Avenida Brasil vai direto ao alvo: a classe C

“Acho que vou comprar umas cervejinhas na padaria para a gente assistir ao jogo”. Foi mais ou menos essa a frase dita por Adriana Esteves (Carmem Lúcia) numa cena crucial do primeiro capítulo de Avenida Brasil, novela das 21h que estreou ontem, dia 26, na TV Globo. A mensagem é clara, o alvo é graúdo: a emissora quer a adesão dos 54% da população brasileira, a indomável e, dependendo do produto, fiel classe C.

A produção caprichou na ênfase, afinal não há mais tempo nem tanto dinheiro assim para gastar com o telespectador errado: o enredo se apropriou de um bairro de periferia carioca com seus carros velhos, seus salões de beleza chinfrins, seus ídolos de grandeza controvertida. A ideia é embaralhar, muito mais que em Fina Estampa, conceitos, valores, méritos e pertencimentos. Nem todo rico é tão feliz ou inteligente assim por ter dinheiro, nem todo pobre é bonzinho, divertido ou merecedor de uma maior relevância social. As regras estão na mesa, a audiência vai decidir se entra ou não no jogo.

De cara, posso dizer que foi um primeiro capítulo que valeu um mês inteiro da novela antecessora. Do ponto de vista de diálogos, mise-en-scène, construção de personagens e atuação. Já é um avanço e tanto para quem chega do trabalho e liga a TV para se envolver em histórias contadas assim, por meses a fio. Não é de hoje que João Emanuel Carneiro revelou-se um craque nesse ofício, dificílimo, diga-se. Ele é particularmente mestre na brincadeira do esconde-revela, da inversão de expectativas e quebra de paradigmas sobre caráteres. Para ele, nem todo mocinho é ingênuo, nem todo vilão é raso, é Teresa Cristina (a personagem de HQ da história de Aguinaldo Silva).

Apesar disso, ele manteve alguns esqueletos: a protagonista vai se vingar e os meios vão justificar os fins, e você viu isso em A Favorita, sua novela anterior. Também vemos um casal de pilantras (Adriana Esteves e Marcelo Novaes) aprontando nesta como Patrícia Pillar e Murilo Benício na primeira. Por falar em atores, Adriana esteve espetacular na estreia e prova, mais uma vez, que virou uma grande atriz na maturidade. Murilo Benício pareceu mal escalado para o papel de atleta – está acima da idade e visivelmente acima do peso, ou é uma brincadeira com Ronaldo e Adriano?  A lamentar terem convidado Alexandre Borges – um bom ator – para viver o papel de mulherengo de sempre. Por fim, a pergunta: será que o kuduro, o ritmo da abertura, vai vingar no Brasil?

 


Comentários

Uma resposta para “Avenida Brasil vai direto ao alvo: a classe C”

  1. A NINA ESTA ACABANDO COM SI PROPIA

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