Baravelli, o pintor notívago

Quem procurar por Luiz Paulo Baravelli durante o dia, pode desistir. Antes das 16 horas, ele ainda não saiu da cama. Tudo porque passou a noite inteira trabalhando. Eu mesma, depois de tanto anos que o conheço, ainda cometo esse engano. Parte da intimidade de seu ateliê está revelada em seu livro Luiz Paulo Baravelli comenta seu trabalho, uma biografia ilustrada por suas pinturas, que acompanha sua exposição na Galeria Sérgio Caribé.
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Compacta, mas abrangente, a mostra se resume a quinze trabalhos pontuais que dá conta do título Baravelli – trabalhos recentes e demonstram que ele continua pesquisando diferentes materiais e nos atualiza sobre sua produção desde a década de 1970. Seus temas recorrentes fazem emergir paisagens urbanas e nus, agora sob um ponto de vista menos intimista.

Baravelli trabalha intensa e seriamente com a questão da pintura e do desenho, simultaneamente. Dividido entre essas duas paixões, não deixa que uma sobrepuje a outra. Mas, afinal, qual a diferença que há entre as duas técnicas? Para ele, desenho é elemento técnico, uma espécie de construção mental. “Desenho é quando revela uma existência”. Para Baravelli, desenhar é um processo de filtrar, de eliminar o excesso. “Desenhar é ver de perto”, define.

E qual é a definição de pintar para esse artista que tem dedicado toda a sua vida à pintura? “É ver de longe. A pintura é premeditada, retórica, cultural.” Na sua maneira direta de dizer as coisas, revela que desenha para perceber e pinta para explicar. “O desenho é um instante da intimidade ao contrário a pintura é pública.”

Isso posto, sabemos que a pintura e o desenho na obra de Baravelli caminham juntos. Outro aspecto recorrente de sua produção são os recortes executados em madeira, que começam sempre por um projeto no papel, que nem sempre são definidos, de primeira. No decorrer do trabalho há surpresas e ele faz ajustes e improvisos.

Mas quais são os artistas que o influenciaram e que continuam influenciando? Baravelli registrada pelo menos 338 nomes de artistas, não só de artes plásticas, mas também do cinema e da literatura, sendo 43 deles brasileiros tão díspares como Wesley Duque Lee e Rebolo e a escritora Adélia Prado. Entre os estrangeiros, estão Giacometti e Alan Davis. Mapeado na cartografia da arte brasileira como um pesquisador das formas desde 1964, quando se iniciou no desenho com Wesley Duque Lee, Baravelli teve duas influências iniciais muito fortes: o mestre e a arquitetura, duas artérias vitais para seu trabalho. Ao longo do tempo, se abriu e digeriu tudo o que lhe interessava chegando ao movimento pop, que ele não abraçou logo no primeiro momento, mas depois reconsiderou alguns de seus aspectos.

O ritmo de trabalho de Baravelli, um pouco inusitado para um artista que vive em São Paulo, se resume em trabalhar toda a noite, com modelo vivo, com a qual ele diz ter uma relação delicada e fascinante. “A noite, no silêncio e isolamento do estúdio, duas pessoas, um metro uma da outra, generosamente se deixando olhar.” Para ele, essa presença física, de uma pessoas de verdade, é insubstituível.

Intimista, avesso às badalações, Baravelli continua sendo um artista que a qualquer momento pode surpreender. Como o faz agora.

BARAVELLI – TRABALHOS RECENTES
Onde: Galeria Sergio Caribé
Rua João Lourenço, 97 – Vila Nova Conceição
São Paulo (SP)
Data: até dia 20 de outubro
Horário: 2ª a 6ª feira, das 10 às 18 horas. Sábado, das 10 às 13 horas
Site: www.galeriasergiocaribe.com.br
Patrocínio: Banco BNP Paribas Brasil

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