As bravatas de Sérgio Bianchi


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Sérgio Bianchi (diretor de filmes como A Causa Secreta, Cronicamente Inviável e Quanto Vale Ou É Por Quilo?)

Brasileiros – Alguns críticos, que assistiram ao seu filme Os Inquilinos disseram que você deu uma amenizada no seu já conhecido tom ácido…
Sérgio Bianchi –
Ninguém falou nada. Eu não li nada. Onde você leu?

Brasileiros – Por exemplo, no jornal O Globo, na matéria de Rodrigo Fonseca…
Sérgio Bianchi –
Ah, tá, o Rodrigo Fonseca. Não acredito que seja isso. É que a proposta do filme é diferente, porque tinha um roteiro, que era sobre uma estrutura de uma família, entendeu? Então, é um roteiro que não cabia, até certo ponto, intervenções de linguagem, que é uma coisa que eu gosto muito de fazer. E o desafio e o prazer era fazer um filme com cinco, seis personagens principais, diálogos e tudo. O roteiro era um pouco mais bem trabalhado, mais fixo. Então, não é que eu amenizei.

Brasileiros – Então, esse filme seria o quê?
Sérgio Bianchi –
Acho que ele tem uma linguagem mais tradicional de cinema. Mas o conteúdo é semelhante, as minhas preocupações e tal.

Brasileiro – O que você achou da recepção do público e da crítica no Festival do Rio?
Sérgio Bianchi –
Boa. O filme está na fase de festivais. Primeiro no Festival do Rio e agora aqui na Mostra [de São Paulo]. No fundo, no fundo, é uma parcela [de público] de convidados: amigos, conhecidos da gente e pessoas mais próximas do cinema. A grande tristeza do cinema brasileiro é que quando você consegue exibir o filme para plateias mais diferenciadas, como a da classe média, da periferia, você vê que o povo brasileiro gosta muito do que a gente está falando, de como a gente está falando. E realmente o cinema agora é cinema de shopping, de classe média, de classe média-alta, dos blockbusters americanos. O cinema americano é ainda 90% do nosso espaço. Isso irrita muito. Desculpe falar, mas vocês, jornalistas e cinéfilos, não gostam de falar sobre isso. Isso se chama neocolonizados ou novos retardados, entendeu? Não gostam da realidade objetiva. A realidade objetiva existe: 90% dos espaços do cinema brasileiro e da televisão e de todo audiovisual é do cinema americano, americano, não, do cinema hollywoodiano, dos blockbusters.

Brasileiros – Por que a periferia se tornou o centro das atenções dos cineastas do sudeste?
Sérgio Bianchi –
Não tornou, não. São alguns filmes. Teve um ou dois filmes que fizeram muito sucesso, colocando a nossa particulariedade, do nosso tipo de violência. Filmes que são para você consumir a violência, o sangue e tal, que é o modelo americano, o modelo holywoodiano. Nós fazemos um [filme] com nossa roupagem, como nossa característica, o que virou o mercado internacional. O produto perfumado de acordo com a ideologia dominante. e aí virou moda e os colegas ficam tentando entrar na barca. Mas o gostoso do cinema brasileiro é que ele é completamente bem diversificado.

Brasileiro – Com quase oito anos do governo Lula, o país melhorou ou ainda é “cronicamente inviável”?
Sérgio Bianchi –
Cronicamente Inviável não foi sobre se o país piorou ou melhorou, pare com isso, amigo. É um filme sobre a inviabilidade. Agora, você quer me perguntar se eu sou da turma que está ganhando muito dinheiro na gestão do Lula, eu digo não. Não sou dessa turminha (risos). Não estou tirando toras no Amazonas (risos).


A cinebiografia de uma sanguinária
O filme vale pela curiosidade de conhecer a história da condessa Erszebet Bathony, que viveu nas terras altas da Hungria. Ela ficou para a história, entre mitos e verdades, como uma das mais perversas mulheres das cortes europeias. Elizabeth viveu entre o final do século XVI e início do XVII e ficou famosa por matar suas vítimas (a maioria mulheres camponesas que trabalhavam em seu castelo) com requintes de crueldade que deixaria qualquer serial killer no chinelo. Outra faceta dessa mulher era se banhar no sangue de suas vítimas para permanecer eternamente jovem. O diretor Juraj Jakubisko acerta a mão em vários requisitos, como a belíssima fotografia, cenários e figurino que nos reportam à época e ao ambiente mórbido do filme. Mas nem tudo é acerto e algumas das interpretações deixam a desejar e, muitas vezes, o filme fica pesado e disfuncional.

Bathony, de Juraj Jakubisko
FAAP. Dia 3, às 15h
Consulte outros dias e horários no site oficial da Mostra, abaixo


Estreia premiada
O título acima não se refere a prêmios que o filme Cabeça a Prêmio, do ator, e agora diretor, Marco Ricca, recebeu (e parece que até agora não ganhou nenhum), mas à sua promissora estreia como diretor. O seu longa, baseado no livro homônimo do escritor Marçal Aquino, conta a história do piloto de avião, Denis (o ator uruguaio Daniel Hendler), que trabalha para os irmãos fazendeiros, os Menezes (Fúlvio Stefanini e Otávio Muller), transportando drogas entre a Bolívia e o Centro-Oeste brasileiro. Denis se apaixona pela filha de um dos seus patrões, Eliane (Alice Braga) e eles decidem fugir e acusar o pai da moça. Nos seus rastros, o pai da moça, Mirão (Fúlvio Stefanini, vivendo o protagonista do filme) coloca dois capangas, Brito e Albano (Eduardo Moscovis e Cássio Gabus Mendes). Não esperem cenas mirabolantes e violências explícitas, como nos filmes de Beto Brant. Marco Ricca conduz todo o longa em uma espécie de anticlímax (uma das últimas cenas é uma das mais anticlímax da história do cinema nacional), entremeadas com belas imagens abertas da natureza. O diretor nos brinda com sutis histórias que não são concluídas e faz com que o espectador reflita sobre a trama.

Cabeça a Prêmio, de Juraj Jakubisko
Espaço Unibanco 3. Dia 3, às 18h50
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Cemitério dos Vivos
Não é meramente mais um filme sobre o holocausto, mais outra visão sobre uma vida que esse triste episódio (da Segunda Guerra Mundial e do nazismo) modificou para sempre. Em A Ressurreição de Adam, do diretor Paul Scharder, mais conhecido como roteirista de filmes de Martin Scorsese, tomamos contato com a vida de Adam Stein, vivido brilhantemente pelo ator Jeff Goldblum (quem se lembra do filme A Mosca, da década de 1980?), que escapou de um campo de concentração e hoje vive asilo no meio do deserto de Israel, com mais outros sobreviventes. Esses sobreviventes não conseguem mais se adaptar a vida lá fora, tragados pelos horrores vividos nos campos de concentração e “vegetam” como mundanos em espécie de “Cemitério dos Vivos”. Adam se apresenta como um artista de circo, fazendo mágicas e palhaçadas, mas sua vida é um retalho do que fora antes da guerra, uma vida ao lado de sua esposa e filhos (todos mortos nos campos de concentração). Em resumo, Adam vai vivendo como um zumbi. Mas, ao se encontrar com um garoto de 12 anos, sua vida vai mudar, assim como a do menino. Um belo filme sobre redenção e sobre ressurreição.

A Ressurreição de Adam, de Paul Scharder
Cine Bombril 1. Dia 4, às 22h
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Frequência em baixa
Foram os tempos em que assistir a algumas sessões da Mostra era um verdadeiro tormento. Em anos anteriores, muitas das sessões enchiam com mais frequência, não só os filmes mais badalados, mas outros também. Hoje, apenas algumas salas lotam, principalmente os filmes badalados. No final do evento, que vai acontecer na quinta-feira (5), quando iremos conhecer os vencedores, vamos poder saber as estatísticas da Mostra e realmente cravar se a frequência anda em baixa.

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