“Boa notícia não dá Ibope. Povo gosta de pão e circo”

Será verdade o que está no título deste post? Você concorda? O tema foi levantado pelo leitor Humberto, que se identifica aqui como Eureka, em comentário enviado às 18:16 de sexta-feira, a respeito de um texto que escrevi sobre o crescimento da produção de borracha no sul da Bahia e a mudança na vida de pequenos lavradores.

Escreveu ele: “Kotscho, boa notícia não dá ibope. O povo é cruel, gosta de pão e circo, leões comendo gente, gladiadores se matando, disso o povo gosta”.

Três minutos antes, às 18:13, meu velho amigo Ludenbergue Goes, do alto dos seus mais de 50 anos de carreira no jornalismo, já tinha enviado comentário na mesma linha:

“É isso aí, Ricardo, está comprovado: notícia boa não dá ibope”.

O desencanto destes leitores talvez tenha sido provocado pelo fato de que passei a sexta-feira em viagem e só pude fazer a liberação dos comentários do Balaio ao chegar em casa à noite.

No mesmo dia, outros comentaristas aqui do blog fizeram críticas à imprensa por não publicar as chamadas boas notícias, que também existem, limitando-se a encher suas páginas e telejornais com coisa ruim, que não falta.

De fato, tenho notado que a quantidade de comentários enviados quando trato em minhas viagens de temas mais amenos, falando de pessoas anônimas ou lugares ainda pouco explorados, que estão fazendo alguma coisa nova e boa, costuma ficar bem abaixo da média.

Acho que isto é próprio da natureza humana, tanto aqui como em qualquer outro lugar do mundo, onde os jornais populares, como os tablóides ingleses, sempre vendem mais do que os chamados jornais de prestígio.

Aqui mesmo no iG isto também acontece. As boas notícias merecem menos destaque na capa, chamada de home na internet, do que aquelas que tratam de escândalos, celebridades e aberrações.

Basta colocar no título do post o nome de alguma celebridade global que causa polêmica, como Faustão, Bial ou Galvão, que logo vem uma chuva de comentários, um dos indicadores de audiência na blogosfera. Meter o pau em políticos e governantes ou tratar da eterna guerra entre tucanos e petistas é outra receita que não tem erro.

Sempre me recusei a trilhar por este único indicador fornecido pela audiência, mesmo quando dirigi o telejornalismo de redes de televisão e trabalhei como repórter ou editor nas principais redações do país.

Claro que ninguém sobrevive sem bilheteria e nós precisamos atender ao gosto da freguesia, mas eu me acostumei a dar murro em ponta de faca e tratar de assuntos que não estão na mídia. Caso contrário, ficaria tudo sempre muito igual, quer dizer, muito chato. Basta ver os destaques nos diferentes portais: são sempre os mesmos.

Em razão da minha viagem ao sul da Bahia e dos temas tratados, sem falar de política, esta foi uma semana bem fraquinha aqui no Balaio, bem abaixo da média, como mostram os números do levantamento que faço todos os domingos sobre os assuntos mais comentados da semana:

Balaio

Censura do Estadão: 118

Lei Antifumo/Lei de Adoção: 55

Borracha na Bahia: 45

Folha

Crise no Senado: 248

Lei Antifumo: 113

Sarney: 111

Veja

César Cielo: 46

Fim da era Sarney: 32

Augusto Chagas: 27

Encontro dos leitores

Depois de criarem uma filial deste espaço no Google, o Boteco do Balaio, para bater papo sem moderação – acho que é a primeira vez que isto acontece na blogosfera – os leitores resolveram organizar um encontro nacional, em São Paulo, no próximo dia 11 de setembro, uma sexta-feira, para se conhecerem pessoalmente e comemorar comigo o primeiro aniversário do blog.

Por iniciativa de leitores assíduos, como o Enio Barroso Filho, que foi quem lançou a idéia no Boteco do Balaio, eles estão se mobilizando e pedem aos interessados para confirmar presença pelo e-mail jornalizta@gmail.com (jornalista aqui está com “z” mesmo porque foi criado pela minha colega Aliz). Segundo o Enio, já estão sendo organizadas delegações em vários Estados.

Jornalistas e assessores

Gostaria de meter meu bedelho na crítica ao livro “A imprensa e o dever da liberdade”, de Eugênio Bucci, publicada por Oscar Pilagallo na Folha desta sábado. Trata, entre outros temas, da velha discussão sobre o papel do assessor de imprensa, se ele pode ou não ser considerado jornalista.

Como se trata de dois colegas pelos quais tenho o maior respeito e o tema está sempre presente em debates e seminários que tratam de jornalismo, reproduzo trecho da crítica de Pilagallo para comentá-la mais abaixo.

“O autor também enfrenta o corporativismo ao criticar o Código de Ética da Federação Nacional dos Jornalistas, que “repousa sobre um conflito de interesses”, ao tratar ofícios diferentes, o do jornalista e o do assessor de imprensa, como se fossem um só, sem vetar ao profissional a possibilidade de estar, ao mesmo tempo, dos dois lados do balcão.

O problema é que eles têm clientes diferentes: o do assessor é a empresa que o contrata, o do jornalista é o cidadão. Seria necessário, portanto, defende Bucci, que se submetessem a códigos de ética específicos”.

Discordo. Por já ter trabalhado dos dois lados do balcão – um lado de cada vez, é importante registrar – posso falar da minha experiência para dizer que a frase acima é muito bonita, mas não corresponde à realidade em que vivemos.

Para mim, assessor de impresa é jornalista, sim, como qualquer outro porque o nosso cliente final é o mesmo: a sociedade. Prestamos um serviço ao público, qualquer que seja o cargo ou função, numa assessoria ou redação, e os limites da nossa liberdade são determinados pela empresa, governo ou instituição que nos contrata.

O resto depende da consciência, do caráter e da honestidade de cada profissional, independentemente do lado do balcão em que se encontre e de quem seja seu patrão no momento. Nunca será estabelecido por qualquer código, por melhor que ele seja.

Receita da felicidade

Comecei bem este domingo lendo a entrevista feita pelo Guilherme Barros com o empresário Abílio Diniz, do Pão de Açucar, publicada no caderno Dinheiro, da Folha, sob o título “Em bom momento, Diniz sugere receita da felicidade”.

Embora tenha saído no caderno de economia, a entrevista trata da vida e não de negócios. “Se você puder escolher uma coisa, escolha sempre ser feliz”, afirma o empresário de 72 anos, casado com uma mulher de 37, à espera do sexto filho dele.

O gancho é o site que o empresário lança amanhã: www.abiliodiniz.com.br. Dois anos atrás, por coincidência, lancei um livro, o 19º, com o título “Uma Vida Nova e Feliz”, pela Ediouro, que trata do mesmo assunto.

Pela amostra da entrevista, cuja leitura recomendo vivamente, acho que o site vem em boa hora para dar um pouco de alento na net a tantos leitores revoltados, deprimidos e sem esperança.

Zé Alencar nas bancas

Por falar em alento e esperança, vai para as bancas amanhã a nova edição da revista Brasileiros, trazendo uma entrevista exclusiva que Hélio Campos Mello, Nirlando Beirão e eu fizemos com o vice-presidente José Alencar.

É uma bela lição de vida e superação de dificuldades em que ele fala não apenas da sua luta contra o câncer, mas conta como se tornou empresário aos 18 anos, entrou para a política após os 60 e conheceu Lula em 2000, para se tornar o “vice-cara”, uma definição que ele mesmo se deu com bom humor.


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