Biografias em foco na Flop

O Brasil não é, ainda, um país de leitores, mas, nos últimos anos, o número de eventos literários tem aumentado consideravelmente. Principalmente desde a primeira edição do Festival Literário Internacional de Parati (Flip), em 2003, vários outros eventos foram sendo organizados, como a Flap (espécie de brincadeira com a sigla Flip) e a Fliporto (Festival Literário Internacional de Porto de Galinhas), por exemplo. Na histórica cidade de Ouro Preto, em Minas Gerais, desde 2005 é realizado o Fórum das Letras de Ouro Preto (carinhosamente chamado de Flop), idealizado pela escritora Guiomar de Grammont e promovido pela Universidade Federal da cidade (UFOP).
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A edição do Flop deste ano teve início na quinta-feira (29) e vai até a segunda-feira (2 de novembro). O tema em destaque neste quinto ano do Fórum são as biografias, gênero literário que vem, como os eventos sobre literatura, ganhando maior fôlego no Brasil nos últimos anos.

Nos próximos dias, quem estiver ou vier a Ouro Preto poderá assistir a debates com participações de Ruy Castro, Fernando Morais e Humberto Werneck, para citar apenas alguns dos biógrafos presentes.

Crítica literária, as fronteiras entre ficção e jornalismo e as novas mídias também serão discutidos durante os próximos dias. Na abertura, ficção e realidade foram temas de duas das três mesas. Da primeira delas, mediada por Ovídio Poli Junior, participaram os escritores Ana Miranda, João Almino e o francês Stéphane Audeguy. Ana Miranda, autora dos romances Boca do inferno, Desmundo e Yuxin, entre outros, falou sobre como fatos e momentos de sua vida são determinantes na construção de suas obras. Almino, autor de uma tetralogia ambientada em Brasília (da qual o último volume é o romance O livro das emoções), fez reflexões muito interessantes sobre a mistura entre ficção e realidade, e proferiu frases dignas de reprodução, como “A verossimilhança é mais importante que a verdade” e “Usamos a ficção quando os outros gêneros não nos permite exprimir o que queremos exprimir”. Já Audeguy tem o mérito de ter escrito um romance histórico (O filho único) que tem como “personagem” o até então quase desconhecido irmão de Jean-Jacques Rousseau, citado apenas três vezes no livro Confissões, autobiografia do escritor e filósofo francês.

Na segunda mesa, mediada por José Carlos Reis, os autores convidados foram o português Rui Tavares e o também francês François Dosse – lembrando que este ano de 2009 é o Ano da França no Brasil. Tavares, mais discreto e comedido que Dosse – mas não menos pertinente -, falou sobre o que os biógrafos podem aprender com os ficcionistas: que o biografado não tem apenas um único “eu”. Assim como os personagens dos melhores livros de ficção, todos nós temos vários “eus”, que vão se transformando e sendo descobertos – por nós mesmos e pelos que nos cercam – ao longo de nossas vidas, e deu exemplos de escritores que, na sua opinião, mostraram toda essa diversidade de personalidades não apenas em seus livros, mas também em suas próprias vidas: Luigi Pirandello, Franz Kafka e Walt Whitman.

Dosse, que parece ser bastante inquieto – e isto é um elogio -, gesticulando muito, falou que há alguns anos houve o que ele chamou de “eclipse da biografia”, um tempo no qual, em suas palavras, “era melhor ser pianista num bordel” que ser biógrafo.

Tavares encerrou sua participação dizendo que, de certa forma, é impossível escrever uma biografia – e até mesmo uma autobiografia -, porque, involuntaria ou voluntariamente, certos fatos da vida de alguém permanecerão para sempre desconhecidos. E completou dizendo que, mesmo sendo “impossível”, não significa que não se deve tentar escrever biografias. Uma lição que deve ser aplicada não apenas nas obras biográficas, mas também na vida.

Site oficial do Flop 2009: www.forumdasletras.ufop.br


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