Caríssimos, se vocês nunca passaram pela experiência de levar seus sobrinhos para conhecer a tua balada favorita, não sabem o que estão perdendo. Já confessei aqui meus irremediáveis 44 anos, celebrados há dez dias. Sábado festejei novamente, dessa vez na melhor casa noturna de São Paulo, chamei cinco bons amigos, e tive a brilhante ideia de trazer também três sobrinhos, todos héteros, dois deles acompanhados por seus respectivos cônjuges, formavam todos um grupo fofíssimo. Pedi que chegassem cedo, para que pudessem admirar o local do crime do tio antes da chegada do rebanho, com suas carnes fracas e fartas à mostra. Não que os assustasse, são bem maiores de idade, mas com as pistas vazias eles puderam ver como é linda a minha balada, como eu realmente tenho razão de me orgulhar, e falar dela o tempo todo. Afinal, é lá que, uma vez por semana, eu deixo minha condição ignóbil para me tornar o Gui, carinhosamente recebido por todos. Sim, eu tenho cartão VIP, conquistado muitos anos antes de a casa abrir, e entro pelo tapete vermelho, sem nunca me esquecer de agradecer aos donos pela generosidade – noblesse oblige.
Eles ficaram impressionados com o que viram, e não podia ser diferente, meu playground é fantástico, a música de primeira, e a bebida bem servida. Cercados pela rica fauna das bibas paulistanas, eles tiveram a chance de confirmar o que eu lhes disse: casal hétero não é incomodado por ninguém na balada, poderiam até ter se jogado mais na pista que ninguém atacaria os meninos, gay sabe respeitar. Já o mais jovem, sozinho, porte de cavaleiro cruzado e olhos verdes, manteve-se um pouco assustado ao meu lado enquanto circulávamos por todo lado, inclusive na muvuca deliciosa da sala VIP, logo atrás do DJ. Passeamos pelo bar, e, salvo por um conhecido que já gravitava vários uísques acima da humanidade, ninguém o incomodou. Quer dizer, não se aproximaram, nem fizeram brincadeiras inconvenientes enquanto ele estava ao meu lado, mas foi só ele ir embora, afinal já tinha visto tudo, que o mundo caiu sobre meus ombros. “Então vai dizer que um menino lindo daqueles é sobrinho, inventa outra, biba!”. “Mas a sra. está com tudo…”. Naquela noite, meu curriculum vitae subiu uns 100 pontos no índice Dow Wedding, confesso que me diverti! Queridos, balada gay é absolutamente segura para héteros, podem crer. Já cansei de dizer isso por aqui, mas só experimentando vocês vão acreditar. Pois experimentem, mas levem os sobrinhos de vocês, pois os meus eu não empresto por nada nesse mundo. Abraços do Cavalcanti.
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