A história do cinema guarda experiências curiosas que, em seu tempo, marcou por sua ousadia, inovação, transgressão e criatividade. Nem sempre, porém, esses filmes se fizeram notar no primeiro momento e acabaram esquecidos. O inusitado e inédito em DVD “O Solar das Almas Perdidas”, que a Versátil acaba de trazer para o Brasil, é um bom exemplo disso. Lançado em 1944, quando o mundo estava em guerra planetária, só nas últimas décadas passou a ser cultuado como um dos melhores filmes de fantasma de todos os tempos. Não se trata de uma produção de baixo orçamento, rústico e com trama e direção precários, feito para ser um caça-níquel. Pelo contrário, é um trabalho bem feito, ambicioso no sentido de tratar um tema pouco difundido pelo cinema na época e visto com reserva ou preconceito: o espiritismo.
Com direção de Lewis Allen, do clássico “Meu Ofício é Matar”, a produção tem no elenco o galã Ray Milland, que, pouco depois, depois sepultaria a reputação de ser canastrão, ao levar no ano seguinte o Oscar de melhor ator como um alcoólatra em “Farrapo Humano”, de Billy Wilder; e Ruth Hussey, de “Núpcias de Escândalo”, além de uma famosa trilha sonora de Victor Young (“Sansão e Dalila”). Na trama, os fantasmas de fato existem e reaparecem como almas atormentadas, que não conseguem se comunicar com os vivos, mas se manifestam com aterrorizantes choros de desespero. Almas, enfim, que não conseguem se libertar do mundo dos vivos, depois de morrerem de forma trágica. Nesse sentido, a história flerta com o policial, pois é preciso resolver o que aconteceu para que a partida para outro mundo se complete.
Os protagonistas são os jovens irmãos Roderick e Pamela Fitzgerald, solteiros e muito unidos, que se dão muito bem. Ele é músico e resolve fixar residência com a irmã, depois que compram uma mansão abandonada na costa da Inglaterra por um preço muito abaixo do mercado. Não demoram a descobrir o motivo. O que inicialmente parecia ser um ótimo negócio se torna um pesadelo, quando notam que o lugar é assombrado por espíritos, que haviam expulsado de medo os últimos moradores, anos antes. O lugar é belíssimo. Agora, porém, a história será diferente porque o casal tem coragem de sobra para enfrentá-los. Soma-se a isso a paixão que Roderick desenvolve pela jovem Stella, filha de um dos fantasmas e objeto de disputa entre eles, cujo desenlace pode ser sua morte, no penhasco próximo ao mar.
O tempo não envelheceu “O Solar das Almas Perdidas”. A trama é bem armada, exige atenção para ser devidamente compreendida, e convincente. Pode provocar alguns arrepios nas cenas finais, graças à atmosfera de suspense habilmente construída por Allen e, também, aos efeitos especiais para representar os mortos que teimam em viver no casarão. Historicamente, o filme renovou o gênero da casa mal assombrada, ao abordar com seriedade o sobrenatural. Esta Edição Especial traz a versão restaurada deste clássico espiritualista e quase uma hora de extras, incluindo uma análise do filme à luz do Espiritismo.
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