Ricardo Bellino não é um artista. Porque artista é um cara que sofre para criar e finalmente cria, depois procura desesperadamente um lugar para expor, uma palavra de apoio dos críticos, um lugar ao sol, uma forma de ganhar dinheiro com aquilo e, muitas vezes, acaba louco, apesar de genial. Bellino, por sua vez, cria a partir do nada uma coisa que cresce como bola de neve, se materializa rapidamente, é bonita, impressiona, ganha salões, acontece, e tudo isso sem sofrimento, além do inerente a qualquer aventura humana sobre a Terra.
O que levou Ricardo Bellino a se conectar com o mundo da arte não foi sua mulher Marina Bellino, que é escultora, mas o ócio, a necessidade de encontrar uma atividade que o tirasse de uma espécie de gaiola de ouro na qual ele começou a viver em seu exílio voluntário em Key Biscayne. Ele fez por merecer, como diz o comercial daquele carrão: aos 23 anos – há 21, portanto – já tinha realizado o seu primeiro milhão de dólares e de amigos.
Visões no café
Em 2008, ele se viu, de repente, caminhando pela praia e andando de bicicleta, atividades que não faziam parte da sua rotina e que lhe criavam uma certa depressão. Ele quase que tinha dificuldade de aproveitar aquela estrutura maravilhosa que criou para ele e sua família.
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“Me faltava o excitement, o estímulo, o próximo desafio.”
Aquele ócio o levou a uma busca por alguma coisa. Não na atividade empresarial, pois a cultura anglo-saxônica é completamente diferente da nossa, e ele não se sentiu confortável, não encontrou uma atividade que pudesse lançá-lo como empreendedor na América, preferiu continuar como empreendedor brasileiro que vislumbra na América oportunidades para trazer ao Brasil, exemplo da Elite, do Câncer da Mama no Alvo da Moda e do Donald Trump.
Enquanto tentava encontrar o caminho, aconteceu sem querer em um café, em Nova York, um insight no qual ele, ao lado da mulher – olhando para uma cápsula usada de café -, visualizou a possibilidade de transformar aquilo em algo dinâmico e ao mesmo tempo com a proposta de reciclar aquele material para transformá-lo, às vésperas de ser descartado, em algo que pudesse transmitir uma mensagem ao mundo.
“Na hora, visualizei fazer uma celebração à excelência, homenagear pessoas que tiveram trajetórias significativas, como Mandela, Marilyn Monroe, Lady Di, Obama, Pelé, Ayrton Senna, e foi engraçado porque eu visualizei naquele momento o que seria.” Ele visualizou, mas não tinha ideia de como fazer. Até encontrar, por acaso, um velho conhecido, dias depois, em outro país.
O colecionador
“Eu reencontrei um amigo fotógrafo, Reinaldo Coser, com quem estive há 25 anos, quando tive o primeiro contato com a história da Elite ao ler a revista Photo na casa dele. Tive o estalo de trazer a Elite para o Brasil. Eu reencontro esse cara 25 anos depois na fila do aeroporto de Guarulhos indo para Miami, vamos juntos na Arte Miami, uma exposição patrocinada pela Nespresso, e contei para ele a ideia.”
Reinaldo, um aficionado colecionador de Lego, recomendou um software livre na internet que os colecionadores usam para criar seus painéis.
“Eu fiz um download desse software que desconstrói imagens e constrói painéis com peças de Lego e simulei o primeiro painel com Angelina Jolie. Quando enxerguei a Angelina construída por aquelas pequenas pecinhas, falei: ‘Isso funciona!’.”
Mas ele ainda não sabia como fazer com as cápsulas de café o que fez com as peças de lego. Até encontrar-se com outro amigo.
“Tenho um querido amigo, grande diretor de cinema publicitário e diretor de arte talentosíssimo, com quem tenho relação de muitos anos, o Wellington Amaral. Falei sobre a minha ideia para ele. Ele me pediu um tempo, e logo voltou com a solução definitiva. Ele fotografou cápsula por cápsula, nas 12 cores, e no sistema Photoshop substituiu os pontos fixos pelas cápsulas e montou o primeiro painel pra mim.”
Kennedy, o primeiro
“Ele fez aquilo sem nenhum interesse comercial, mas imediatamente quando estava produzindo o primeiro painel, eu disse para minha esposa: ‘Vamos convidar o Wellington para formar um time. Vamos criar a ArtMakers!’. Eu sou o porta-voz, o visionário, mas não faço nada sozinho.”
Bellino teve a ideia em novembro de 2008. No dia 24 de dezembro, veio a confirmação do apoio da Nespresso com a doação de 150 mil cápsulas, recebidas na primeira semana de janeiro. O primeiro quadro, o JFK, estava pronto ainda em janeiro de 2009. O painel foi doado para uma instituição comandada pelo sobrinho de John Kennedy, a Best Buddies, que cuida de crianças excepcionais. A primeira exposição foi em Boston, em fevereiro de 2009; depois uma exposição importante em Montreal e mais tarde uma grande no Soho, em Nova York, que durou de 18 de junho de 2009 até 6 de julho, uma galeria belíssima, 7 mil pés quadrados, na esquina mais badalada no bairro.
Estiveram lá: Afonso de Mônaco, o sobrinho do Príncipe Alberto, que foi receber o quadro de Grace Kelly que Bellino doou para a Fundação dela; o embaixador do Brasil nos Estados Unidos; o presidente da British Memorial Garden, de Nova York, uma instituição criada em memória da Lady Di, à qual foi doado o quadro da princesa.
Foto: Arquivo pessoal |
Ícones: Grace Kelly, Nelson Mandela e Andy Warhol, segundo Bellino |
No Brasil
“Basicamente, pra mim era importante demonstrar a capacidade de pegar um objeto tão inexpressivo como alguma coisa usada que vai se tornar lixo e, a partir de uma ideia criativa, de um esforço para empreender, juntar as pessoas, trazer o apoio da companhia, criar um tema, desenvolver todo um projeto, e mostrar que eu posso transformar lixo em obra de arte.”
Entusiasmado com a repercussão do projeto, Ivan Zurita, presidente da Nestlé do Brasil está planejando, com Bellino, uma grande exposição dos painéis no Brasil, itinerante, em vários museus de arte moderna e que depois poderão fazer parte de uma galeria de arte Nestlé no Brasil, homenageando grandes personalidades brasileiras, como Gisele Bündchen, Pelé, Hebe Camargo, Tom Jobim, entre outros. “Amanhã poderemos fazer símbolos, arte abstrata, o céu é o limite.”
“ESTAMOS DE VOLTA AO JOGO”
Durante recente temporada em São Paulo, Bellino contou à Brasileiros como ganhou seu primeiro milhão e que Donald Trump volta, com ele, a empreender no Brasil
Brasileiros – Quando eu era jovem, meus amigos queriam ser comunistas. E você, queria ser capitalista?
Ricardo Bellino – Meu DNA é empreendedor, desde menino tive uma relação forte com meu avô paterno, um imigrante português que chegou no Rio de Janeiro aos 14 anos e teve uma vida de sacrifícios, mas que fez da sua capacidade empreendedora uma história de sucesso, montou uma companhia de distribuição de tecidos finos para ternos, casimiras, etc., a ECOMTEX, com representação no Brasil inteiro. Todas as férias, eu gostava de visitar meu avô, passar o dia com ele, ir com ele à Confeitaria Colombo almoçar, escutar as conversas com os amigos empresários e ficar no escritório, datilografar cartas comerciais, conversar com vendedores, isso sempre me encantou muito, tanto escutar as suas histórias de superação quanto estar ali, naquele ambiente, aquele ambiente me atraía muito, sempre busquei criar alguma atividade que me gerasse renda. Desde lavar o carro do meu avô, a vender gibi usado na porta do prédio, até começar a alugar som pra festas.
Brasileiros – Por que som para festas?
R.B. – Eu tinha um grande problema quando era adolescente, eu era muito tímido, o que me freava, eu ia às festas dançantes e tinha dificuldade de me relacionar com as meninas, morria de vergonha de receber um não como resposta. Eu não tinha como não ir, a minha mãe me empurrava, pra não passar por constrangimento ficava perto da equipe de som, puxava conversa. Em uma ocasião, um DJ me convidou pra ajudar, gostei, acabei ficando amigo do sujeito, comecei a alugar som para festas, e foi nesse exercício de fazer a festa e de me tornar uma espécie de ícone, onde eu era o elemento que gerava o entretenimento. Com aquele excitement das pessoas, comecei a construir autoconfiança, minha autoestima, comecei a sentir o paladar do poder, como é que você pode entreter pessoas, se tornar um ícone e esse poder acabar despertando o interesse das meninas. Em vez de fazer uma abordagem fria com todo o ônus de ser descartado, eu era o cara que fazia com que as pessoas tivessem momentos de alegria, comecei a me sentir o cara. E comecei a ganhar dinheiro com isso. Eu tinha 16 anos.
Brasileiros – Eu fazia pesquisas de mercado com essa idade, na rua, a senhora usa sabão e tal…
R.B. – Como desdobramento das festas que eu fazia, para agregar um elemento a mais, criar uma temática, criei uma camiseta. A primeira série de camisetas foi para uma festa de um amigo no Arpoador e foi inspirada no disco da Rita Lee, Lança Perfume. Comecei a ganhar dinheiro vendendo camisetas. Até que fiz camisetas para os diretórios das Diretas Já, vendemos muitas camisetas. E fui criando novos temas, vendi camisetas no autódromo, como comerciante ambulante. Eu tinha a ideia, o professor de arte da escola, criava a estampa, meu irmão pintava e eu e meu amigo Samuel, amigo e sócio até hoje, vendíamos as camisetas.
Brasileiros – Você nunca foi atrás de emprego?
R.B. – Eu abandonei duas faculdades e não me identifiquei no ambiente acadêmico. Como sempre fui muito ousado, o que aconteceu naquele momento da faculdade, é que eu estava fazendo uma série de tentativas. A única forma de acertar é tentar, tentar errando, sempre fui um cara da tentativa e erro e, como tudo na vida, você erra e acerta e aprende mais no erro que nos acertos. Eu estava em busca de um caminho profissional, quando eu li a história da Elite em uma revista francesa, a Photo, e fiquei fora de mim.
Brasileiros – Você pensou o quê? “Lá é que estão as melhores mulheres do mundo”?
R.B. – Não, eu tinha conhecido a Luiza Brunet. E eu acompanhei a saída dela da Dijon, uma saída muito traumática, fiquei espantado como uma modelo daquelas não tivesse um agente para proteger seus interesses. Foi nesse momento que eu vi a história da Elite. Falei: “Aí tem uma oportunidade de negócios para trazer a Elite para o Brasil. Eu vou ser sócio do John Casablancas. Vou ser sócio da Elite no Brasil. Foi minha decisão de estalo. No final do artigo, tinha um pôster das modelos e o endereço, o telefone e o telex, não tinha nem fax naquela época. Eu não dormi a noite inteira, escrevi uma carta, não sabia falar muito menos escrever em inglês, um amigo traduziu, escrevi uma carta contando a minha visão de como o mercado brasileiro podia ser um grande celeiro de modelos e uma porta para mercado da moda internacional. E tudo começou. Pra minha sorte, John Casablancas tinha morado no Brasil aos 18 anos, morou dois anos, no Nordeste, ele estudava na Suíça e namorava uma menina cuja mãe era dona da Coca-Cola do Nordeste naquela época, a família Shorto.
Charge: Fernando Brum |
“Casablancas é meu pai adotivo” |
Brasileiros – A Sharlene Shorto?
R.B. – Exatamente. E Casablancas foi o gerente de marketing da Coca-Cola nessa época. Ele lançou a Fanta Laranja, dirigiu caminhão com Roberto Carlos pra fazer o show da Coca-Cola no Nordeste. E no dia 8/8/1988, nós fizemos no Copacabana Palace a final nacional do primeiro concurso da Elite no Brasil. Em 1989, fizemos a final Sul-Americana no Memorial da América Latina, com a participação de Astor Piazzola. Em 1990, a final Mundial, com Grace Jones, e Cindy Crawford apresentando. Eu era sócio majoritário da empresa. Em 1992, vendi minha participação e me envolvi no projeto do Câncer de Mama no Alvo da Moda.
Brasileiros – Na época do case John Casablancas, você ganhou seu primeiro milhão de dólares?
R.B. – Nessa época, ganhei meu primeiro dinheiro. Em 1989 tinha 23 anos; no primeiro ano você faz a conta errada, as despesas são maiores que as receitas, mas o projeto foi um sucesso fantástico, eu não só renovei por mais dois anos com a Ellus, que era a nossa patrocinadora, como ganhei um sócio e um contrato de 1 milhão de dólares. E comprei o primeiro flat nos Jardins, na Rua Batataes. Aos 23 anos, eu era independente, tinha um prestígio incrível, porque era o sócio da Elite no Brasil, a maior do mundo, mais de 100 milhões de dólares de faturamento por ano, Cindy Crawford, você pode imaginar a consagração do seu empreendedorismo, da sua loucura lúcida se materializando e uma projeção social fantástica. Eu tive a oportunidade de conviver e aprender com grandes figuras do meio empresarial, grandes investidores e intelectuais… Eu era o jovem de 20 e poucos anos que era o sócio da maior agência de modelos do mundo, imagine o glamour, esse mundo de sonhos, isso foi para mim a grande entrada no mundo empresarial.
Brasileiros – Vocês ainda são amigos, você e o Casablancas?
R.B. – Minha amizade com Casablancas se perpetuou, ele é uma espécie de pai adotivo, somos cúmplices de muitas histórias fantásticas, histórias de negócios, histórias de aventuras de solteiros, desenvolvemos muitos projetos depois da Elite. Essa história foi sempre o meu cartão de visitas. Porque é uma história que atrai os homens de negócios, de poder, todo mundo quer saber o que acontece por trás de uma agência de modelos, eu estou falando de agência desse padrão, um negócio que encanta reis, sultões, um negócio realmente extraordinário, você trabalha com um produto que tem um fator de atração tremendo.
Brasileiros – E do Trump, você continuou amigo?
R.B. – Em novembro do ano passado, me reencontrei com Trump e ele me fez um convite, e ele falou: “Nós ganhamos muito dinheiro juntos, fiquei feliz com a maneira com que você cuidou da minha marca, da minha reputação no Brasil, etc., me acha uma propriedade de frente para o mar, eu quero alguma coisa na costa brasileira, lançaremos um resort de luxo fantástico no Brasil”. A gente está voltando pro jogo. Forte. Associados a um grande banco de investimentos, que eu só não vou mencionar porque o negócio não está sacramentado, nós temos três projetos importantíssimos, de começo. No total, os negócios devem representar dez bilhões de reais em vendas, ao longo dos próximos cinco anos. Serão resorts, prédios residenciais, prédios comerciais, centros comerciais, toda a gama de produtos que o Trump desenvolve hoje ao redor do mundo.
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