Macalé com Maria Bethânia
Macalé com Maria Bethânia. Foto: Arquivo pessoal

Jards Macalé esteve por décadas na seara “mais falado do que ouvido”, mas passou a ser redescoberto por novos fãs a partir dos anos 2000, graças ao papel divisor da internet. Com a digitalização de sua discografia por colecionadores generosos – que disponibilizaram na rede álbuns essenciais, como Jards Macalé (1972), Aprender a Nadar (1974), Contrastes (1977) e Let’s Play That (1983) –, a obra do músico passou a ser mais difundida, a ponto de motivar, 40 anos depois, em 2012, o relançamento de seu primeiro álbum em LP, pela Polysom.

E o culto em torno do compositor e de suas idiossincrasias segue crescente. Em 2012, o cineasta Eryk Rocha, filho de Glauber, dedicou a ele o longa-metragem Macalé – documentário definido por Eryk como um “ensaio-poema-musical”. No final do mês de abril último, Macalé subiu ao palco do Theatro São Pedro, em Porto Alegre, acompanhado de seis jovens músicos, para gravar seu primeiro DVD ao vivo, com as participações de Zeca Baleiro, Thaís Gulin e o amigo Luiz Melodia.

Em dias de holofote, o “maldito” também é homenageado com uma grande exposição organizada pelo Itaú Cultural de São Paulo. Desde o dia 31 de maio, o piso térreo do prédio-sede da instituição está tomado pela Ocupação Jards Macalé. O autor de clássicos como Vapor Barato, Hotel das Estrelas e Movimento dos Barcos é o 18o personagem do projeto Ocupação, série de mostras que já prestou homenagem a, entre outros, Angeli, Mário de Andrade, Nelson Rodrigues, Paulo Leminski, Rogério Sganzerla e Cildo Meireles.

O músico quando jovem
O músico quando jovem. Foto: Arquivo pessoal

Nascido na zona norte do Rio de Janeiro, no bairro da Tijuca, Macalé foi batizado Jards Anet da Silva. Ganhou o apelido quando partiu com a família para Ipanema, na Zona Sul, aos 8 anos de idade, e por lá começou a disputar partidas de futebol com a molecada da vizinhança. Pela habilidade quase nula com a pelota, ganhou dos amigos a alcunha de Macalé, em alusão ao pior jogador do Botafogo à época.

Em 1963, em uma breve passagem do jovem baiano pelo Rio de Janeiro, tornou-se amigo de Caetano Veloso, um promissor aspirante a cantor e compositor. Dois anos depois, Macalé passou a dirigir os primeiros shows da irmã de “Caio” (como chamava Caetano), a cantora Maria Bethânia, recém-chegada ao Rio. Em 1966, o produtor Guilherme Araújo – à época empresário de Gal, Gil e Caetano – fez questão de ter Macalé em seu cast de artistas, para poder contar com seu talento musical em ações estratégicas, como a produção de shows na boate Cangaceiro. A partir dessas experiências embrionárias, Macalé escreveu sua própria história, sempre pautada por um sentido agudo de liberdade artística.

Essa trajetória, altiva, por vezes errante, está na Ocupação Macalé, por meio de cinco eixos curatoriais – Obra, Amor, Influências, Política e HQ (os quadrinhos de ação são uma das paixões do compositor) –, concebidos pelos núcleos de Música, Comunicação e Produção do Itaú Cultural. Fotos raras, cartas, objetos pessoais, cartazes, filmes caseiros, manuscritos de composições, entre outros itens, estão expostos. O percurso é percorrido com uma trilha sonora que costura diferentes períodos de produção do artista. A concepção visual da mostra foi criada por um fã ilustre, o escritor e desenhista Lourenço Mutarelli. 

OCUPAÇÃO JARDS MACALÉ
Itaú Cultural – Av. Paulista, 149, piso térreo. Até 6 de julho. De terça a sexta-feira, das 9h às 20h; sábados, domingos e feriados, das 11h às 20h


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