Beethoven, rock- and-roll e um ateu

Encontros inusitados
Tatiana Cavalcanty, jornalista, 28 anos e namorada do Mário José da Silva

“Bom, a minha história é a seguinte: sou doente, fanática e alucinada por uma pessoa que é o Beethoven. Ano passado, em fevereiro de 2007, viajei para a Alemanha e fiz questão de visitar Bonn, que foi a cidade em que ele nasceu. Depois fui para Viena para visitar o túmulo dele. Quando cheguei a Viena, pensei em fazer uma homenagem para o compositor (…), que era ouvir a ‘Nona Sinfonia: Ode to Joy’ em frente ao túmulo. Quando cheguei lá, meu mp3 quebrou e o plano foi pro brejo. (…) Estava emocionada e, de repente, olhei e tinha um senhor de uns 60 anos chorando copiosamente e ouvindo um walkman. Daí eu fui chegando perto e percebi que ele tinha tido a mesma idéia que eu. Ele estava ouvindo o ‘Quarto Movimento’ da ‘Nona Sinfonia’ de Beethoven (…)
Ao fim, viramos grandes amigos, fomos almoçar no centro de Viena. Ele me contou que era casado com uma escritora, mas eu não dei muita bola. Quando voltei pra São Paulo, quando ainda era permitido ter outdoor, o primeiro que vi foi aquele bem grande escrito: O Segredo. Eu falei: ‘Não acredito, eu viajei pela Europa com o marido da Honda Byrne e nem sabia’. É isso, eu acho que o Beethoven conseguiu ligar três histórias, o Beethoven, O Segredo e eu.”

Mário José da Silva, consultor de mercado, 40 anos
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“Sou migrante, vim pra São Paulo com pouco menos de 2 anos. (…) Eu nasci e cresci ouvindo rock-and-roll e o rock-and-roll me fez ler muito cedo. Meu desejo de ler, minha vontade de ler foi estimulada pelas letras. Como eu comecei a ler cedo e a prestar atenção nas letras de rock, com sua característica político-social forte, isso acabou me tornando uma pessoa interessada nos porquês. (…) Conheci a minha atual namorada através do Orkut, por causa de uma comunidade que falava de rock-and-roll. (…) Meu sonho hoje é ser feliz, mas ser feliz escrevendo. Eu quero imensamente escrever um livro em que eu possa falar para as pessoas
um pouco quem sou eu na forma de outros personagens. Esse é o meu sonho agora, além de querer constituir família.”

De Canto
Júlia Basso, historiadora, 24 anos

“O meu pai sempre foi ateu. (…) Quando ele me contou que tava doente e que era uma coisa séria, fiquei pensando na minha vida sem ele, sem aquele cara grande e engraçado, que gostava de fazer cócegas no meu joelho. Escrevi, então, um poema. Um dia, estávamos sentados os dois, e eu disse: ‘pai, escrevi uma poesia pra você, quer ouvir?’. Ele só levantou a sobrancelha, olhou pra mim e soltou um seco: ‘não’. Não? Poxa! Tá bom, né? Guardei comigo essas palavras por um ano. No dia em que ele morreu, olhei pro poema, dobrei e coloquei no bolso. No velório, um padre fez a cerimônia. (…) De repente, o padre começa: ‘o Walter, quando criança, era muito amoroso…’, e eu pensei: ‘meu, mas esse cara não conhecia meu pai, do que ele tá falando?’ Virei para minha mãe e disse: ‘mãe, eu tenho um poema’. (…) ‘Então lê.’ (…) Quando o padre terminou, a minha mãe virou e disse: ‘ó, a Júlia vai ler aqui uma poesia que ela fez’. (…) Quando terminei, todos me olhavam, mudos. E um grande amigo de meu pai quebrou o silêncio cantando: ‘Linda criança, tu não me sai da lembrança, meu coração não se cansa de sempre sempre te amar’. ‘As Pastorinhas’, uma música do Noel que o meu pai adorava. Todos começaram a cantar juntos e a sorrir. O padre ficou de canto, entregando os seus cartõezinhos de visita para aqueles que não sabiam cantar.”


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