As pistas que vêm da psicanálise

Igualdade, diferença e diversidade são três eixos que nos ajudam a entender a questão do preconceito. Para a psicanálise, essas palavras têm a ver com a reação no momento do encontro com o outro e o preconceito é a tentativa de anular o que é diferente. O encontro com o igual reafirma o sentimento de identidade, da consciência de pertencer a um grupo – sou do grupo dos brancos, por exemplo.

O amor ao idêntico é o pontapé inicial para odiarmos o que não se parece conosco. “Narciso acha feio o que não é espelho”, diz-nos Caetano Veloso. E é justamente no conceito de narcisismo, em sua carga de negação e de ódio à diferença, que vamos encontrar a raiz do preconceito.

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Para nos libertarmos do preconceito, temos de renunciar ao amor a nós mesmos – caso contrário, morreremos consumidos por nossa própria imagem. Narciso morre vítima de sua incapacidade de amar o diferente e, mais ainda, o diverso. Não ser igual ainda não é ser diferente. É preciso viver um processo em que se aceita a diferença sem perder a identidade.

Imaginar que se é possuidor de um atributo positivo daria o direito de depreciar ou perseguir aqueles que não o possuem. Na lógica da sexualidade infantil, existe um único sexo – aqueles que têm pênis. Os que não têm são os outros, temidos e odiados porque nos confrontam com a idéia de que podemos perder o que temos. Olhar para o que não é idêntico aterroriza.

O preconceituoso se mantém na lógica da sexualidade infantil. No entanto, é a partir de pensar a diferença que podemos aceitar a diversidade. Só a partir da vivência de se sentir incompleto – que, em psicanálise se chama “castração” – é que a diferença pode advir. Só haverá dois sexos para a psicanálise, homens e mulheres, quando a diferença se estabelecer.

O inconsciente trabalha na lógica da diversidade, na qual ser uma coisa não exclui a outra. Em vez de pensarmos na oposição homem-mulher, podemos pensar em termos de uma conjunção, o que nos permitiria ampliar o nível de tolerância com nós mesmos e com o próximo. Nesse caso, em vez de nos desestabilizarmos com a diferença, poderemos ter acesso a mais oportunidades.


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