Batuque jobiniano em templo erudito

Foto Mariannita Luzzati

Integrando a série Concertos Matinais, que apresenta atrações gratuitas de música erudita, aos domingos, na Sala São Paulo, o pianista Marcelo Bratke levou a plateia de quase 1,5 mil pessoas, que compareceu ontem, 30/9, ao templo da música erudita paulistana, a se conter para não demonstrar entusiasmo excessivo e quebrar protocolos. Dificuldade esta, imposta pela contagiante música executada por Bratke e os cinco jovens integrantes de sua Camerata Brasil, em mais uma apresentação do projeto itinerante Tom Jobim Plural.

Reunindo clássicos, como Samba do Avião, Garota de Ipanema, Dindi e Stone Flower, o repertório de Tom Jobim Plural e as releituras propostas por Bratke e sua Camerata Brasil são mesmo de tirar o fôlego. O grupo é formado por jovens que vieram de Vitória, Espírito Santo. Esbanjando excelência e sensibilidade, a Camerata Brasil é composta por Lucas Anizio (violino), Ariel da Silva Alves (flauta), Jean Michel de Freitas (clarinete), Lucas Oliveira dos Santos (violoncelo) e Leonardo Henrique Miranda de Paula (percussão), este último, o grande responsável por manter a plateia o tempo todo tendo impulsos difíceis de conter. Armado de uma série de instrumentos percussivos – pandeiro, ganzá, reco-reco, tumbadora, caixa e até cuíca –, Leonardo explicitou a cadência brasileiríssima de Jobim e, em alguns momentos, promoveu um verdadeiro batuque em templo erudito (com o apoio do próprio Bratke, que chegou a tocar tamborim). Tudo isso, em meio ao virtuosismo do pianista, mundialmente reconhecido como um dos maiores nomes do instrumento, a sofisticação melódica das composições e a beleza dos arranjos de cordas e sopros. Ponto alto do concerto, que levou a gritos de “bravíssimo” e “belo”, Wave, teve início com um inusitado arranjo de berimbau e acordes de piano que dialogam com o instrumento símbolo da capoeira e também com a melodia do célebre afro-samba de mesmo nome composto por Badden Powell e Vinicius de Moraes.

Idealizado pelo pianista (que em 2011 teve perfil publicado pela Brasileiros, leia aqui: http://www.revistabrasileiros.com.br/2011/07/04/todos-os-olhos/), em parceria com sua mulher, a artista plástica Mariannita Luzzati, autora de um belíssimo filme com imagens exuberantes do Brasil, exibido durante o concerto, com um cenário, Tom Jobim Plural é uma ode as influências do maestro carioca: a obsessão temática pela natureza, a influência pós-expressionista de Darius Milhaud, as interseções e diálogos entre modernidade e tradição legadas por Heitor Villa-Lobos. Ao apresentar-se ao público e introduzir o programa, Bratke reiterou os propósitos do projeto: “Este é um concerto multimídia, onde apresentamos um filme que dialoga com a música e exibe imagens da natureza, para pontuar as referências do Jobim, mas também celebramos aqui suas influências da música erudita, dos ritmos da cultura popular e do jazz. Tom Jobim Plural é uma espécie de fotografia da fisionomia das origens de Tom Jobim”.

O concerto já foi levado a outras seis capitais e cidades brasileiras, como Rio de Janeiro, Belém, Aracaju, São Luís e Itabira, terra natal do poeta Carlos Drummond de Andrade, em Minas Gerais, onde foi aberta a turnê nacional que totalizará dez apresentações até dezembro. Em janeiro de 2013, o pianista e a Camerata Brasil entrarão em estúdio para registrar o repertório de Tom Jobim Plural. Bratke viajou hoje, 1/10, para uma série de concertos em Nova York.

Confira as datas e locais das próximas apresentações de Tom Jobim Plural:

01/11 – Vitória Espírito (ES) – Theatro Carlos Gomes
18/11 – Belo Horizonte (MG) – Sesc Palladium
05/12 – Corumbá (MT) – Anfiteatro Alvaro Baruki

Veja vídeo do projeto Tom Jobim Plural



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