A 27a edição da Beatle Week, que aconteceu no Adelphi Hotel, na área central de Liverpool, Inglaterra, comemorou os 50 anos dos Beatles. O público, a maioria formada por fãs de 60, 70 anos, ficou eufórico e nem se importou que, no palco, quem tocava era uma banda cover brasileira.
Formada em 1992 em Vitória (ES), a Clube Big Beatles toca há 18 anos em Liverpool. Embora acostumada com o clima do evento, que neste ano aconteceu durante uma semana de agosto, busca elementos para diversificar o som. Para a atual edição, a banda contou com a participação do guitarrista Andreas Kisser, do Sepultura, que se tornou o primeiro brasileiro a ser homenageado no Muro da Fama do Cavern Club – local das primeiras aparições dos Beatles.
Mas eles não foram os únicos brasileiros a ter destaque no evento. Os músicos da Orquestra de Ouro Preto, Minas Gerais, mudaram o tempero da já manjada união entre rock e erudito – e causaram sensação. Outras três bandas nacionais também se apresentaram com vigor. “Cada grupo tem seu toque. Os suecos são certinhos e, por isso, seguem fielmente o som original. Os brasileiros sempre inventam algo. Os argentinos também têm feito apresentações criativas”, diz Bill Heckle, um dos donos do Cavern Club.
Ele dá de ombros para a teoria de que, passado meio século da formação da banda, a juventude já não quer mais saber das músicas do quarteto. “Falam isso há muito tempo, mas os números mostram que a cada ano se consome mais Beatles.”
Produtor musical e fundador da Big Beatles, Edu Henning tem lá suas dúvidas. “Se o festival quiser renovar, tem de trabalhar com os mais novos. É o que a gente vem fazendo no Espírito Santo”, afirma. “Não vejo isso aqui. Todos os anos, é quase sempre tudo igual.”
A receita da banda capixaba é o projeto Revolutions, que a cada dois meses visita uma cidade do Espírito Santo para mostrar no teatro infantil a história dos Beatles. “De 300 pessoas que assistem ao nosso trabalho, 80 são crianças com idades entre três e 13 anos. Estamos fazendo formação de plateia.”
O fato é que a semana musical no Adelphi não conseguiu subverter totalmente a ordem do tempo: as lembranças e sonhos voltaram ao passado. Mas a impressão que ficou foi que o festival só resiste porque os Beatles foram mesmo o máximo. Só que ficou nítido que o evento perde espaço para outros tipos de balada – indie, música eletrônica e baladinhas pop grudentas.
No Cavern Club
Tocar no lendário palco em que os Beatles se apresentaram é como um ritual de passagem para os covers. No Cavern Club, aberto em 1957 e reduto do British Rock, os inúmeros artistas anônimos se sentem um pouco como os “Meninos de Liverpool”. Por isso, tocar na casa é o maior pagamento que eles recebem, embora o palco seja minúsculo e o pub, relativamente quente. Isso sem falar que a acústica não é das melhores.
Heckle se recorda de um telefonema para exemplificar o que o Cavern se tornou. “Um dia, atendo o telefone e, do outro lado da linha, a pessoa me diz: ‘É o Bo’. E eu: ‘Que Bo?’. Era o Bo Diddley, dizendo que gostaria de tocar aqui. O lugar é emblemático”, conta ele, ao se referir ao cantor de blues norte-americano que se apresentou no local em 2001.
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