“Assassinos em massa querem ser reconhecidos”

Diante do quarto ataque de atiradores em locais públicos em pouco mais de um mês nos Estados Unidos, a Brasileiros conversou com a criminologista e pesquisadora Ilana Casoy para tentar compreender o comportamento desses criminosos e por que esses casos tem se tornado cada vez mais comuns em uma sociedade que se posiciona frente ao mundo como a promotora da justiça e da segurança.

Confira a conversa.

Como é o perfil de atiradores que atacam civis em locais públicos?
Não vamos falar em perfil, vamos falar em comportamento criminoso. O assassino em massa é o que ataca o grupo que ele considera responsável pelos seus fracassos em uma explosão de violência. Em sua maioria são homens, aparentemente estáveis e que veem suas ambições frustradas. Como o assassino do cinema no Colorado, James Holmes, que não passou no doutorado e culpa outros pela sua derrota. E eles geralmente se sentem excluídos.

Depois dos assassinatos, muitos se matam, outros provocam sua morte enfrentando a polícia e alguns tentam a fuga. Estes, muitas vezes, antes de realizar os ataques, empregam técnicas como colocar bombas nos lugares onde podem ser procurados.

Quando ocorre um caso desses, as pessoas tendem a buscar explicações como a insanidade do criminoso. Pelo perfil que a senhora apresentou, a maioria desses assassinos não é doente mental.
Não dá pra ter um diagnostico psiquiátrico por comportamentos isolados. Precisa-se analisar o paciente. E entendê-lo como um doente mental é perigoso porque pode ser uma justificativa, um atenuante. É uma minoria que comete esse tipo de crime por insanidade.

Quais são, geralmente, os motivos que levam a esses crimes em massa, como podemos compreender esses criminosos?
Podemos estuda-los pelo motivo e pelo modus operandi, ou tipo de ação. Pelo modus operandi, tem os discípulos que seguem líderes, a quem querem agradar com os atos criminosos; tem os aniquiladores de família, que geralmente cometem suicídio depois; tem os pseudo-militares, que planejam o crime como no caso de Columbine, e tem os trabalhadores frustrados, que atacam os locais ou colegas de trabalho.

Pelos motivos, podemos separá-los pelos que matam por amor distorcido, que são os que reagem a ameaças ilusórias a quem amam; por ações políticas, por vingança, por execução de testemunhas de um crime ou em consequência de doença mental, que são uma minoria.

Por que nos Estados Unidos?
A violência é comum a todos os seres humanos. Mas, nos Estados Unidos existe essa cultura de andar armado, eles se protegem dessa forma. É um direito constitucional, inalienável. Eles têm facilidade do acesso a armas. É cultural. Depois do caso do cinema no Colorado, por exemplo, houve aumento de 43% no número de armas vendidas. Essa maneira de defesa não se ampara na realidade. Quem pode me dizer que se houvesse uma pessoa armada na plateia do cinema o número de mortes teria sido menor?

Em outros países, mesmo que haja a fantasia de cometer um crime como esse, as dificuldades de arranjar armamentos arrefece o impulso.

Por que tantos ataques em sequência. Um ataque pode estimular outros?
Geralmente o assassino quer passar uma mensagem, quer ser reconhecido. E, quando se noticia um crime, isso deve ser evitado. Às vezes ocorre um erro grave na mídia que é tentar colocar o assassino como uma vítima. Existe uma questão aí que precisa ser pensada. O assassino em massa não pode se tornar uma celebridade, não pode haver culto ao assassino. O que deve ser feito é estudar o comportamento para que essa análise traga elementos de prevenção.


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