosos moradores e de lá saíram babás, pedreiros, bombeiros, motoristas e donas-de-casa transformados em escultores, pintores e inventores. É o caso de Lili, que era babá e hoje administra a loja do Oficina de Agosto, em Bichinho. Assim como Fabinho, que trabalhava na construção civil e hoje vende suas luminárias feitas com tampinhas de garrafas para outros países. Toda essa brasilidade foi transformada em livro pela Luste Editores. Com apoio do escritório Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados, O Brasil Genial da Oficina de Agosto, escrito pela jornalista Cristina Ramalho e com 80 fotos de Valdemir Cunha, tem 152 páginas e edição bilíngue.

A inspiração para os trabalhos, sempre produzidos coletivamente, vem da própria cultura popular e pode ser desde arte sacra até um tema profano. “Uma obra nunca é igual a outra e a comunidade atua em várias fases da produção. Muitos executam os trabalhos em suas próprias casas e depois os levam à nossa oficina para a finalização”, explica Sônia Vitalino, irmã de Toti. Não por acaso, os símbolos do Oficina de Agosto são o Divino Espírito Santo e as “bundinhas” alegres e bem-humoradas, que para Toti são o retrato do Brasil. A tímida Lili, a ex-babá, foi a musa inspiradora do bumbum artístico sem jamais ter posado sequer de biquíni para os artistas – é tudo fruto da imaginação dos garotos de Bichinho. Os “Divinos”, há de todos os tamanhos. Um gigante, com 2,5 metros de diâmetro, foi encomendado para celebrar a visita do papa Bento XVI ao Brasil, em 2007, e está até hoje no Clube dos 500, em Aparecida do Norte (SP).

Dessa fusão de inspirações distintas, surgiram “Monalisas” com peitos, porcos com piercings, frutas, bichos, santos, oratórios e cenas curiosas e divertidas. De madeira de demolição, ferro, latas recicladas, plástico. Todo tipo de material que nas mãos dos artesãos tem a chance de transformar-se em arte. Nesse tempo, Toti viu seus alunos progredirem – muitos se tornaram donos de seus próprios ateliês e hoje vendem seus produtos País afora, inclusive para o Oficina de Agosto, que possui uma loja na Vila Madalena, em São Paulo, comandada por sua irmã Sônia. Lá, ela atende aos vários pedidos do Brasil e do exterior, principalmente de países da Europa, Estados Unidos e Dubai (Emirados Árabes), além de projetos de resorts e exposições. Ele cria, inventa, e ela cuida da parte prática. Sempre foi assim desde que eram crianças. “Nada foi planejado. Mas podemos dizer que criamos um estilo de decoração, aconchegante e com material reciclado. É a cara do Brasil, lúdico e com muita cor”, diz Sônia.


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