Antes de mais nada, uma correção: alertado por um leitor, descobri que estavam errados os números que publiquei aqui sobre quantos cigarros já fumei na vida até a última quarta-feira.
Nas minhas contas erradas, escrevi que, como fumei dois maços por dia durante 48 anos, o total dava 260 mil cigarros. O certo é bem mais do que isso: 691.200 cigarros fumados na vida.
Vai ver que este é um dos efeitos colaterais de parar de fumar: começamos a errar nas contas Mas, também, a esta altura do campeonato, isto não vai fazer a menor diferença. O estrago já está feito.
Vejam como é a vida, esta senhora que nos leva para onde ela quer, sem a gente programar ou pedir. Prometi na segunda-feira, no dia seguinte às eleições, que iria mudar o disco porque é muito chato ficar todo dia escrevendo sobre as mesmas coisas.
Pois agora, de novo, enganchei em outro assunto enguiçado, como diz o filósofo carioca Tutty Vasques. Gostaria de cuidar, nesta agradável, amena e clara manhã de sábado em São Paulo, de temas mais agradáveis, mas os leitores não deixam.
Vou ter que falar de novo do que o leitor Roberto Pegler definiu como “Diário da Tortura que é parar de fumar”. Desde que há três dias publiquei o primeiro texto neste Balaio sobre o tratamento que a Mara, minha mulher, e eu começamos a fazer na véspera para parar de fumar, já foram postados mais de 300 comentários com depoimentos que merecem ser lidos.
Li todos, coisa que raramente consigo fazer. Desde que este Balaio entrou no ar, faz um mes e meio, nunca vi um assunto gerar tamanha unanimidade e solidariedade dos leitores como este de largar de fumar.
Quem lê estes comentários e ainda fuma vai querer parar.
Quem lê e já parou nunca mais vai querer voltar.
Apareceu até um velho amigo, Antonio Lafayette Salles, meu colega de ginásio no Colégio Santa Cruz, lembrando que aprendemos a fumar juntos no caminho de volta da escola para casa. Ele conta que desde aquela época passou a fumar três maços de Lincoln (cigarro forte, sem filtro) por dia e quanto parou teve pesadelos, via aranhas no teto e queria subir nas paredes.
No meu caso, ainda não cheguei a tanto, mas quem quiser tentar pode saber que não será nada fácil. Enquanto escrevo este texto, já tomei um galão de água e fui várias vezes à área de serviço, onde antes ia fumar, sem ter mais nada para fazer lá
O que acho mais importante nesta troca de informações e opiniões entre os leitores é que um está pedindo ajuda ao outro e muitos se dispõem a colaborar. Átila Romero Vieira escreveu para o leitor Ataíde uma lição completa sobre como parar de fumar, que vale para todo mundo.
Eu mesmo deveria ter lido o Átila antes de iniciar o tratamento para ficar sabendo a diferença entre o vício, que é uma dependência física, e o hábito, uma dependência psicológica.
Não sei qual das duas é pior, mas agora não posso ter uma recaída, como escreveu outro leitor, que me chamou a atenção para a responsabilidade assumida ao tratar publicamente deste assunto.
O leitor Renato Bravo, que também tem 60 anos como eu, e também fuma (como eu fumava) dois maços por dia, duvida que eu consiga aguentar seis meses sem voltar ao cigarro. Ameaça até erguer uma estátua com meu nome no Ibirapuera para registrar a proeza
Os leitores que conseguiram parar falam da sensação de liberdade e de confiança em si mesmos, como Américo, 65 anos, da Bahia, que parou de fumar há 33, voltou a tocar seu sax, mas ainda não se considera um ex-fumante. Cada dia para ele é um novo desafio: não voltar a fumar.
De todos os comentários que li, o que mais me marcou foi o da leitora Jenifer, de Londres, que deixou de fumar há poucos dias quando viu seu filho de dois anos com um giz de cera entre os dedos “me imitando como se estivesse segurando um cigarro”.
No prefácio do último livro que publiquei (“Uma Vida Nova e Feliz”, Ediouro), o amigo Mario Prata escreveu: “Como me disse o seu editor (Quartim de Moraes), o livro, sem querer, é quase de auto-ajuda. Pois eu diria que é de alta ajuda”.
Sem querer, também, estes últimos dias aqui no Balaio parecem dar razão ao velho Pratinha. Internet, afinal, não precisa ser palco só de baixarias, agressões, depressões, debates escatológicos e outros micos – pode até ser útil para a vida das pessoas
Acabou a águaAgora vou desligar o computador para ir com a família ao clube. O dia está bonito, vocês já repararam?
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