A sexta edição do Festival Aruanda do Audiovisual Brasileiro está comovendo a plateia presente por causa das homenagens dentro de sua programação. Na sábado (11), dois atores paraibanos receberam o Troféu Aruanda pelo Conjunto da Obra. A primeira não é conhecida do grande público, pois sua carreira ficou praticamente restrita ao estado natal, a Paraíba. Zezita Matos teve papel de maior destaque interpretando a mãe da protagonista do filme Um Céu de Suely, do diretor Karin Aïnouz.
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Como a maioria dos atores paraibanos que assentam sua carreira no teatro, e, por isso, ficam circunscritos no seu estado, Zezita tem uma longa carreira nos palcos, responsável por transformá-la em uma das mais brilhantes e fortes atrizes de sua geração.
Com mais de 50 anos de carreira e uma infinidade de trabalhos no teatro, ela ficou emocionada ao receber o Troféu Aruanda das mãos da jornalista Maria do Rosário Caetano. “Eu ficou muito gratificada em receber essa homenagem em vida, principalmente agora que estou em uma boa fase de minha carreira e trabalhando muito”, falou, em meio a muitos aplausos do público presente.
Outro ator paraibano que recebeu o Troféu Aruanda pelo Conjunto da Obra foi José Dumont, ou simplesmente Zé Dumont, que aos 60 anos de vida e mais de 35 de carreira, disse que ganhar um prêmio no seu estado tem um sabor muito especial. Em sua fala de agradecimento, Dumont tentou responder a indagação da jornalista Maria do Rosário Caetano, sobre a Paraíba ter produzido grandes atores e atrizes. “Tentando responder a sua pergunta, Rosário, acho que a Paraíba foi um celeiro de bons atores pela sua história. Um Estado que tem uma história tão rica, consequentemente produz bons artistas, em qualquer área. Temos muita história e isso reflete nas nossas artes”, respondeu, extremamente comovido. Seguem os principais trechos da entrevista que ele concedeu ao site da Brasileiros, com exclusividade, antes de sua homenagem.
Brasileiros – Sessenta anos de vida e mais de 35 de carreira. O que tudo isso representa para você?
José Dumont – Um sentimento de desejo realizado. Lembro-me de que quando saí de minha Belém, no interior da Paraíba, com uma mala na mão e poucas mudas de roupa, não podia imaginar aonde eu poderia chegar. Tinha muita vontade de trabalhar como ator para me realizar e poder dar uma condição mais digna para minha família. E toda essa trajetória foi em função disso, que agora sei que consegui realizar.
Brasileiros – Em uma entrevista recente, você disse que ainda estava buscando seu espaço na televisão. E disse que: “É difícil entender uma TV que não conhece a miscigenação do seu povo”. Sua carreira na televisão, diferente do cinema, foi prejudicada por conta das suas características físicas muito fortes?
J.D. – Acredito que sim. Mas acho que tantos anos insistindo, acho que acabei conseguindo uma certa mobilidade de papéis dentro da televisão. Estou muito feliz com o personagem que estou fazendo dentro da novela Ribeirão do Tempo, na Record. Claro que ainda a televisão não respeita a nossa miscigenação, precisamos ainda estabelecer esse respeito e essa conquista.
Brasileiros – O ator Lima Duarte, com seus traços fortes de caboclo mineiro, conseguiu romper com essa limitação imposta a atores com essa característica, não acha?
J.D. – Realmente, você citou um ator que conseguiu impor seu talento. Lima Duarte é um ator excepcional, que venceu por manter sua identidade, sem se descaracterizar.
Brasileiros – Foi difícil viver em uma cidade como São Paulo, sendo um exilado nordestino em busca de oportunidade? O que você fez para não virar suco (uma analogia ao filme que o projetou nacionalmente O Homem Que Virou Suco, de João Batista de Andrade, lançado em 1980)?
J.D. – Algumas vezes, tive de virar suco literalmente (risos). Como todo nordestino que vai em busca de uma vida melhor e mais justa, tive grandes dificuldades. Passei fome, frio, desprezo, solidão, mas tinha um porto seguro, que era o amor incondicional da minha família e a firmeza de caráter e ensinamento dos meus pais.
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