Blog do publicitário que virou moto-boy

Quem começou com isso foi o xará Noblat, decano dos blogueiros jornalistas, que sempre recomenda outros blogs aos leitores.

Também faço sugestões de vez em quando e hoje tenho a satisfação de apresentar a vocês Enrique Andres, um publicitário que virou moto-boy depois dos 60 e também escreve um blog:

http://motoboy1000.blogspot.com/

Dono de um texto muito bom, pedi que ele mesmo contasse a sua história de publicitário a moto-boy, quando o prefeito Gilberto Kassab implantou em São Paulo o Cidade Limpa e levou sua empresa à falência.

Abaixo seu relato:
Tive firma de Comunicação Visual durante os últimos 40 anos, a Artec Visual, sempre na Moóca.

Dava para sustentar cinco filhos, um bom carro, uma casa confortável.
Só que, depois da lei do Cidade Limpa, foi uma verdadeira catástrofe.
Tudo parou de repente. Tive que mudar com a família para uma casinha pequena no Brás, numa vila.
Pensei até conversar em com o prefeito sobre esse problema, mas quando vi o tratamento que ele deu a um colega de profissão, aquela agressão verbal ridícula num posto de saúde, que me doeu n´alma, pensei: eu, heim? Ir lá para ser agredido ou preso?
Ele teve uma decisão descomedida, radical. Foi muito insensível com o ramo publicitário.
Lembro que declarou friamente aos publicistas: -“Façam outra coisa ou mudem de cidade”.
Que chances caberiam para mim, por exemplo, com 66 anos? Recomeçar a vida como e aonde?

Pois bem. Este drama não foi vivido só por mim, umas trinta mil pessoas sofreram com isso.

Cada um tomou um rumo, eu fui tentar a vida como moto-boy.
Minhas três filhas suplicaram para que eu mudase de idéia.
Falei para elas que estava decidido, seria um guerreiro do asfalto.

Meus amigos estranharam esta mudança radical, aí expliquei:
-Gente, o status não enche a barriga. Eu tive uma profissão honesta toda a vida, agora ela está falida. Vou estudar agora?
Imagino que na próxima gestão, quem sabe com o PT na prefeitura daqui alguns anos, eles terão com certeza mais sensibilidade e consideração com os profissionais que ajudaram a erguer esta cidade. Um pouco mais de respeito.
O que posso mostrar aos meus filhos e netos hoje?
Que sou um ex-integrante de um clã proibido, dum time perdedor.
Passei de empresário conceituado a um insignificante moto-boy .
E confesso: o tratamento recebido dói mais do que os buracos nas ruas ou do que a falta de dinheiro no bolso.
Mesmo assim, procuro ser bom no que faço. Mantenho a minha dignidade e na resignação encontro a paz.

Se propaganda faz mal, que seria New York ou Las Vegas sem ela? Nada.
Bem, não precisa levar a sério tudo o que falo. A metade da minha vida é uma brincadeira. Em compensação, a outra é uma piada.

Sempe achei que levar a vida com humor não requer grande ciência e o resultado é ótimo. Nossa saúde que agradece.
Trabalho com público o dia inteiro, a vida toda. Não tem coisa que me deixa mais magoado do que ver uma cara fechada, sem assunto para conversas.
Tem muitas pessoas com falta de imaginação, de sensibilidade. Bem que diz o ditado chinês:
“Quem não sabe sorrir, não abre um negócio”.
Te passo uma frase interessante:
“É mais fácil acreditar do que pensar. Por isso tem tantos crentes e poucos pensadores”.
Acredito, entre outras coisas, que a vida de moto-boy nos deixa uma ensinança: olhar sempre para a frente, não reparar nos lados, confiar que tudo vai dar certo, prestar o máximo de atenção em tudo que se faz, ter reflexos rápidos e precisos.
Tudo isso estimula nossos sentidos, nos deixa mais atentos aos detalhes, formas, espaços, sombras, luzes.São poucas coisas, enfim, que nos dão uma lição e uma conduta de vida: ser práticos, objetivos e ter sempre fé, muita fé. E a confiança em Deus que tudo vai dar certo.
Estou à tuas ordens e muito agradecido pela oportunidade.

Recebe um abraço para ti e tua família que te cuida bem,
Enrique Andres


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