Nesta terça-feira, 22 de setembro, é realizado o Dia Mundial Sem Carro. Comemorada desde 1997, a data teve origem na França, mas a adesão no Brasil aconteceu somente em 2001, quando boa parte da população de 11 cidades do País decidiu deixar os carros na garagem. Segundo estudos recentes, de 60% a 80% da poluição atmosférica das grandes metrópoles vêm dos carros.
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A data não irá resolver o problema do trânsito e da poluição gerados pelo excesso de carros nas grandes cidades, mas serve para que haja uma conscientização, tanto da sociedade quanto das autoridades. Em 2007, a China, um dos países que mais emitem poluentes na atmosfera, resolveu dar o exemplo e passou uma semana inteira estimulando ao máximo o uso do transporte público, de bicicletas e também as caminhadas. O evento encerrou-se exatamente em 22 de setembro, com áreas verdes inauguradas em diversas cidades chinesas e proibição do tráfego para automóveis nas principais avenidas do país.
A ideia é válida, claro, mas e depois do 22 de setembro, como ficamos aqui no Brasil? O trânsito nas grandes metrópoles brasileiras está beirando o caos. São Paulo, a maior cidade da América Latina, registra recordes atrás de recordes de engarrafamento. O termo “hora do rush” não é mais usado, já que não existe mais um pico. Atualmente, em qualquer horário há ruas e avenidas paradas na capital paulista.
Dario Rais Lopes, ex-secretário de Transporte do Estado de São Paulo, falou sobre a importância da iniciativa. “A participação efetiva da sociedade é fundamental para resolvermos o problema”. Além da população fazer sua parte, Lopes ainda acha que o governo é o principal responsável por viabilizar recursos para a melhoria do problema. “A questão básica para resolver os problemas de mobilidade aqui em São Paulo ou em qualquer outro lugar é disponibilizar uma infraestrutura e um serviço de transporte coletivo em uma escala maior”, diz Lopes.
O ex-secretário ainda acredita que, apesar de o debate sobre a importância da ampliação do transporte público estar cada vez mais presente, algumas vezes fica em segundo plano. Ele cita a polêmica obra na Marginal Tietê, em São Paulo, já aprovada pelo governador do Estado, José Serra, com previsão para terminar no final de 2010.
“Uma discussão interessante está acontecendo sobre a questão da obra da Marginal. Ela é uma obra que privilegia o transporte individual. É importante se discutir se vale a pena ou não vale a pena, se você tem ou não a necessidade de se fazer uma obra daquela quando o importante é você fazer corredor de ônibus ou aumentar a infra-estrutura sobre trilhos”, aponta o ex-secretário.
A obra, orçada em R$ 1,3 bilhão, prevê a construção de uma nova pista em toda extensão dos 24,5 km, nos dois sentidos da Marginal, além de mais quatro pontes e três viadutos. Com o início das obras, em maio deste ano, as áreas verdes e permeáveis dos canteiros, que permitiam a absorção das águas das chuvas e auxiliavam para evitar enchentes, foram retiradas.
José Geraldo Baião, presidente da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Metrô (AEAMESP), também fez crítica à política que estimula o transporte individual. “Ao longo das últimas décadas isso foi estimulado, adotamos o modelo americano e nos distanciamos do europeu”, analisa. Baião enfatizou que a única saída para a caótica situação seria a integração total entre os diferentes tipos de transporte público, com um completando o outro, não concorrendo. “Até o crime é organizado, por que nós não podemos ser?”, indaga.
O presidente da AEAMESP tocou em outro ponto interessante: a falta de continuidade na nossa política. Um projeto é implementado e realizado por um diferente governo e não tem seu prosseguimento dado, o que causa desperdício absurdo de tempo e dinheiro. Para ele, é necessário que haja uma colaboração entre os políticos, sem vaidade entre os projetos deste ou daquele partido, além, é claro, de uma cobrança maior da sociedade. Baião ainda falou que o problema só será totalmente resolvido com um trabalho em longo prazo.
Porém, enquanto isso, a poluição corrói a camada de ozônio e o aquecimento global ataca o planeta feito um câncer maligno irreversível, de maneira lenta e letal. Muito já se falou sobre tecnologias de carros que não poluem, mas a verdade é que essa realidade está longe de ser alcançada. O mais correto a se fazer seria a boa e velha caminhada ou o uso de bicicletas. Mas aí, se esbarra em outro impasse. As autoridades ainda não tratam as bicicletas como um meio de transporte, somente como um lazer aos finais de semana.
Hoje, existem menos de 20 km de ciclovias em São Paulo, a maioria em condições precárias. Recentemente, foi inaugurada a Ciclofaixa Cidade de São Paulo. A faixa de 5 km liga apenas o Parque do Ibirapuera ao Parque do Povo (ambos na zona sul), funciona das 7 às 12 horas, aos domingos, portanto mais uma opção de lazer do que de locomoção.
Baião falou sobre o assunto e afirmou que transformar a bicicleta em um meio de transporte só será possível em São Paulo se houver um estímulo semelhante a lugares como Amsterdã, onde existem bicicletários e o trânsito integra as bicicletas. Ele contou que a experiência de bicicletários já está começando a ser feita na CPTM e em alguns metrôs, por exemplo.
Segundo a prefeitura de São Paulo, a população em breve vai ganhar uma ciclovia exclusiva de 20 km, ao longo da Marginal Pinheiros, ligando os Parques do Povo (zona sul) e Villa Lobos (zona oeste). A conclusão total das obras está prevista para o fim de 2010.
Várias são as iniciativas na cidade de São Paulo. Que o Dia Mundial Sem Carro sirva para provocar uma discussão na sociedade. Além das autoridades, nós podemos, como sociedade civil organizada, fazer a diferença. Boas caminhadas a todos neste 22 de setembro!
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