Olhe bem o desenho à direita. Assim poderia ser Brasília hoje. No lugar das superquadras, haveria edifícios em formato de grelha, com 80 andares, mais quatro pavimentos de ruas aéreas para pedestres e outros quatro para a infraestrutura. Que tal?
O projeto, desenvolvido em São Paulo por Rino Levi, Roberto Cerqueira César e Luiz Roberto Carvalho, dividiu o terceiro lugar, com o escritório carioca dos Irmãos Roberto, no concurso que decidiu quem, afinal, construiria Brasília. A disputa reuniu os maiores nomes do Urbanismo e Arquitetura no Brasil, incluindo João BatistaVilanova Artigas e Henrique Mindlin (que terminaram empatados na quinta colocação), e Boruch Milman (o segundo na classificação geral). Dos 62 escritórios inscritos em 1956, apenas 26 apresentaram, de fato, o projeto, seis meses depois. No final, sobraram sete. Contando o de Lucio Costa. A escolha coube a um júri de três profissionais estrangeiros, encabeçado pelo urbanista britânico William Holford.
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Essa história, e a devida análise contextualizada de cada um concorrentes finais, é contada em O Concurso de Brasília: Sete Projetos para uma Capital, livro de Milton Braga, em vias de lançamento, pela Cosac Naify. O autor tem 46 anos, é paulista, doutorado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (onde dá aulas) e debruçou-se sete anos na pesquisa, tema de sua tese de mestrado.
“Quando saiu o resultado do concurso, houve surpresa”, diz Braga. “Lucio Costa apresentou apenas os desenhos do Plano Piloto e um texto muito bem escrito, aliás, revisto por seu amigo Carlos Drummond de Andrade, enquanto outros arquitetos enviaram várias maquetes.” Na época, claro, especulou-se que Lucio teria sido favorecido, dada sua ligação de décadas com Niemeyer, amigo de JK. Braga rebate tais insinuações. “O projeto de Lucio era o melhor e o mais viável, como os principais concorrentes concordaram”, pondera Braga. “Além de adotar os preceitos de modernidade da época, Lucio incorporou referências de outras cidades, de Bolonha a Nova York. Foi um precursor do pós-moderno.”
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