Era uma coletiva de imprensa como todas as outras, os curadores falavam, jornalistas perguntavam. Porém, um grupo de artistas entrou na sala e trouxe a urgência da situação política à tona. Com camisetas com dizeres como “Fora Temer” e “Diretas Já”, artistas participantes da 32ª Bienal de São Paulo chamaram a atenção da imprensa para a situação do País, ressaltando o quanto a temática da edição deste ano – Incerteza Viva – reflete o atual contexto político. Findado o ato, Jochen Volz, o curador do evento, ressaltou, com um sorriso no rosto: “E esse é só o começo”.
A mostra inaugura no dia 7/9, trazendo 330 obras de 81 artistas e coletivos de 33 países. Com especial atenção para temáticas como a ecologia, as narrativas não hegemônicas e a união de saberes, a Bienal enfatiza as possibilidades de criação diante do imprevisível. Segundo Volz: “Há menos de uma semana, Michel Temer, em um de seus discursos de posse, declarou que a incerteza acabou. Mas queremos falar da incerteza, refletir juntos sobre as atuais condições de vida e sobre as estratégias oferecidas pela arte contemporânea para enfrentarmos as questões do nosso tempo como o aquecimento global e a instabilidade econômica. É preciso desvincular a ideia da incerteza do sentimento de medo. Incerteza significa sentir com o corpo todo, é uma condição contagiante que gera imagens, cheiros, sons e também uma imaginação rebelde”.
Essa possibilidade de criação diante do caos também foi ressaltada pela co-curadora Júlia Rebouças. Ela citou artistas que propõem outro olhar para a natureza, diante da eminente ameaça da degradação da camada de ozônio. “Não faz sentido separar a ecologia de questões políticas e artísticas, tudo está conectado”, afirma a curadora. Rebouças citou o artista Frans Krajcberg como uma referência central da mostra. Nascido na Polônia e naturalizado brasileiro, Krajcberg utiliza a natureza como tema e material de suas obras desde a década de setenta. Nesta edição da Bienal, o artista apresentará três conjuntos de esculturas que utilizam troncos, raízes e cipós, criando um ambiente de transição entre o exterior do parque e o interior do edifício. Os co-curadores Gabi Ngcobo, Lars Bang Larsen e Sofía Olascoaga também falaram de outros temas que perpassam a mostra, como cosmologia e a opção por uma expografia que remete a um jardim, com poucas paredes e o maior diálogo possível entre as obras.
A 32ª Bienal chama atenção assim para questões urgentes do presente, como reforçou a própria ação dos artistas durante a coletiva. Segundo um dos participantes, o artista gaúcho Cristiano Lenhardt: “Desde o início da campanha de impeachment, foi difícil aparecer na imprensa algo contra a saída de Dilma. A mídia foi muito incisiva, colocando o impeachment como uma medida urgente. E os atos que diziam o contrário não eram vistos. É um golpe muito sério. Nesse espaço de visibilidade da Bienal, na qual fomos convidados a participarmos como artistas, é nosso dever político, de cidadãos, nos pronunciarmos sobre o que está acontecendo”.
Confira abaixo as matérias já publicadas pela ARTE!Brasileiros sobre o conceito curatorial e os projetos apresentados na edição deste ano.
Abraçando o incerto: link
Entrevista em vídeo com Jochen Volz: link
A arte que surge do diálogo: link
Obra “esquecida”de Niemeyer no Líbano é tema de trabalho na Bienal de São Paulo: link
Um artista despatriado e sem preconceitos: link
Um grito pela saúde do planeta: link
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